sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Os "erros" de Jesus - parte I



Portugal, 31 de Janeiro de 2014

Ando há uns tempos para escrever umas notas sobre os famigerados “erros” de Jesus que foram responsáveis pelo total fracasso da época passada, segundo a maioria dos entendidos do “futebolês”, incluindo muita gente do Benfica, desde os notavelmente conhecidos da comunicação social, ao simples adepto de blogue, fórum ou comentarista nos onlines desportivos.
Estiveram em causa essencialmente 3 jogos: FCP-Benfica, Benfica-Guimarães e Chelsea-Benfica, que não foram jogados por esta ordem.
No FCP 2 – Benfica 1, as equipas alinharam, levaram amarelos e fizeram substituições, como se segue:
Benfica: Artur (amarelo mn 85), Luisão, Maxi, Garay, André Almeida, Salvio, Gaitan, Enzo Peres (amarelo mn 46), Matic (amarelo mn 59), Ola Jonh, Lima.
FCP: Helton (amarelo mn 90+3), Danilo, Mangala, Otamendi, Alex Sandro, Varela, Fernando (amarelo mn 66), Moutinho, Lucho e James (amarelo mn 56), Jackson.
Substituições Benfica: (1) aos 66 mn sai Gaitan e entra Roderick; (2) aos 73 mn sai Lima e entra Cardozo; (5) aos 84 mn sai Ola Jonh e entra Aimar.
Substituições FCP: (2) aos 73 mn sai Fernando e entra Defour; (4) aos 78 mn sai Lucho e entra Kelvin; (5) aos 84 mn sai Danilo e entra Liedson.
A) como se pode ver, a equipa que precisava de ganhar, o FCP, alinhou só com 1 ponta de lança. Mas nos dias seguintes e ainda hoje, Jesus levou (e leva) com o rótulo de “ter medo quando joga com o FCP”. B) o Benfica foi a 1ª equipa a mexer, reordenando o meio campo com entrada de Roderick para os processos defensivos e subida de Matic para processos ofensivos, compensando saída Gaitan, mantendo Ola Jonh e Salvio nas alas. Gaitan estava a jogar atrás do ponta de lança, Enzo deve ter ocupado esse lugar. C) Apesar de precisar de ganhar e estar empatado, na 1ª substituição, o FCP trocou de médios, Fernando por Defour aos 73 mn. No Benfica isso seria entendido como uma troca com rótulo: “não arriscou”. Jesus respondeu trocando de pontas de lança, substituindo o móvel Lima pelo posicional Cardozo, de forma – pelo menos assim interpreto – a segurar as movimentações ofensivas dos defesas centrais do FCP. Que por sua vez obrigou a maior cuidado defensivo dos médios. D) a 12 mn do final, o FCP que precisava de ganhar, fez finalmente uma substituição “arriscada”. Tirou um médio mais criativo Lucho e meteu um ala rápido Kelvin. Objectivo: pressionar a defesa do Benfica pela frescura do substituto. Mas ao perder um médio de qualidade, que pautava o seu jogo, o FCP corria o risco de jogar atabalhoadamente, tanto mais que não tinha Fernando o único trinco que sabe fazer bem de pêndulo defesa/ataque. E) a 6 mn do final do tempo regulamentar, e com o Benfica com o jogo  claramente controlado, o FCP fez uma substituição de desespero, tirando Danilo (defesa esquerdo) e metendo Liedson (avançado móvel). Em simultâneo Jesus tirou Ola Jonh (médio ala) e meteu Aimar, médio criativo. 7 mn depois, com a equipa do Benfica subida no terreno, há uma perda de bola, o FCP faz um rápido contra ataque e mete o golo que tornou Kelvin famoso.
