Portugal 26
de Agosto de 2014
Duas jornadas, 6 pontos, a
primeira vez que JJ começa o campeonato com 2 vitórias consecutivas, mas sem
querer parecer aquela imprensa que só vê o futebol do Benfica como um copo meio
cheio, isto não me tranquiliza
minimamente.
É evidente que é melhor ter 6 do
que 4 pontos, como no ano do título de 2010, ou 3 como no titulo da época
passada. Mas se percebermos que apenas melhoramos nos processos defensivos –
zero golos – e temos um ataque quase miserável com 3 golos, dois deles marcados
por defesas, acho que não é para estarmos tranquilos.
Contudo este cenário já era por
mim projectado quando escrevi o texto “Fim de uma era” referindo-me à venda ao
desbarato de Cardozo, o melhor avançado estrangeiro que alguma vez actuou pelo
Benfica. Era previsível que sem a muleta
de Cardozo, Lima se revelasse o jogador mediano que sempre foi. E posto
isto, sem um avançado que marque golos, é muito mais difícil ser campeão.
Não é preciso ler muito sobre este
tipo de assuntos, basta fazer comparações. Com Cardozo (1822 mn, 17 golos) Lima
(2397 mn) marcou 20 golos na época 2012/13. Com Rodrigo , Lima (2428 mn)
marcou 14 (Rodrigo com
1857 mn marcou 11, Cardozo jogou 731 mn e marcou 7 golos) na época 2013/14! Não ver isto e andar de fato e gravata a
fazer de conta que se está a pensar uma equipa cada vez mais forte, é pura
farsa...
Os números nunca podem ser ignorados no planeamento futebolístico. Porque os números comparam-se e as opiniões não. Ora no Benfica
prevalecia a ideia que Cardozo era lento, não se mexia, não corria, etc,
seguindo um padrão de apreciação que faz escola no nosso clube, sem que ninguém
com responsabilidades a contrarie. Neste padrão de apreciação dominante, o que
interessa é a velocidade, característica que se vê mas que nem sempre se
percebe. Enquanto os que não actuam de acordo com esse padrão da velocidade,
são mal considerados e até assobiados (!?).
Não há dúvidas: mesmo com uma
época sofrível (7 golos), Cardozo marcou
metade dos golos de Lima, que jogou mais do triplo dos minutos....
Para perceber o futebol de
jogadores como Cardozo, teremos de deixar os preconceitos de lado e observar
que a sua movimentação era essencialmente baseada no melhor posicionamento. O
seu jogo era um jogo de inteligência e não de corrida. Talvez por isso fosse
difícil de apreender pela esmagadora maioria dos adeptos.
Como escrevi, virou-se uma página
e agora voltamos aos tempos do “quase
marcávamos” e das “oportunidades desperdiçadas”.
Sem querer pôr-me em bicos de pés,
penso que Jesus não está a perceber bem o
problema que tem, com um ataque baseado em avançados móveis. Se eles precisam de correr para tirarem partido da sua velocidade e
técnica, a melhor solução de jogo passa por contrair a história do Benfica, do
“vamos para cima deles logo desde o inicio” como os fundamentalistas defendem.
Porque indo para cima deles, aumenta-se a densidade de jogadores no
último terço do terreno adversário e os avançados não têm linhas de passe para
poderem correr atrás da bola. E como não são jogadores posicionais, ou são
medianos a trocar a bola em baixas velocidades, não tiramos partido deles. Para
eles terem linhas de passe que possam aproveitar, precisamos de puxar o nosso jogo atrás, descomprimindo o último terço
do campo adversário. Para isso precisamos de um 6 dito “puro”, como Fejsa
por exemplo. Ou um adaptado, quando, como é o caso, Fejsa está lesionado.
Mas como disse, isto seria
contrariar a tradição do Benfica, E assim continuamos
a fazer como as galinhas que perante uma vedação andam de um lado para o outro
e não a sabem contornar.
Paços de Ferreira e Boavista são
exemplos de como o nosso sistema de jogo com tantas “experiências”
e goleadas sofridas durante a pré temporada, é um equívoco que contraria as
leis da física e os princípios da optimização dos recursos.
Dizem que o futebol é paixão.
Será, será. Mas nada impede que se
procure pensá-lo racionalmente, mesmo que com isso se tirem conclusões que
vão contra o futebol visto pelo lado da paixão e da tradição.