quarta-feira, 29 de junho de 2011

O atletismo, a TV e o SCP

Portugal, 29 de Junho de 2011

O Benfica venceu o campeonato nacional de atletismo ao ar livre, somos portanto CAMPEÕES passados 15 anos, e é com grande alegria que partilho a emoção deste título. Tratou-se de uma vitória à Benfica, na última prova, possivelmente na última curva da corrida de 400 m planos! Uma vitória com muito suor, crença e lágrimas.

Dado o ineditismo desta vitória, que interrompe um ciclo de muitas (demasiadas) vitórias do SCP, pensei que as Televisões dessem destaque ao assunto. Mas avaliando pelo teletexto da RTP, não creio que isso se tenha passado. De facto quando o SCP conquistou o campeonato de Futsal, o teletexto da RTP abriu 3 linhas para notícias relacionadas com essa vitória. No caso do Atletismo do Benfica a mesma RTP abriu ... zero! Lá se vai a tese de que “a comunicação social fala do Benfica porque o Benfica é que vende”.

Não posso fazer mais comparações do que esta, porque por azar, nos dias seguintes à vitória do Benfica, vi pouco noticiário e ainda por cima, não consegui apanhar a parte do desporto. Mas não duvido nem um pouco que o critério seguido pelos censores da RTP, estação pública de televisão, na parte do teletexto, tenha sido o mesmo seguido para divulgação noticiosa da vitória. Pouco mais que zero.

Importa então fazer a comparação com a vitória do Futsal do SCP, e encontrar uma explicação mais lógica e realista do que a bazófia simplista de que “o Benfica é que vende”. E para mim a explicação é simples: o Benfica é utilizado para promover tempo comercial que rentabilize o investimento publicitário, mas em troca o Benfica não é bem retratado, não é bem promovido por esta mesma comunicação social que vende bem a publicidade quando o Benfica é noticia. E porque razão não lhes interessa que o Benfica tenha uma boa imagem junto do público específico de cada órgão de comunicação social? Porque as mensagens positivas galvanizam, potenciam a relação adepto/clube/atletas, dão estatuto ao clube por cada vitória noticiada, significam uma mensagem de esperança para a modalidade ou modalidades vitoriosas, etc., etc.

Infelizmente muitos altos dirigentes do Benfica ou analistas desportivos de renome, gostam de se desculpar – quando não sabem dizer mais nada – que as notícias especulativas da comunicação social são apenas porque o Benfica vende. Nada disso. O Benfica é atacado para fragilizar a relação entre o adepto e o clube, para potenciar o desânimo, para enfraquecer ou dificultar a aquisição de níveis mentais superiores. Ou seja, isto não é uma brincadeira, é uma “guerra” que tem de ser encarada como tal. Cruzar os braços tem sido a pior das estratégias...

Mudando ligeiramente de assunto, li hoje no invariável Correio da Manhã, que o SCP está a pensar impugnar o título de campeão do Benfica, porque numa das corridas um atleta do Benfica tocou, eventualmente obstruindo a corrida do atleta do SCP, e isso teria tido influência na classificação final (que foi à justa). Do SCP a gente nunca pode esperar nada de positivo. A fotografia que o CM utiliza para sustentar a argumentação do SCP é mais do mesmo: promoção às teses leoninas. A promoção que não fazem às vitórias do Benfica.

A ser verdade que a impugnação avança, que sirva de lição (difícil, pois em 10 anos não aprenderam quase nada) ao Sr.º Vieira e Cª, pois que já este ano, no campeonato de atletismo em pista coberta, um atleta do SCP entrou na pista do atleta do Benfica, empurrando-o ao ponto de quase o fazer cair. O Benfica venceu a corrida e o SCP ficou em 2º lugar. Logo na hora, os responsáveis do Benfica recorreram da decisão dos juízes de pista que não desclassificaram o atleta do SCP. Estes defenderam-se dizendo que só consideravam o empurrão e que este não tinha provocado dano ou que não tinha sido intencional. Ora a invasão de pista adversária dá desclassificação nos Jogos Olímpicos. E se o atleta do SCP fosse desclassificado, o Benfica tinha sido campeão.

