sexta-feira, 26 de junho de 2015

Surrealista



Portugal 26 de Junho de 2015

A inacreditável saída de Jorge Jesus do Benfica, é o facto mais marcante dos últimos tempos ou anos da gestão Vieira, e apesar de não ter podido reflectir sobre este assunto, não podia deixar de registar a minha opinião, para memória futura.
Quem me costuma ler, sabe que por diversas vezes me tenho referido a Vieira como uma espécie de “rei nu” ou alguém que “faz de conta que é presidente” do Benfica. Palavras e comparações duras, mas que não surgem do nada, não surgem de uma qualquer embirração pessoal, não surgem em qualquer contexto de politica interna, mas tão-somente da necessidade de provocar o debate em torno do caminho que o Benfica tem seguido desde 2000 para cá. Um caminho sinuoso, sem estratégia que promova os interesses económicos e desportivos do Benfica, sem resultados desportivos que justifiquem os avultados investimentos económico-financeiros que têm sido feitos, sem vermos a luz ao fim do túnel, como repetidamente temos ouvido dizer a Vieira que entrou no Benfica através do Dr.º Vilarinho, que funcionou na plenitude como um cavalo de Tróia.
A dimensão da hipocrisia demonstrada por Vieira neste processo, até a mim me surpreendeu, eu que tantas vezes o tenho acusado de ser farsante, de ser uma pessoa que representa o papel, faz de conta que faz, mas não faz. O convite para ir treinar uma grande equipa francesa, via Qatar onde estaria um ano, com o avião a sair no dia seguinte, é de um calculismo tão cínico, tão hipócrita, que rebenta com tudo que pensava que era negativo no Benfica.
Vamos a factos. O Correio da Manhã noticiou em Janeiro (!) o interesse do Benfica em Rui Vitória. Vieira nunca reuniu com Jesus para discutir a renovação, com o argumento rotineiro, “depois de terminar o campeonato falamos”. A partir de 1 de Janeiro, Jesus era livre de se comprometer com quem quisesse, mas a aparente relação de amizade entre ele e Vieira, dava garantias que o Benfica seria sempre a sua 1ª opção. Em 21 de Maio, a BOLA online anunciava “embora o presidente do Benfica Luís Filipe Vieira, ainda tenha uma reunião agendada com o treinador Jorge Jesus acerca da renovação do seu contrato, o máximo dirigente benfiquista já tem alternativas preparadas e uma delas é o técnico Rui Vitória do Vitória de Guimarães”. A 28 de Maio, no lançamento do jogo da Taça da Liga, Jesus disse que estava “apenas e só concentrado na final da Taça da Liga. O treinador do Benfica evitou falar do seu futuro e apontou baterias para a conquista de mais um troféu”. Em 3 de Junho o sitio Relvado transmitia a notícia “de acordo com a RTP, o clube da Luz só admite a saída do técnico de 60 anos para o estrangeiro, admitindo até facilitar a mudança, caso seja essa a vontade de Jesus, estando esse processo nas mãos do empresário Jorge Mendes. Porém o mesmo não se aplica ao território nacional, uma vez que o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, não o quer ver em Alvalade ou no Dragão. O líder encarnado tem consciência que não faz sentido deixar sair o treinador bicampeão para qualquer um dos rivais e o salário de quatro milhões não será impedimento para a renovação de contrato”.
Conjugando tudo isto resulta claro que a renovação com Jesus não era prioridade e que o salário de 4 milhões não era problema para a renovação, se as outras ofertas fossem nacionais. Qual era então a estratégia da SAD e do Sr.º Vieira, para o treinador que nos dois últimos anos, ganhou 6 títulos nacionais, incluindo um bicampeonato, e levou o Benfica a mais uma final europeia? Simples: NENHUMA! Ele devia sair, ir treinar para França via Qatar, o assunto estava nas mãos de Jorge Mendes (sempre este) e a questão da manutenção do salário só se aplicava caso ele quisesse treinar em Portugal.
A opção de Vieira traduziu-se numa enormíssima falta de respeito pelo treinador e pelo homem, e numa enormíssima falta de respeito por todos aqueles que acreditam que Vieira está a gerir o futebol a pensar no sucesso desportivo.
Quanto ao treinador teve azar e pela primeira vez teve alguém que lhe fez frente. Doravante, qualquer resultado desportivo de Jesus será sempre comparado com o Benfica de Vieira e Rui Vitória. Quanto aos adeptos, esses são mais fáceis de “enrolar”, já que a máquina de propaganda, não deixa nada ao acaso tendo conseguido transformar a vítima em ré! Ou seja, quem traiu as expectativas de Jesus e dos benfiquistas, Vieira, passou por traído, quem foi traído porque contava com um reconhecimento pelas últimas vitórias, passou por traidor (Judas).
Como isto se faz? Simples. Nos primeiros 4/5 dias após a consumação da passagem de Jesus para o SCP, só ouvimos e lemos gente a falar do ponto de vista de Vieira. Ao fim de 4/5 dias, é quando lemos e ouvimos a versão das gentes ligadas a Jesus. Mas já vão tarde porque a opinião dos adeptos já estava formada a favor de Vieira. A comunicação social é o 4º poder e não é por acaso. Porque razão Vieira tem tratamento VIP para os “mídia” e os outros não? Também é simples de responder: Vieira é o rosto de uma estratégia alheia ao Benfica, com muita gente que está a parasitar os nossos interesses e que tem muita influência nos mídia: Jorge Mendes e Joaquim Oliveira!
Posto isto, e quando ouço que Vieira recebeu os deputados e no seu discurso, escrito por alguém que ainda não tivemos o prazer de conhecer, disse que “é preciso ser grato”, concluo que a sua hipocrisia rebentou com a escala.
14 épocas, 4 campeonatos, 3 deles com o treinador a quem se abre a porta para sair do clube, 200 milhões de divida bancária, 200 milhões de juros pagos, são estes os “títulos” de Vieira e quem o acompanha. O objectivo não é, nunca foi, ganhar no futebol. São outros interesses que estão a enriquecer muita gente, dentro e fora do Benfica.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A "estrutura"...



