Portugal 27 de Janeiro de 2015
Estávamos tão contentes com a
derrota do FCP no Funchal, onde havíamos goleado há apenas 1 semana por 4-0,
estávamos tão embevecidos com a propaganda do “Benfica pode ganhar vantagem
histórica sobre o FCP” e eis que uma
derrota madrasta nos trouxe de volta à dura realidade.
Tal como quando derrotamos o FCP
no seu estádio por 2-0, também de seguida perdemos em casa com o Braga 2-1 e
fomos eliminados da Taça de Portugal, troféu de que éramos detentores. Tal como
no intervalo entre esses dois jogos, não
soubemos ser humildes e como tal perdemos outra vez. Num caso Jesus ficou a
dizer que a exibição frente ao Braga foi a melhor em casa esta época. Agora
ficou a dizer que podíamos ter resolvido o jogo na 1ª parte. Sim e não...
Jogar bem, resolver, é marcar golos e não coleccionar oportunidades. Se criamos oportunidades e não
marcamos, sendo o nosso ataque, o melhor da prova, se descontarmos os golos de
penalty ou em fora de jogo, então algo vai mal. Mas já sabemos como para Jorge
Jesus é importante jogar “bem”, fazer “pressão alta”, esmagar o adversário em
posse de bola, etc., mesmo que após 5 épocas completas se constate que há outros parâmetros que nos ajudam a
ganhar mais, a ser mais bem sucedidos. Que é o que importa...
Um dos parâmetros é a concentração
no trabalho que tem de se fazer. Antes da eliminação frente ao Braga na Taça,
tivemos o jantar de Natal, que prejudicou de sobremaneira esse objectivo. Agora
tivemos um conjunto de pequenas coisas que transmitindo-se de fora errada aos
jogadores, leva ao relaxamento e quebra de concentração, potenciando situações
de falta de eficácia como as que ocorreram ontem, e na eliminação frente ao
Braga.
Como alguns que me lêem ao longo
dos anos saberão, sou um fã racional de
Jorge Jesus e por defendê-lo de forma entusiasta, fui “corrido” (não me
choca ver isso assim) do blogue NovaGeraçãoBenfica. As “anedotas” que gerem o
blogue não toleravam as críticas que lhes devolvia quando criticavam Jorge
Jesus.
O que não quer dizer que concorde
com tudo que JJ faz, nem como a centralização do futebol na sua pessoa por
razões estratégicas de comunicação e mediatismo. JJ é uma pessoa limitada na
formação mas que aproveita a experiência da vida que já teve para superar os
teóricos que o contestam. A sua filosofia da “pastilha elástica” é
frequentemente mais poderosa do que muitos ensinamentos das teorias da
pedagogia e da comunicação. É uma pessoa
com valor e muita competência.
Mas quando abre a boca esquece
frequentemente que as suas palavras
podem ter um efeito estimulador ou dissuasor da ambição do jogador. Podem ter
um efeito de aumentar a concentração ou diminuí-la. Ora na antecâmara do
jogo com o Paços acho que JJ cometeu dois erros. Um foi quando afirmou que as
suas equipas jogam mais na 2ª volta e outra foi quando afirmou que gosta mais de
jogar depois dos adversários directos, o que também é criticável. Duas mensagens com o mesmo efeito: amolecer
o jogador. É que este acaba por ser levado a pensar que afinal está tudo
controlado porque jogamos mais na 2ª volta, mesmo não jogando, e que basta jogar
depois dos adversários para o jogo está ganho.
Em vez de apelar ao trabalho, em vez de apelar aos perigos da
desconcentração, em vez de alertar para o que ainda não está ganho, não, fez um
discurso de facilidades completamente o oposto do que faz falta nesta fase do campeonato. Nem
parece dele.
Até porque ambos os argumentos são
incorrectos. Primeiro, nas 5 épocas que fez no Benfica, JJ teve 3 anos em que na
2ª volta piorou os resultados da 1ª volta, e apenas 2 anos em que melhorou
esses resultados. Portanto estatisticamente
JJ faz piores resultados na 2ª volta. Segundo, dizer que gosta de jogar
depois dos adversários sabendo que perdeu 2 pontos com o Estoril numa 2ª feira,
acabando por perder a vantagem de 4 pontos sobre o FCP para apenas 2 com
deslocação ao estádio deles, enfim, ou é de quem anda distraído ou não sabe o
que anda a dizer.
Jesus desta vez falhou no discurso. Veremos se perdemos um simples jogo ou se
perdemos o campeonato, com todas as mensagens “positivas” (para eles) que
passamos para os rivais com esta derrota.