O Sr.º Vieira protestou? Fez a parte que sim. Um embuste! Agendou uma reunião com a FPA e saiu de lá todo contente porque a reunião tinha sido proveitosa. A ver se não nos tiram agora um título mais que justamente conquistado.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Balanço das modalidades de pavilhão II

Portugal, 23 de Junho de 2011

Na continuação da avaliação dos resultados obtidos pelas modalidades de pavilhão na época que agora findou, hoje debruço-me sobre as duas modalidades que ficaram claramente abaixo das expectativas: o Vólei e o Futsal.

Vólei – desempenho mediano. Nota 3+. Vitória na Taça de Portugal frente ao Sp. Espinho, derrota no playoff do título com o AJ Bastardo. Se há modalidade em que fica evidente que uma equipa pode ser melhor que as outras mas não ser campeã porque falhou nos derradeiros episódios da época, o Vólei do Benfica é o exemplo por excelência. Fomos claramente melhores na fase regular. Fomos claramente melhores na 2ª fase. Tivemos apenas 2 derrotas no conjunto destas duas fases. Contudo perdemos o título, uma semana depois de vencermos com clareza (embora com dificuldades) a Taça por 3-0 frente a uma equipa de mais pergaminhos na modalidade, o Sp. Espinho. Terá funcionado algum excesso de confiança que se transformou em sobranceria? Julgo que sim. Vi parte do 1º jogo do playoff, que perdemos por 1-3, e em dois dos sets, o resultado ultrapassou os 25, tendo a nossa equipa tido algumas bolas de set. Que não concretizou. Por ansiedade? Creio que sim. A sobranceria é inimiga da concentração e estimula a ansiedade dos jogadores.

Recordo que na época passada, o treinador Jardim afirmou antes da final da Taça, que íamos a Coimbra ganhar a Taça para a dedicar aos adeptos. O blá, blá do costume. Resultado: perdemos 3-1 com o Castelo da Maia. Curiosamente após essa derrota, começamos bem o playoff do título, à melhor de 5, e ganhamos os 2 primeiros jogos ao Espinho. Neste caso, penso que a sobranceria foi derrotada na Taça e a equipa foi humilde e competitiva no playoff do título, aproximando-se do seu real valor.

A sobranceria ou a falta de humildade é uma característica que frequentemente existe entre nós, seja pela facilidade como vencemos as fases regulares, seja pela natureza da nossa história, seja pela conjugação das duas.

Futsal – desempenho mediano. Nota 3-. Não dou nota negativa porque estivemos nas 4 finais que podíamos estar: UEFA Futsal Cup, Taça, Campeonato e Taça intercontinental (esta por estatuto). Falhamos apenas a Supertaça por não termos ganho nem o Campeonato nem a Taça. Se está banalizada a afirmação que as “finais são para ganhar”, também não é menos verdade que para as ganhar é preciso estar lá, ou seja, é preciso fazer um longo caminho de sucesso. E nós fizemo-lo no Campeonato (vencedores da fase regular sem derrotas).

Tenho uma certa dificuldade em falar do Futsal porque pensei que podíamos ganhar no mínimo o campeonato. Depois, vendo bem, os números devem fazer-nos reflectir. Nos dois últimos anos, um com Ricardinho e André Lima a treinador, outro com o treinador campeão no SCP mas sem Ricardinho, fizemos 7 jogos com o SCP na final do playoff. Ganhamos 1 jogo! Nos restantes, estivemos em vantagem por 4 vezes. Em 3 delas, a vantagem vigorava nos últimos 5 mn. Acabamos por empatar todos estes jogos, perdendo-os no critério de desempate: prolongamento ou penaltys. 4: é obra.

Mas se contabilizarmos as duas finais da Taça perdidas, frente a Belenenses e SCP, estamos na mesma: 2 empates que no prolongamento deram derrotas. A diferença é que com o SCP fomos nós a recuperar de 0-2 para 2-2 nos últimos segundos. Raro.

