Portugal, 25 de Outubro de 2011
A notícia do dia é o oitavo aniversário da inauguração do novo estádio do Benfica. Este acontecimento suscita-me algumas reflexões, tanto mais que a propaganda do Clube já se encarregou de passar a habitual mensagem de “honra e glória” a quem decidiu, construiu e geriu todo o processo, ou seja, à Direcção!
Algo deve ser acrescentado a esta propaganda para que se perceba melhor em que contexto foi construído o novo estádio.
A decisão da construção pelos vistos não foi de Mário Dias, como o Sr.º Vieira afirmou na última inauguração da Casa do Benfica da Marinha Grande, mas sim do Sr.º Vítor Santos (“Bibi”) que em entrevista à Maxim’s afirmou que, no dia seguinte à tomada de posse entrou no gabinete do Manuel Vilarinho e pôs-lhe em cima da mesa, a construção de um estádio novo!
Mário Dias? Vítor Santos? Confusos? Não, o Benfica deixou-se de trapalhadas com a saída de Vale e Azevedo.
A construção do novo estádio não foi nunca um assunto só, esteve sempre ligada ao financiamento da construção, onde desempenhava parte importante a venda dos terrenos ocupados pelo antigo estádio! Nessa altura o Sr.º Vítor Santos afiançava que pagava 100 contos por metro quadrado, os terrenos que Vale e Azevedo tinha vendido na base de 50 contos por metro quadrado. De que resultava um encaixe garantido de 8 milhões de contos para 80 mil metros quadrados vendidos. Tese defendida posteriormente quando Vítor Santos foi “corrido” do negócio com a entrada de Filipe Vieira na gestão do futebol.
O que eles não disseram foi que os 8 milhões de contos pressupunham um aumento de volumetria muito superior à permitida pelo PDM de Lisboa. Ou seja, eles conseguiam os 8 milhões de contos para uma volumetria de 160 mil metros quadrados construídos, e não para os 80 mil permitidos! Como é que faziam o milagre dos “pães”? Simples: João Soares era presidente da Câmara e candidato à re-eleição e o Benfica ajudava na propaganda da sua candidatura! Como fez quando Mário Dias e os jogadores Simão Sabrosa e Pedro Mantorras participaram numa acção de campanha difundida pelas televisões!
O raciocínio era simples: João Soares ganhava as eleições, alteravam-se os planos de ordenamento, o Benfica vendia por 8 milhões de contos, 160 mil metros quadrados em vez dos 80 mil, (ou seja, a 50 contos o metro quadrado!) e o Vale e Azevedo é que era o vigarista porque só tinha vendido a 50 contos os terrenos da Urbanização Sul!
João Soares perdeu as eleições (o futebol não ajudou os políticos) e Santana Lopes foi claro quando afirmou que a proposta apresentada pelo Benfica, violava o PDM. Logo os 8 milhões não estavam garantidos, porque só podendo construir metade, só estavam garantidos 4 milhões de contos. O estádio vacilou!
Dado o avançado da questão em termos de opinião pública e Euro2004, Santana Lopes deu um empurrão ao adquirir por cerca de 6 milhões de contos os tais 80 mil metros quadrados, oferecendo ao clube como compensação por terrenos anteriormente expropriados e nunca indemnizados, um terreno noutra zona de Lisboa onde seriam construídas habitações para jovens! Terrenos avaliados em cerca de 1,2 milhões de contos e que o Benfica logo vendeu também à EPUL!
Portanto dizer que o novo estádio foi um equipamento pensado para ajudar o Benfica num determinado projecto económico e desportivo, é uma falácia igual a tantas outras que nos têm sido vendidas nestes últimos 10 anos. O novo estádio do Benfica nasceu de um conjunto de equívocos, interesses e negociatas falhadas!
E hoje aí está. Pode ser lindo, pode ser moderno, pode ser funcional. Nada a dizer!
Apenas contesto o facto de que, se Vilarinho na campanha eleitoral incluísse a destruição da antiga catedral, perdia as eleições! E perdendo, Mourinho não era despedido, não ia dar títulos europeus ao FCP, o Benfica não teria permitido a ultrapassagem desportiva do FCP no plano europeu e o investimento que agora é canalizado para o novo estádio, seria canalizado para a equipa de futebol, aumentando as probabilidades de êxito desportivo!
O novo estádio é algo que alimenta o ego benfiquista mas que hipotecou o sucesso futebolístico! Em dia de festa, não devemos esquecer!