A explicação para mim, é pois bastante simples. Não foi Roderick que falhou, pois ele apenas foi “dobrar” um colega que estava mal posicionado (em movimento de ataque). O lance acontece pelo balanceamento ofensivo que a entrada de Aimar provocou! Aimar não podia ter entrado naquele momento, excepto se Jesus ainda quisesse ganhar o jogo, pois toda a gente sabe que Aimar dá qualidade à posse de bola e é quase zero a defender sem bola. Com o FCP a meter médios e avançados, por troca com médios e defesas, com o FCP a refrescar o ataque e a ampliá-lo, o Benfica deveria ter apostado no músculo do controlo e contenção, e não na técnica do ataque. JJ quis ganhar o jogo. Perdeu-o. Foi medroso, como disseram? Não! Foi atrevido, como é apanágio da cultura de papagaio que faz moda recente no clube, privilegiando o jogar bem e marcar muitos, em detrimento dos objectivos, que é empatar quando é preciso empatar, arriscar quando for preciso ganhar.
Isto claro está, se não se quiser perceber que antes disso, o FCP chegou ao jogo decisivo com demasiados pontos para o futebol que praticava. E que sabemos, tal como agora no mn 94 da Taça da Liga, se deveu a um conjunto de erros habituais e de manual, por parte da generalidade dos árbitros. “Erros” tolerados e incentivados por quem manda na arbitragem, por quem escolhe e avalia os árbitros, por quem lhes dá jogos ou não. Isto é, quem lhes dá ou tira 1200 euros por uma tarde de domingo (fora as ajudas de custo)!
Não querendo ir pela arbitragem, temos de olhar para dentro, para a nossa cultura, para quem por actos e afirmações quer ser o que mais ninguém é. Temos um défice de humildade tremendo e frequentemente pagamos caro. A época 2012/2013 ficará na história do clube/SAD pelas piores razões. Mas não podemos esquecer que também fizemos parte disso.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Taça que ninguém ligava ...



Portugal, 29 de Janeiro de 2014

Tenho acompanhado um pouco à distância, esta polémica que envolve o SCP e a Liga de Clubes, a propósito de mais uma eliminação de uma competição que ainda podiam ganhar. A polémica envolve afirmações bombásticas de dirigentes e ex- dirigentes do SCP, uns falando em “jogo sujo” outros em “canalha”, e até já se deu o caso de um dirigente do SCP, Luís Manuel Lobato, responsabilizar os “otários” da Direcção pela referida eliminação. Claro que já foi obrigado a demitir-se...
Subitamente a tal taça que ninguém ligava, quando se queria diminuir os méritos de Jorge Jesus e/ou do Benfica, tornou-se quase tão importante com a Champions League, valendo quase tudo para impor argumentos pseudo – desportivos sobre a falta de verdade desportiva que esteve na base da eliminação do SCP...
Mais uma vez a verdade está no meio, talvez mais do lado do SCP, mas nunca totalmente do lado do SCP. Queixa-se o SCP que o jogo do FCP acabou mais tarde. Mas na realidade não foi por causa disso que o FCP passou, mas sim porque lhes foi oferecido mais 1 penalty que desta vez foi transformado. Ao contrário de Coimbra, onde o FCP perdeu, apesar da oferta vinda do tal Capela que os adeptos do SCP – por mera cegueira irracional – colaram ao Benfica. Agora foi o Mota, outro que eles rotularam de “benfiquista” após o jogo com o Nacional.
Nesta matéria o SCP continua a errar o alvo, mas quem os ouvir falar, são os paladinos da moral e da ética desportiva.
O SCP também fala – e bem – do 4º golo em claro fora de jogo, do FCP ao Penafiel. Mas que interessa isso se na altura o jornal a BOLA colocou uma foto enviesada com legenda a explicar que Varela estava em jogo?
Mas note-se que o FCP também poderá falar – e não tenho dúvidas que a seu tempo irá falar – do penalty que foi tirado ao Marítimo em Alvalade, com o resultado em 1-0. E ouvindo alguns – suspeitos - adeptos, até teriam sido 2 penaltys, e não só um...
Ora entrando na conversa da contabilidade dos erros a favor e contra, o FCP ganha porque tem muito mais gente na comunicação social a desviar a conversa para o lado dos “erros tácticos” e portanto, erros do treinador. Leonardo Jardim que se cuide, porque se perde na Luz, como espero, o seu lugar estará em risco.