Se incluirmos o último título conquistado, 3-2 frente ao Belenenses, percebemos que as nossas vitórias dão muito trabalho. O Belenenses podia, inclusivamente ter ganho o título no jogo 4, em sua casa, mas aí o Benfica deu uma resposta de campeão e depois de estar a perder 3-0, ganhamos 6-3. Mas não são dificuldades a mais? Acho que são ...

A minha opinião é que (1) o Benfica não sabe defender, os jogadores são “formatados” durante toda a época, pela cultura reinante do clube, de ganhar pelo ataque e não pelo equilíbrio entre os processos defensivos e atacantes, (2) os jogadores do Benfica não são duros a meter o pé nos processos defensivos e (3) houve alguma sobranceria, mas ao contrário do Vólei, aqui a sobranceria foi activa. Foi assumida no discurso de alguns intervenientes. Destaco o Davi que afirmou que queria ser campeão em Loures.

Os resultados obtidos no Futsal deviam fazer-nos pensar sobre se o problema é o modelo de jogo, se são os jogadores, se é a cultura reinante no clube que prepara de forma errada a mentalidade dos jogadores.

E neste ultimo aspecto, a interferência da Benfica TV deve ser ponderada. Não me parece correcto, para a questão da concentração, fazerem longos programas antes das competições. Depois delas sim. Antes, nunca.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Balanço das modalidades de pavilhão I

Portugal, 20 de Junho de 2011

Com a perda do título de campeão no Futsal, terminou a época das modalidades de pavilhão. Despretensiosamente, faço o seguinte balanço.

Em termos globais, creio que tivemos uma época razoável. Atrevo-me a dar uma nota 4, numa escala de 0 a 5. Foram muitos os troféus ganhos, foram muitas as finais disputadas, foram alguns bons resultados nas competições europeias.

Apreciando modalidade a modalidade, há naturalmente umas que estiveram melhor que outras. Começando de cima para baixo, das que considero terem-se portado melhor para as que se portaram pior:

Hóquei em Patins – excelente desempenho. Nota 4+. Vitórias na Supertaça frente ao FCP e na Taça CERS.
Terminado o campeonato com os mesmos pontos que o vencedor, não fomos campeões pelo critério de desempate dos resultados directos, já que em goal-average fomos a melhor equipa.
Na ressaca da perda do título fomos eliminados da “Final Four” da Taça de Portugal, em grandes penalidades pelo Candelária, finalista vencido do troféu. O campeão FCP ficou-se pelo título de campeão, o título da regularidade de como se é ajudado pelas arbitragens, e mais nada. Sinal que os tempos estão a mudar e quem sabe já na próxima época, interrompemos a senda de vitórias do adversário.

Andebol – excelente desempenho. Nota 4+. Vitória na Supertaça (eliminando FCP, SCP e na final o Águas Santas), vitória na Taça de Portugal (eliminando FCP e Madeira SAD na final), 1ª final europeia (Taça Challenge, derrotados) e 4º lugar no campeonato.
A menos boa combatividade no campeonato deveu-se aos muitos jogos disputados na competição europeia, ao contrário de todos os nossos adversários que ficaram à nossa frente na classificação.
Deve ser referido, para comparação, que na época passada ficamos em 2º lugar no campeonato e não vencemos qualquer troféu. Já o SCP por exemplo, ganhou a mesma Taça Challenge, mas ficou em 6º no campeonato e foi derrotado na final da Taça de Portugal pelo Xico Andebol.

Basquetebol – bom desempenho. Nota 4. Vitórias na Taça Hugo Santos e Supertaça, ambas frente ao FCP que se sagrou campeão.
Boa resistência na final do Playoff onde chegamos com 1 derrota tal como no ano passado. O factor casa foi-nos adverso e acabou por decidir o campeão. Mas gostava que um dia o Benfica fosse campeão num terreno tão hostil como o do pavilhão do FCP, onde 1600 adeptos não serão mais ruidosos que os mais de 25 mil que presenciaram a derrota que custou o título aos Miami Heat em casa frente aos Dallas Mavericks. Realce também para a participação na Supertaça Compal onde apesar de ficarmos em último, oferecemos muita resistência às equipas angolanas, as quais só nos venceram no prolongamento (ao contrário do FCP que perdeu sempre no tempo regulamentar).
Realce também para a participação na Eurochallenge, ponde chegamos aos últimos 16, o que é sempre uma marca positiva mesmo considerando que esta é a prova de menor dificuldade a nível europeu. Destaco a caminhada de um dos nossos adversários, o Lukoil da 1ª fase, que chegou às meias-finais tendo sido eliminado da final por 2-1. O Ventspils ficou nos quartos de final por 2-1. O Gravellines também mas por 2-0.
Ponto negativo a eliminação da Taça em casa frente ao Guimarães e as 5 derrotas na fase regular.

