quarta-feira, 20 de março de 2013

Sol na eira, chuva no nabal...



Portugal, 20 de Março de 2013



Aqui na minha terra quando queremos ilustrar duas situações impossíveis de realizar em simultâneo, dizemos “queres sol na eira e chuva no nabal”. De facto, o sol fazia falta no verão, quando se batia o trigo nas eiras para depois transformar em farinha nos antigos moinhos, a chuva faz falta no Outono e Inverno quando o naval dos tubérculos dos nabos cresce para originar os saborosos grelos que acompanham os enchidos grelhados que se fazem por aqui.


Vem isto a propósito da actual situação desportiva da equipa de futebol, onde a propósito dos 4 pontos de avanço (algo que era impensável para muitos teóricos do nosso futebol, incluindo bloguistas), já se desenvolvem algumas teses sobre como escalar a equipa daqui em diante, de modo a maximizar a colheita, ou seja, de modo a ganhar todas as competições em que ainda estamos envolvidos.


Vou ilustrar esta questão, e uma vez mais, com José Augusto que na Benfica TV já disse como é que Jesus tem de fazer. Não foi bem assim, mas ao concordar efusivamente com Jesus quando este afirmou “meter a carne toda no assador”, José Augusto comprometeu-se com a opção de meter sempre o que é considerado o melhor 11 base da equipa. 


Deixem-me abrir um parêntesis para explicar que nada me move contra José Augusto, bem pelo contrário. Mais do que ser uma velha glória do Benfica, símbolo vivo de outros tempos gloriosos a nível europeu, José Augusto apoiou, tal como eu, a candidatura de João Vale e Azevedo na derrota de Novembro de 2000. Foi corajoso e coerente com o que sabia do clube e do que valia a lista rival. Hoje foi cooptado para transmitir a mística desses tempos, e eu acho bem, todos somos poucos para construir um Benfica melhor.


A minha insistência com o seu nome, quando faço certas criticas a uma certa forma de ver futebol, prende-se com o facto de ele ser uma referência e porque está sempre na Benfica TV nos pós jogos. Se fosse outro, certamente falaria de outra pessoa, caso essa pessoa pensasse de forma igual (já não cito o Pedro Valido, e não é por acaso).


Ora porque razão estou aqui a falar de sol na eira e chuva no nabal? Porque nesta fase crítica da época desportiva, tenho lido muita gente a defender que Jesus está a fazer má gestão, quando ganha sem nota artística (casos recentes de Aveiro e Bordéus na Luz), e tenho lido também muita gente a defender a utilização sistemática do onze base que melhores espectáculos tem garantido, com vitórias seguras (por regra) e com alguma nota artística (casos recentes de Gil Vicente na Luz, Bordéus e Guimarães fora de portas).


Vamos por partes. No ano passado, por estas alturas o Benfica estava a perder 5 pontos em Guimarães e Coimbra, para logo de seguida perdia mais 3 no confronto directo com o FCP. De uma situação de + 5 pontos, passamos para uma situação de – 3 pontos. Qual foi a leitura que os teóricos amnésicos fizeram na altura, para explicar essa “súbita” queda de produção? Lembram-se? Eu lembro: 1) Jesus arrasa com os jogadores nos treinos, 2) o modelo de jogo de Jesus obriga a um vaivém permanente o que desgasta os jogadores, facto acentuado com o progredir da época, 3) Jesus não sabe gerir o plantel.


Mais coisa, menos coisa, andava à volta disto.


Ora passado um simples aninho, e quando vemos JJ dar mais minutos a alguns jogadores, sempre na perspectiva de minimizar os minutos jogados até final da época, o que vemos? “Ah e tal, a equipa não está a jogar nada”. Ou seja, agora que vamos ganhando, o que conta é a nota artística. No ano passado que tivemos nota artística, pelo menos em Coimbra (massacre total) e em casa com o FCP, já o problema era de falta de gestão.


Isto também defendeu José Augusto nos pós jogos do Benfica, nessa época, ao passo que esta época defende a utilização do mesmo onze base nas três frentes que estamos a disputar. José Augusto não é uma pessoa qualquer, por isso para mim, vejo através dele, uma situação grave de falta de cultura desportiva. E de falta de memória, que só agrava ainda mais o problema da falta de cultura.


Vamos ser francos. JJ utiliza os mesmos modelos de jogo que utilizou no ano passado. O 4-4-2 em losango nos jogos em casa e na maior parte dos jogos fora. O 4-2-3-1 em alguns jogos mais difíceis como foram os jogos da Champions (Celtic fora e Barcelona duas vezes) e na Liga Europa (Leverkusen duas vezes, Bordéus fora). Os treinos seguramente serão dados da mesma maneira. O desgaste dos jogadores será pois o mesmo.


Mas esta época em alguns jogos, JJ quis proteger alguns jogadores, a equipa perdeu nota artística mas ganhamos. E que vimos? Criticas e assobios. 

Há alguma coisa de errado aqui. E seguramente não sou eu. Nem JJ.

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