Mas bom, esta guerra SCP/Liga/FCP sempre nos faz pensar que afinal eles querem todos é jogar contra o Benfica... Somos e seremos sempre o seu adversário predilecto, porque somos grandes e toda a gente quer ganhar às equipas grandes...
Ao contrário destes adversários, o Benfica fez o seu papel. Ganhou na Madeira ao sempre complicado Nacional, confirmou com um lutador Leixões e terminou em passeio frente a um decadente Gil Vicente. O nosso treinador, à semelhança dos últimos anos, fez alinhar alguns jogadores da equipa B, batendo o recorde nesse último jogo com o Gil Vicente.
Não tenho dúvidas que foi um jogo especial para Hélder Costa e João Cancelo, estreantes absolutos com a camisola da equipa principal.
Quanto ao jogo, viu-se muita coisa interessante apesar da falta de rotinas de jogo. Da alegria que colocam no jogo, à falta de decidir bem o que têm de fazer, viu-se de tudo um pouco. É isto o jogador português, por muitas voltas que os puristas queiram dar ao texto, querendo transformar uma massa de pão ázimo (na maior parte das vezes), numa bela massa de pão-de-ló.
Por exemplo. André Gomes nos dois primeiros remates que fez à baliza, escolheu mal o lado e executou pior, num caso à figura, noutro caso querendo colocar tanto que rematou para fora, rente ao poste. Bernardo Silva, outro putativo Miguel Rosa, teve um cruzamento milimétrico, mas colocou-se mal e cabeceou para fora. Hélder Costa, teve um pormenor fantástico para fugir ao adversário, mas a seguir rematou para os 3 pontos do País de Gales. Os jogadores com grande futuro, normalmente não falham nestas situações.
Ok, mas também não precisamos de Rooneys ou Ronaldos. Concordo. Temos ali bons jogadores que se não se perderem – mentalmente – poderão vir a encaixar-se na equipa principal. Quantos? Não sei. O Benfica compete em alta rotação em várias competições. Só um autista poderá acreditar que uma equipa baseada na Formação pode alcançar altos níveis de resultados. Claro que não. Outros dirão que os 4 milhões que JJ custa teriam de operar alguns “milagres”, transformando alguns desses jovens em portentosos jogadores. Nem o Mourinho o faz, que custa mais do triplo de JJ, não é JJ que o irá conseguir...
Pessoalmente tenho uma preferência, desde os seus tempos de juvenil: Hélder Costa. Já defendia a qualidade deste jogador antes de se dar a promoção de Ivan Cavaleiro (curiosamente representado por Jorge Mendes). E antes de aparecer aí uma campanha mediática no youtube, “Bernardo Silva futuro Aimar”.
Trata-se de um jogador com razoável estampa física, que joga bem como médio ala, como médio interior e tem polivalência adequada para saber defender quando é preciso, quando não temos a bola. É um jogador quase completo. Falta-lhe mostrar na equipa principal que pode fazer o que tem feito na equipa B e em todos os escalões de formação: jogar e fazer jogar. Não me costumo enganar. Com André Gomes pelo menos, não me enganei.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Balanço da 1ª volta do Futebol



Portugal, 22 de Janeiro de 2014

Com o habitual atraso que as minhas devoções ou obrigações profissionais me impõem, aqui vão algumas reflexões sobre a 1ª volta do campeonato de futebol que recentemente terminou, em grande, convenhamos, com uma sempre saborosa vitória sobre o FCP por 2-0.
Ao contrário do que pensam outros analistas amadores como eu, só há duas alturas da época em que é possível efectuar comparações conclusivas: no final da 1ª volta, quando todos jogaram contra todos, independentemente da ordem dos jogos, casa e fora, e no final da 2ª volta com ou sem apuramento do campeão (pode ter sido encontrado nas jornadas anteriores). Qualquer comparação à 3ª, 5ª ou 12ª jornada, como vemos por aí, não leva a lado nenhum e apenas serve para “esfaquear” a qualidade e natureza dos resultados. Infelizmente há jornais que o fazem, e há comentadores que lhe seguem o exemplo.