No próximo texto darei as minhas opiniões sobre as duas modalidades menos bem sucedidas, o Vólei e o Futsal.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Futsal "à rasca"

Portugal, 13 de Junho de 2011

Com a 2ª derrota em outros tantos jogos em casa, a nossa equipa de Futsal está “à rasca” para reconquistar o campeonato e dedicá-lo ao Sr.º Vieira. Infelizmente parece que cada vez que se ganha alguma coisa nas modalidades de pavilhão, têm de se dedicar ao “grande líder”, não vá ele fechar a torneira do investimento na época seguinte. Assim vai o nosso Benfica dos “sócios”.
Quanto ao 2º jogo, a primeira coisa que me ocorre é que nem se pode falar da ausência do Ricardinho, nem da competência do treinador Paulo Fernandes. E não se pode meter estes dois elementos na análise às 2 derrotas pela simples razão que na época passada, o SCP de Paulo Fernandes ganhou o título 3-1 ao Benfica de André Lima (campeão europeu) e Ricardinho.
Note-se que nessa época, em ambos os jogos que o SCP venceu o Benfica na Luz, um nos penaltys e outro no prolongamento, também o Benfica esteve em vantagem até escassos 5 minutos do final do jogo, creio que por 1 e 2 golos. Em ambos os jogos, e com uma ajuda aqui e ali da arbitragem, o SCP empatou e forçou o prolongamento, onde acabou por nos vencer.
Se analisarmos golo a golo, podemos perceber o que está a falhar no Benfica. No 1º golo, erro individual grosseiro de David que quer organizar jogo com um adversário por perto, demora tempo a soltar a bola, fica sem ela, e os dois avançados do SCP constroem o golo, a menos de 2 mn do intervalo. Depois de empatarmos, voltamos a dominar em posse de bola e melhores situações de golo, mas os postes existem, os guarda-redes estão lá para defender, o que não pode acontecer é um 2º golo devido a mais um erro de marcação defensiva de Diego Sol. O SCP conseguiu uma jogada de contra ataque, a bola caiu nas costas de Diego Sol e este não soube marcar o adversário que estava meio metro à sua frente. Macio e sem rasgo, esqueceu de tentar o “carrinho” que mandasse a bola para fora. Mais uma vez 2 jogadores do SCP construíram um golo com aparente facilidade.
A cerca de 2 mn do final, obviamente que o treinador teve optar pelo guarda-redes avançado, para não lhe chamarem medroso. Primeiro ataque, 3-1 para o SCP. Aqui creio que falhou o posicionamento do guarda-redes avançado, pois parece-me que não deve passar muito da linha de meio campo e deve procurar situar-se no eixo que une o meio das duas balizas. Diego Sol contudo atreveu-se a ir lá à frente, ao lado direito do nosso ataque, ficou sem a bola e pronto 3-1.
Mais uma vez o Benfica com muita inspiração e talento faz o 3-2, mais uma vez entra o guarda-redes avançado, mais um erro e 4-2. Em resumo, 4 golos do SCP devido a erros individuais de jogadores do Benfica, uns que provocam os outros, e 2 golos do Benfica resultantes de muito trabalho, inspiração, criatividade, talento. Ou seja, os golos do Benfica dão sempre mais trabalho a alcançar.
A minha conclusão é pois simples. O Benfica não sabe defender e não precisei de ver o 1º jogo para perceber isso (como aliás no ano passado também). O Benfica não sabe defender porque no clube a filosofia é o ataque. O modelo de jogo 1-2-1 permite ter mais atacantes do meio do campo para a frente, mas também obriga ao alargamento das linhas entre cada jogador. O que facilita o contra ataque e o pouco aproveitamento dos erros defensivos do adversário (que também os teve). E porquê? Porque o SCP jogando em 2-2, tem mais apoio na linha defensiva como na linha ofensiva. Regra geral permite-lhe ter 2 atacantes a atacar o organizador de jogo, e 2 defesas para o pivot de ataque do Benfica. O resto é esperar pelo erro adversário.
Sabemos que é assim, mas persistimos no erro táctico. Se com o talento de Ricardinho perdíamos, sem esse talento é um erro colossal continuarmos a insistir num modelo de jogo ofensivo, contra um rival que tem um plantel da mesma qualidade global do Benfica. Alguma semelhança com o futebol de 11 não será mera coincidência...
Os comentários ao jogo na Benfica TV e as peças jornalísticas que hoje li, falavam de alguma sorte do SCP e das boas defesas do Benedito. Discordo. Logo durante o jogo, ao contrário dos comentadores da Benfica TV, percebi que o SCP estava com mais equipa, sabiam ao que vinham e espremiam ao máximo a sua estratégia de jogo. Nós não. Atacávamos com tudo, contra um quadrado muito fechado, à espera que uma inspiração desse um golo. Nem que fosse de sorte. Por outro lado, dizerem que o SCP não estava a conseguir sair do seu meio campo, é não perceber nada do jogo que estava a decorrer. O SCP deu a iniciativa ao Benfica para poder explorar o erro. Não foi dada à toa, havia uma estratégia determinada. Que funcionou ...


