segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Sr.º Joaquim - parte I


Uma das minhas intenções principais aqui no blogue, é perceber como é que o Benfica evoluiu nos últimos 14 anos, quais os amigos e os inimigos do clube, e como estes foram mudando de campo ou condicionaram o poder democrático dos sócios do Benfica e por tabela, como condicionaram a gestão do clube que ainda hoje se repercute na perda do domínio futebolístico. A publicação da seguinte colecção de textos, visa tentar perceber alguma coisa desta problemática vasta e complexa. Os comentários que apareçam entre parêntesis e itálico, são da minha autoria e não pretendem desvirtuar o texto original.
O texto que se segue tem como objectivo ajudar a perceber como é que um modesto fiel de armazém de Penafiel se transformou num dos homens mais poderosos do nosso país. (Jorge Fiel, Expresso, 25 de Março de 2005).
Joaquim Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão Roseirinha, em Penafiel. Foi a fazer amigos e influenciar as pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social.
Nasceu em Penafiel, a 12 de Fevereiro de 1947, filho de Dona Lucinda, proprietária da Pensão Roseirinha, desprovido de qualquer jeito para o futebol - ao invés do que aconteceria com o seu irmão mais novo, António, que se revelou um predestinado. A prenda dele era outra. Trazia como equipamento de origem aquele sexto sentido que lhe permite adivinhar de que lado do pão está a manteiga.
No restaurante da mãe, cozinhava, servia à mesa e lavava pratos. Foi fiel de armazém antes de a tropa o levar para o Norte de Angola. Gostou dos ares da antiga colónia, onde regressou depois de regressar à vida civil. Tinha 23 anos e já era um popular comerciante de Luanda, dono de uma cervejaria e sapatarias, cómoda situação que teve de abandonar, num apressado retorno à metrópole, quando os três movimentos de libertação de Angola se envolveram numa sangrenta e prolongada guerra civil.
De volta ao Porto, o irmão deu-lhe uma mão, ajuda que ele mais tarde retribuiria, com juros, dando-lhe as duas. Vagabundeou por vários comércios – geriu um bar de “strip-tease” no Porto e uma charcutaria em Lisboa - até se instalar em definitivo na capital e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a meias com o irmão.
Vinte anos depois é rico (os clubes e SAD’s não), poderoso e tem os vícios correspondentes. Fuma dois ou três charutos cubanos por dia e bebe uísque Old Parr. Habita com a mulher, Irene, uma moradia em Bicesse, que tem as paredes decoradas com uma selecção ecléctica de nomes seguros da arte contemporânea portuguesa (Vieira da Silva, Medina e Pomar). O irmão, António, é obcecado por pintura, sendo o maior coleccionador privado de obras de Júlio Resende. Ele prefere os relógios, de todos os feitios, caros e baratos. É coleccionador compulsivo - tem-nos às centenas.
A não ser que tenha um pequeno-almoço madrugador marcado para as sete da manhã, no Tivoli, com o amigo e banqueiro Ricardo Salgado (presidente do BES) prefere deixar passar a hora de ponta na A5 antes de se aventurar em guiar para o escritório nas Laranjeiras, junto à Loja do Cidadão.
A sua maior especialidade é fazer amigos e cultivar relações, artes em que é um verdadeiro mestre, como se prova pelo facto de ter reunido Santana Lopes e José Sócrates em sua casa, quando fez 57 anos. Mal reparou que o golfe era um desporto magnífico para cultivar relações, não hesitou um segundo em comprar lições e encomendar um saco.
A relação estreita de amizade que mantém com o actual (isto foi escrito em 2005) primeiro-ministro remonta ao tempo em que Sócrates foi encarregado por Guterres da campanha para trazer o Euro 2004 para Portugal. Joaquim, cuja rede de influências no domínio do futebol não conhece fronteiras (o que também explica parcialmente o sucesso do FCP lá fora), deu uma preciosa ajuda nos bastidores, abrindo uma porta aqui, desbloqueando um apoio acolá, numa acção decisiva para a vitória final (os apoios pagam-se e neste caso o Sr.º Joaquim apareceu como “financiador” privado do processo. Não foi por acaso que estava ao lado de Madaíl quando a UEFA tornou pública a decisão de escolher Portugal para organizar o Euro2004 e que a decisão de comprar o grupo Lusomundo foi aprovada sem grandes polémicas, apesar da concentração de meios de comunicação social num só grupo económico). Sócrates não esquecerá nunca esses favores. (continua)

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