O facto mais relevante desta 1ª volta, é que o Benfica conseguiu chegar ao seu termo em 1º lugar, isolado, com 2 pontos de avanço sobre o SCP e 3 pontos de avanço (novidade) sobre o FCP. Fizemo-lo com o 2º melhor ataque com 29 golos, atrás do SCP (novidade) e a 3ª pior defesa (menos novidade) com 12 golos, atrás de FCP 11 golos e SCP 9 golos.
Não fiz este tipo de apreciação na época passada pelo que as comparações que posso trazer aqui são poucas. Ainda assim posso referir que temos menos 3 pontos do que na época passada, que para nós foi aquilo que chamei de “época vintage” pelos 85,6% de pontos conquistados. Os pontos agora obtidos dão-nos uma percentagem de 80%, o que é francamente bom e está acima de duas das 5 épocas efectuadas com Jesus no comando.
Apesar da venda de Matic, vejo este indicador dos 80% como um bom prenúncio de uma boa 2ª volta, porque se trata de um indicador conseguido após a incompetência directiva que caracterizou a fase de arranque do campeonato, com um longo e desgastante período de espera até à natural renovação com Jorge Jesus, assim como um inenarrável processo disciplinar a Cardozo que demorou 73 dias a ser concluído, com consequências negativas para o jogador e demais equipa.
Apesar do jornal dito “benfiquista” a BOLA hoje publicar uma estatística viciada, na forma e substância dos valores comparados, a verdade é que o Benfica melhorou depois da reintegração de Cardozo. Começou com 1 golo em Alvalade de Markovic, mas com Cardozo em campo a sofrer marcação do último defesa que poderia atrapalhar Markovic, e foi por aí em diante com uma série de 5 vitórias em 6 jogos, só interrompida no jogo com o Belenenses devido a um golo quase 3 metros em fora de jogo. Mas para o jornal A BOLA, incluir 5 jogos da Champions no “pacote” de jogos que Cardozo fez, é o mesmo que os 3 jogos que Cardozo não fez contra Gil Vicente na Taça, Nacional e Leixões na Taça da Liga. Para eles é a mesma coisa e assim se vão aldrabando as coisas...
Há também uma novidade esta época que é o campeonato das assistências aos jogos. Dado que o SCP este ano tem valores interessantes e dado que, como tenho repetido vezes sem conta, a comunicação social lisboeta tem uma matriz clubística sportinguista, nunca como este ano se viram tantas referências sobre as assistências nos jogos de futebol. Há que referir o seguinte:
Surpreendentemente, o SCP foi o clube que arrastou mais assistências no somatório dos jogos fora e em casa, com 384 760 espectadores, à frente do Benfica com 367 680 e FCP com 338 227. Surpreendentemente também, foi o SCP a arrastar mais espectadores nos jogos fora de casa. Apesar de ter menos 1 jogo fora do que Benfica e FCP, o SCP teve 117 050 espectadores, contra 102 229 do FCP e 101 450 do Benfica. Neste item, o FCP beneficiou de ter participado no jogo com mais espectadores do campeonato, o Benfica - FCP com 62 508 (o SCP apenas teve a deslocação ao Dragão com 48 108 e o Benfica em Alvalade com 46 109). Na 2ª volta tudo será diferente e não tenho dúvidas que o Benfica irá ultrapassar, pelo menos, o FCP.
Mas não tenho a certeza que possamos ultrapassar o SCP nos jogos fora, até ao final do campeonato. Porque na comparação directa, o SCP ganha-nos em 2 campos de média dimensão, Olhão e Coimbra, e apenas perde em Guimarães. No Estoril há um empate técnico (diferença de 15 espectadores) e deve ser realçado que na comparação directa, o SCP também ganha ao FCP em Arouca, uma localidade onde é suposto haver mais adeptos do FCP.
Nos jogos em casa, e apesar de ter mais um jogo que Benfica e FCP, o SCP tem uma vantagem residual (267 710 espectadores contra 266 230 do Benfica, e os 235 998 do FCP). No final da 2ª volta, vejo boas perspectivas de continuarmos a ter mais espectadores em casa do que a concorrência.