Por último, a preparação mental dos nossos jogadores verifica-se em algumas afirmações que transcrevo. Pedro Costa, o capitão, disse que “Tem sido muito mais fácil alcançar as vitórias com o apoio dos nossos adeptos e eles não nos vão virar as costas e com certeza vão encher todas estas bancadas. Vamos brindá-los com duas vitórias. É isso que todos queremos. Diego Sol afirmou “somos melhores e temos de entrar concentrados no encontro, algo que penso que faltou no último jogo”. David disse que “queria ser campeão no Pavilhão de Loures porque assim já saberíamos que não haveria quarto ou quinto jogo”.

A fronteira entre o discurso da auto-confiança e o da basófia tem uma linha muito ténue a separá-los. E nós caímos para a basófia. Ridículo.



terça-feira, 7 de junho de 2011

A matemática do futebol

Portugal, 7 de Junho de 2011

Há dias dei por mim a conversar sobre futebol com um cliente e amigo, pessoa de nível académico superior, empresário, aviador nas horas livres, enfim, uma pessoa com posição e supostamente “conhecimentos” destas coisas da bola. E benfiquista.

Sabendo como penso, começou por me colocar a questão clássica: “mas não acha que o FCP mereceu ganhar os títulos que ganhou?”. Respondi-lhe que não podia dizer que sim, nem podia dizer que não. Ficou um pouco atónito e contrapôs: “então não acha que os 21 pontos de avanço no campeonato, mesmo que aqui e ali possam ter sido ajudados, não lhe garantiam o campeonato?”. E acrescentou: “e nas competições europeias, os árbitros são estrangeiros e eles também ganharam”.

Tive então de lhe dar uma explicação, um pouco longa. Comecei pela invariável referência “pois é, você lê muitos jornais e vê muita televisão e depois não pensa no futebol, mas sim como eles querem que você pense”. E expliquei porquê.

