Portugal, 14 de Novembro de 2011
“A Benfica SAD apresentou as contas consolidadas da época 2010/2011. Com todo o respeito e sem qualquer laivo de subserviência, são um prodígio”. Pragal Colaço, jornal O BENFICA de 4 de Novembro.
As contas do Benfica, como as contas do País, como as contas do que nos é querido, interessam-nos de sobremaneira. No Benfica acresce um interesse redobrado porque a criação do Grupo Empresarial Benfica abriu profundas “brechas” na democracia do clube, com a rejeição (por via de providência cautelar somada às eleições do trunfo Jardel e abraço do Eusébio), da votação do modelo de SAD aprovado na maior Assembleia-geral de que há registo num clube de futebol, em Fevereiro de 2000. E porque o novo Grupo Empresarial foi promovido como a solução mais correcta e adequada à exploração da marca Benfica.
Como alguns devem estar lembrados, nessa Assembleia-geral de, creio, 21 de Fevereiro de 2001, os protagonistas não foram a Direcção do Clube, mas sim os representantes do BES, Banco Espírito Santo. Começava aí a dependência do Clube aos interesses exteriores, e começava aí uma antipatia natural que tenho com o BES e que hoje ainda dura, pois nunca investi um cêntimo nas suas campanhas disto e daquilo.
Mais difícil será lembrarem-se que a equipa de futebol, já sob comando de Toni, fez uma série de 6 vitórias consecutivas, situando-se nessa data em 2º lugar a 2 pontos do Boavista. Aprovado o Grupo Empresarial num sábado, o Benfica empatou 0-0 com o Boavista no domingo e daí até ao fim, foi sempre a cair. Nas jornadas em falta passamos de um 2º lugar a 2 pontos do 1º para 6º lugar a mais de 20 pontos do 1º lugar. As coincidências do nosso futebol...
Ora a problemática das contas do Benfica é por todas estas razões, demasiado importante para lermos o que pessoas “não subservientes” têm para nos dizer. Até porque também sabemos ler e analisar alguns aspectos das Contas do Clube.
Pegando nos quadros que o Dr.º Colaço entendeu dar destaque, verifica-se o seguinte nos últimos 3 exercícios: os resultados líquidos, os que de facto interessam, foram de –34,856 milhões, -18,998 milhões e –7,663 milhões! Ou seja, as virtudes deste Grupo Empresarial estão aqui bem expressas: ao fim de 10 anos, obtivemos um conjunto de 3 resultados negativos que no total somam mais 61 milhões de euros! Imagine-se que era a gestão do Dr.º Vale e Azevedo a registar estes prejuízos assustadores e seguramente que, sem qualquer laivo de subserviência, o Dr.º Pragal Colaço tiraria outras conclusões. Não no jornal O BENFICA, mas talvez no jornal O JOGO.
Haverá alguma probabilidade do próximo exercício ser positivo? Não tenho muitos conhecimentos de contabilidade, mas afigura-se-me que não. E porquê? Porque as receitas operacionais estão estabilizadas e só podem crescer com uma “super época” do Benfica na Champions, os critérios de natureza contabilística se mantém e os custos financeiros que foram de 11 milhões no exercício anterior (antes da inclusão da Benfica Estádio), também. Note-se que apenas estou a analisar a questão da SAD (só futebol) e não a do Consolidado da SAD (que inclui entre outras, a Benfica Estádio). O que quer dizer que no próximo exercício, se o futebol não chegar às meias-finais da Champions, mais milhão menos milhão, o Benfica SAD vai voltar a ter resultados líquidos negativos.
O único prodígio que vejo nisto tudo, é a mediocridade prodigiosa que reina no nosso clube, e a facilidade como se criam cenários de engano para sócios e adeptos, com o clube a afundar-se a todos os níveis: mais endividamento bancário, menos títulos desportivos.
A esta irracional e errática fuga para a frente, quer da Direcção quer dos analistas seus apoiantes, os Bancos fecharam a “torneira”. E finalmente o Sr.º Vieira, forçado pelas circunstâncias, já fala (pudera) em ter mais jogadores portugueses na equipa principal. 10 anos depois, com apenas 2 títulos de campeões nacionais de futebol e uma divida bancária, que só na SAD atinge os 157 milhões de euros, estamos prestes a regressar ao ponto de origem. Só que com menos património, e mais instituições e firmas (Bancos e Olivedesportos) a lucrarem com o dinheiro que os sócios e adeptos metem no clube.
Valha-nos que já esgotaram a cassete “Vale e Azevedo”. Agora a cassete é a “crise mundial”.
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