Dado o evoluir da situação competitiva do Benfica, bastante melhor do que os habituais críticos de Jorge Jesus (nos mídia e fora deles) supunham na 1ª fase da época, e dado que há agora muito menos divisão no apoio à equipa, por parte dos adeptos, podemos acreditar numa 2ª volta tão boa ou melhor do que a 1ª. Melhor pontualmente, não em qualidade exibicional, porque as baixas de Cardozo e Sálvio, associada à venda de Matic, obrigam à alteração da dinâmica de jogo para figurinos exibicionais de maior pragmatismo e menos espectáculo.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Repulsa pela atitude do Benfica

Sexta-feira, 15 de Outubro de 2004

Com aquele providencial sentido de oportunidade que Pinto da Costa tanto agradece, a TSF mandou hoje para o ar um Fórum de opiniões sobre a possibilidade do FCP não se deslocar ao Estádio da Luz. Este tipo de Fórum é um espaço dito de opinião, na esmagadora maioria, de opinião irresponsável, ignorante e sem interesse. Mas que produz efeitos importantes no que diz respeito ao passar de um certo tipo de mensagem, e que neste caso foi a que mais interessou ao FCP e não a quem precisava de ser esclarecido sobre o assunto.
A TSF tem estes critérios estranhos de dar valor ao que interessa aos editores e não ao interesse que a própria natureza dos assuntos encerra. Por exemplo, quando Del Neri foi despedido pela gestão “competente” do FCP isso não foi considerado interessante, mas o despedimento de Toni do Benfica por exemplo já foi e deu lugar a um Fórum. Quando João Pinto foi dispensado por Vale e Azevedo houve 2 horas de Fórum especial num domingo à tarde, mas quando recentemente a equipa de gestores do Sporting não renovou com João Pinto isso já não foi considerado relevante.
Isto tem uma explicação relativamente simples e que se prende com a cor e cultura clubista dos editores e jornalistas da TSF: esmagadoramente Sporting em Lisboa e FCP no Porto. Quando se vê o Sporting lutar contra uma classificação impensável tendo em conta o apoio recebido da generalidade dos “media”, percebe-se a frustração dos jornalista da TSF que vêm neste tipo de Fórum o melhor sitio para derrotar o seu arqui-rival, o Benfica.
A derrota dos interesses do Benfica, começa com a discussão de assuntos sem fornecerem todas as explicações técnicas e/ou factuais aos ouvintes e continua no processo de selecção das chamadas telefónicas. Quando cerca de 90% dos participantes do Fórum telefonam de Paredes, Porto, Espinho e por aí, não se pense que em Lisboa as pessoas trabalham e os do Porto (ou Norte como gostam de se intitular) ouvem rádio. Não! Há um critério de selecção de ouvintes, o que é um acto discriminatório e de censura.
De todas as vezes que tentei entrar na TSF nunca consegui. Uma delas, quando o Benfica perdeu 7-0 com o Celta, tentei duas vezes antes das 10h30mn, hora de início desse Fórum, tendo-me sido dito que era cedo e para ligar apenas quando ouvisse o spot de anúncio do Fórum. Quando isso aconteceu, disseram-me que a lista já estava cheia e não podia inscrever-me. Protestei e enquanto falava com a recepcionista entrou logo um adepto do FC Porto da zona do Marco de Canavezes...
Ou seja, os jornalistas gostam de falar de liberdade de opinião, mas como é óbvio apenas para eles e para quem eles querem, neste caso uma selecção de telefones de pessoas que têm livre-trânsito consoante as opiniões que expressam. Eu próprio entrei uma única vez no Fórum da noite porque me deram um contacto de alguém da TSF que fez o favor de me telefonar quando se iniciou programa. E lá consegui dizer o que pensava, mas com o Srº Fernando Correia a cortar-me o pio ao fim dos 3 minutos, uma vez que contestei a intenção da Direcção do SLB em avançar para um grupo empresarial de tesos e falidos.