Sobre o campeonato “nem vale a pena falar porque o Benfica foi afastado do título nas primeiras 4 jornadas. Se o Cosme Machado marcasse os penaltys que existiram contra a Académica, 4, se o Paulo Batista não marcasse o penalty fantasma que deu a vitória do FCP na Naval por 1-0, e com um bocado de jeito assinalasse o penalty que Álvaro Pereira provocou aos 22 mn, com cartão amarelo que com algum rigor seria vermelho, aí não era o Benfica que começava com Zero pontos, mas se calhar o FCP. Mas mesmo que o FCP empatasse, era o Benfica que colocava pressão neles logo na 1ª jornada, por ter ganho, e não o contrário. Depois na jornada seguinte se o Sr.º Proença não inventasse faltas contra o Benfica, como a que deu o 1º golo do Nacional (que a comunicação social branqueou ao referir que Roberto ficou mal na fotografia) e tivesse visto o Coentrão ser “tesourado” pouco depois, por 2 defesas dentro da área, se calhar não era o Benfica que perdia 2-1 mas sim até podia ter ganho. Mas mesmo que empatasse, e o FCP ganhasse ao Beira Mar sem casos (o 2º golo nasceu de uma simulação de Bellushi que o árbitro entendeu ser merecedora de falta defensiva), acabaríamos a 2ª jornada com 4 pontos, tal como eles, e portanto a confiança que logo se instalou na equipa do FCP, porque à 2ª jornada tinham 6 (!) pontos de avanço sobre o Benfica, essa confiança nunca existiria. E se não existisse essa confiança, “acha que o FCP jogava igual na 3ª jornada quando foi ao Rio Ave, ainda para mais, novamente ajudado?”. Que “aconteceria se eles tivessem ido lá com os mesmos pontos do Benfica e o árbitro do CA Porto Jorge Sousa, tivesse visto a falta de Falcao sobre o Milhazes, no lance que precede o 1º golo, tal como viu no ano passado em Braga uma falta de Cardozo sobre Leone em Braga, quando o Luisão fez o empate que não valeu? E se o árbitro depois tivesse visto o Álvaro Pereira fazer 2 penaltys na mesma jogada e ainda ter ganho 1 cartão amarelo para um dos avançados que derrubou? Quanto acha que vale, naquele momento, um cartão amarelo perdoado ao Álvaro Pereira, o respectivo penalty e possibilidade de golo, e em vez disso ser o avançado que leva amarelo e fica condicionado? Será que o FCP ganhava esse jogo? Dificilmente ganharia, e mesmo que empatasse, como nós ganhamos ao Setúbal com 10 jogadores, ficávamos 2 pontos à frente.

Posto isto perguntei-lhe: acha que o Benfica em 1º lugar à 3ª jornada suscitava a especulação mediática em torno das qualidades do guarda-redes? Das opções do treinador? Da qualidade dos novos reforços? De todos aqueles temas que a comunicação social habilmente sabe colocar para por os benfiquistas a falarem de tudo menos dos erros dos árbitros? Claro que não!
Na Liga Europa? Olhe, se o Sapunaru fosse expulso quando agarrou o Saviola no jogo da Taça, num dos raros momentos em que ele conseguiu fintar os 4 defesas do FCP e o árbitro assistente que estava sempre a levantar a bandeirola para o Cardozo, se o FCP ficasse com 10 com 0-0, algum dia nos eliminavam? Claro que não! E se o Benfica eliminasse o FCP da Taça teria havido o terramoto emocional que rompeu a relação de proximidade entre os adeptos e a equipa, que provocou uma enorme crise de confiança nas suas qualidades, na generalidade dos jogadores do Benfica, que desgastou ainda mais a imagem do treinador perante adeptos e comunicação social? Claro que não! Era o FCP que levava um 2º murro, depois da Taça da Liga, eram eles que ficavam com dúvidas sobre as suas qualidades e sobre o valor da equipa, éramos nós que embalávamos para uma ponta final pacífica, confiante, consensual entre adeptos e comunicação social porque os resultados desportivos eram bons e próximos dos títulos.

Assim, por causa de um simples cartão amarelo que não foi exibido como mandam as regras do “manual da arbitragem”, acabamos nós com falta de confiança, com critica desmesurada, com intranquilidade, com fraqueza de jogo colectivo (porque este é um somatório das capacidades individuais, entre outros) e assim lá se foi a Liga Europa. Noutras condições, com árbitro estrangeiro, o Braga era goleado na Luz e depois em Braga era só para cumprir calendário...

E sabe que mais: “se para o ano os truques de arbitragem forem os mesmos, como vão ser, acha que podemos ganhar alguma coisa?”. Olhou para mim, virou os olhos para baixo e suspirou ...

Tinha acabado de concordar comigo. O futebol tem uma matemática diferente da que nos “vendem” através da comunicação social (sistema).

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Obesidade mental

Portugal, 1 de Junho de 2011

Há anos que escrevo sobre assuntos que directa ou indirectamente estão relacionados com o Benfica, desde as primeiras cartas que enviei para o RECORD e JOGO, na década de 90 do século passado, cartas que eram publicadas com regularidade na secção do “correio” ou “tribuna” dos leitores, até aos comentários que vou conseguindo registar nas edições de BOLA e o RECORD online.

Desde sempre que tenho como principal preocupação defender a verdade desportiva e o Benfica, mas cedo descobri que esta “luta” não pode ficar completa sem identificarmos (e combatermos) um “inimigo” subtil e aparentemente “invisível” que se chama “comunicação social”.

Há muito que nas minhas cogitações de leigo, percebi que as mensagens da comunicação social não são iguais nem agressivas e geradoras de instabilidade para todos os clubes. E percebi que há uma modulação de conteúdos das mensagens em função dos poderes económicos que hoje tomaram conta dos órgãos de comunicação social (ocs), sejam jornais, rádios e televisões. E que condicionam a orientação editorial dos seus próprios ocs. O caso da Olivedesportos, da TSF, DN e JN serão os mais evidentes. Mas há outros.

Ao longo dos anos, tenho assistido a campanhas mediáticas lançadas por estes jornalistas do bulling, contra elementos do Benfica e por tabela, contra o próprio Benfica. O caso mais antigo que recordo foi a critica sobre o brasileiro Lima que marcou o golo em Marselha, na meia-final da Taça dos Campeões, e que nunca teve vida fácil porque havia demasiadas referências negativas sobre ele nos jornais (assim eu entendia). Depois tivemos os “problemáticos” russos, a seguir a táctica do “pirilau” de Paulo Autuori, mais tarde foi a história da “armada inglesa” e do “casmurro” Souness, no 2º ano de contrato descobriram que Heynckes não percebia o futebol português, depois Vale e Azevedo que queria “vender” o Benfica (fora as trapalhadas), mais tarde foi o Trapatoni “defensivo”, a seguir Koeman que deixou de perceber o futebol português quando apostou em Moretto em detrimento de Quim, Fernando Santos que não tinha “carisma”, Camacho que já estava “fora de época” e Jesus que de um ano para o outro, deixou de ser um bom treinador para ser um despedido em fila de espera. Ah, e Roberto que virou “frangueiro”.

Todas estas ideias e muitas mais que não cabem aqui (outras já nem recordo), são “vendidas” pela comunicação social aos adeptos do Benfica com determinados propósitos. Deformar em vez de formar, condicionar em vez de ensinar.

Vem a propósito disto um “powerpoint” que circula na net há alguns anos, sobre um alegado livro escrito por um alegado Prof. Andrew Oitke de Harvard. O livro intitulado “Obesidade Mental” contém referências que se encaixam bem nesta problemática. Aqui vão algumas:

As pessoas viciaram-se em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada”.

Os ‘cozinheiros’ desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados ‘profissionais da informação”.

Os telejornais e telenovelas estão a transformar-se nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação.”

O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”

Jornalistas e comunicadores em geral desinteressam-se da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.”

Estas opiniões agradam à minha sensibilidade. Também penso que é assim e que todo este envolvimento mediático e mediatizado, desde que bem “orquestrado” resulta em prejuízos monstruosos para pessoas e instituições. Para algumas, não para todas.

“Hoje” foi Jesus e as alegadas “luvas” no contrato de Júlio César, “ontem” foi Vale e Azevedo e o alegado aproveitamento de 5 milhões de euros nos negócios com a Euroárea, “anteontem” foi o contrato de benefício que Monteiro Lemos, administrador da RTP, teria assinado com o Benfica de Jorge de Brito, quando nos comprou os direitos televisivos. Tudo falso ...

Condenações feitas na praça pública por meliantes de papel e caneta. Condenações que não têm reparação possível. Até quando?