Voltando aos bilhetes, nenhuma das intervenções incluindo a dos jornalistas, mencionou o discurso de Fernando Gomes e os termos inaceitáveis que dirigiu ao SLB após ter terminado o prazo regulamentar para requisitar os bilhetes. Nessa intervenção que cito do jornal o JOGO, FG afirmou “compete à Liga, como entidade reguladora da actividade do futebol, fazer respeitar os regulamentos. Se a Liga não o faz, naturalmente que o FC Porto no estrito desempenho daquilo que a si lhe cabe, tentará fazer o que está ao seu alcance de modo a que os regulamentos sejam cumpridos”. O jornal O JOGO acrescentou a estas declarações o título “Repulsa pela atitude do Benfica e recurso para a Liga”.
Ora já ficou claro que o FCP não cumpriu os requisitos legais e como tal não pôde recorrer – como não recorreu – para a Liga. Quer dizer que FG mentiu e que o JOGO promoveu uma mentira sem antes se esclarecer junto do Benfica, o que viola o código deontológico dos jornalistas.
Este imbróglio nasce portanto de uma intenção declarada do FCP criar um cenário de guerra (4 pontos a menos e deslocação a casa do adversário é um mau cenário) e a TSF mais uma vez serve-lhes a estratégia numa bandeja. Porque não foi o Benfica que se recusou a ceder os bilhetes, foi o FCP que se recusou a pedi-los optando antes disso pela censura pública ao Benfica.
No fim disto tudo a TSF e outros “media” fizeram bem o seu papel: distorcer os factos, aligeirando a carga dos responsáveis portistas e aumentando-a para cima dos benfiquistas. É o SISTEMA.

Nota de 11-01-2014: 1) o cenário de guerra criado pelo FCP (táctica habitual) conseguiu criar uma cortina de distracção sobre a nomeação do árbitro Olegário Benquerença que decidiu o jogo (derrota do Benfica de Trappatoni por 1-0) ao não assinalar 2 grandes penalidades contra o FCP, sobre Karadas (Ricardo Costa) e mão na bola (Jorge Costa), para além do golo não validado a Petit (responsabilidade do árbitro assistente), 2) Filipe Vieira apoiou inequivocamente o mentiroso do Fernando Gomes para a presidência da Liga e da FPF, depois de ter ido à Sala de Imprensa, atrás de José Veiga, aos gritos e berros contra a arbitragem, 3) a TSF bem como o JOGO pertencem à Lusomundo Media, empresa que mais tarde foi adquirida por Joaquim Oliveira, que por acaso também estava no funeral de Eusébio, em lugar VIP, 4) referi neste texto de Outubro 2004 que fui contra o modelo empresarial de “tesos e falidos”. Como provinciano, segundo alguma terminologia lisboeta, apraz-me registar que vi à distância o que ainda hoje alguns intelectuais de pacotilha benfiquista não conseguem ver.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Eusébio não oficial



Portugal, 7 de Janeiro de 2014

Por razões várias também relacionadas com a quadra Natalícia (mas não só), não tenho podido escrever como gostaria. A última coisa que podia imaginar é que o primeiro texto do ano seria dedicado ao desaparecimento de Eusébio, melhor jogador de todos os tempos, do Benfica e possivelmente de Portugal, e figura central do misticismo benfiquista.
Eusébio ficará para sempre ligado à história do Benfica.
Como jogador, Eusébio tocava a bola com a mesma simplicidade da educação e cultura africana que o moldou como ser humano. Se a bola se quer na baliza, Eusébio metia a bola na baliza. Ora metia a bola na baliza com potentes e colocados remates, ora metia a bola na baliza com subtis desvios de cabeça, ora metia a bola na baliza depois de correr (qual gazela do mato) e fintar um sem número de adversários...
Era um tempo em que o futebol era puro, genuíno, não havia tempo para os pormenores “fantásticos”, passes “açucarados”, simulações e outras “engenharias” do futebol actual. Era tudo simples e Eusébio era o Rei, porque era mesmo o melhor...
A cereja no topo do bolo veio no Mundial de 1966 e na final em Wembley contra o Manchester United em 1968. A mediatização dos dois eventos numa das nações mais industrializadas do mundo, somada à excelência e golos do futebol de Eusébio, criaram a figura do Rei e alcandoraram o Benfica à galeria do restrito número de clubes míticos.
Por questão de idades, só tive oportunidade de ver Eusébio jogar ao vivo uma vez. Já depois de ter sido descartado do Benfica, e andar por aí a vender as sobras do seu talento, como um vulgar saltimbanco ou artista de circo, ele jogou pela equipa cá da terra num jogo amigável contra o Sporting de Lamego. Talvez em 1977 ou 78, talvez na semana da romaria principal da cidade (na altura vila). O estádio estava abarrotar, a festa foi bonita e Eusébio recebeu o merecido carinho das gentes desta terra e do próprio adversário, rendidos a tamanha personalidade futebolística.
A dada altura houve um livre contra os de Lamego e o nosso capitão foi chamar Eusébio para marcar. Eusébio educadamente recusou, apontando para ele. Mas o nosso capitão fazia questão que fosse Eusébio a marcar. E Eusébio lá foi marcar. Remate e golo! Explosão de alegria entre as minhas gentes... que momento...
Quis o destino e a ingratidão característica de tantos períodos da história do Benfica, que Eusébio terminasse a carreira fora do clube do coração. Já não “rendia”, as lesões sucediam-se, já não servia. E lá foi empurrado borda fora com direito à costumeira e hipócrita festa de despedida. Sinais dos tempos: o Presidente que avalizou esse “vai-te embora”, Borges Coutinho, foi e é considerado um grande presidente em tudo que é enciclopédia sobre a história do Benfica....
Quis também o destino e a euforia dos anos de glória, que Eusébio fosse na vida particular o contraste do seu exemplo de futebolista. Como futebolista era o maior ídolo do clube e uma referência da Nação. Como cidadão e longe dos holofotes do público geral, os excessos, com mulheres e bebidas numa primeira fase, com uma vida desregrada nesta última fase, retorceram-lhe esse brilho e roubaram-lhe anos de vida que tanta falta agora lhe (nos) faziam....
Como referi, Eusébio ficará para sempre ligado à história do Clube. Em primeiro lugar porque nos escolheu para jogar e alcançar a glória como futebolista, tornando-se único e tornando-nos míticos. Em segundo lugar porque com o abraço a Vilarinho decidiu as eleições de 2000 que conduziram o Benfica a isto que hoje vamos vendo, para o bem e para o mal.
Esta última decisão marcou uma vez mais a relação de Eusébio com o Clube e o Futuro. Uns dirão, que bem. Outros, nos quais me incluo, dirão, que mal! Eusébio deveria ter-se mantido equidistante das candidaturas, respeitando a união e liberdade de escolha dos sócios do Benfica. Eusébio deveria ter percebido que o seu lugar na História do Benfica podia ultrapassar a do Melhor jogador de sempre e ser também a Grande referência, a seguir a Cosme Damião.
Ao optar por uma das candidaturas, Eusébio tomou partido de uns elementos da família, sobre outros. Dividiu e desuniu. Vulgarizou-se. Deixou de ser uma referência do futebol e passou a ser um actor de política. Jogou num plano que não era o que o tinha distinguido. Ganhou na política, mas perdeu a admiração de muitos.
Não surpreende que na altura se constasse que esse apoio “corajoso” significou um aumento salarial de 1700 contos para 5000 contos por mês. Mais tarde Eusébio zangou-se publicamente com a mesma “tropa” que chorou “baba e ranho” no seu funeral, e que lhe baixara o salário por causa dos impostos. Nada que surpreenda. Quem se vulgariza acaba vulgarizado. Panteão? Sim! Nome do Estádio? Claramente não! Imagem nas camisolas? Não! Já temos um emblema!
Eusébio jogou como sabia, viveu como podia. Duas faces da mesma moeda, uma moeda mais cara que coroa.