Portugal 11 de Junho de 2015

Após a conquista do bicampeonato, que vendo bem, parece que surpreendeu muita gente responsável do Benfica, apareceram uns quantos “lambe-botas” na comunicação social, onlines, intervenções públicas, etc, a falar da importância da “estrutura” do Benfica ou da mudança de “paradigma” desportivo, sugerindo que o Benfica estava a terminar o reinado do FCP no domínio pelo futebol português.
À data que escreveram isto, estamos a falar de um “paradigma” constituído por 1 penta, 1 tetra, 1 tri e vários bicampeonatos do FCP, nestes últimos 31 anos. É fantástico como um simples bicampeonato do Benfica pode por essa gente muito inteligente, ou muito lambe-botas, a falar de mudança de paradigma.
Se razões havia para pensar que não há qualquer mudança de paradigma, pelo estilo, estratégia e resultados conhecidos da gestão Vieira, os primeiros sinais de que não haverá qualquer mudança foram dados com a sugestão dada a Jesus que deveria ir treinar para o Qatar e aproveitar o contrato da vida dele. Efectivamente um gestor, alguém que toma decisões de forma racional mas com um objectivo ganhador, não pode mandar embora quem conhece e tem resultados, para apostar num treinador que por melhor curriculum desportivo que tenha, chega e arrisca-se a perder, porque como sabemos, a nossa competição não é limpa, não e justa, obriga o Benfica a jogar muito mais do que os outros para ultrapassar todo o tipo de armadilhas que nos são colocados. Portanto não basta ser um “bom “treinador lá fora, porque no Benfica é tudo diferente.
Mas também nunca haveria mudança de paradigma desportivo por influência positiva da “estrutura” do Benfica, uma vez que a estatística é como o algodão e não engana! Nestes últimos 6 anos de Benfica, com uma aposta no futebol espectáculo e com um treinador que devido a N factores conseguiu recolocar o Benfica na senda do sucesso, o FCP ganhou 3 campeonatos onde ultrapassou sempre a fasquia dos 80% de pontos conquistados, chegando aos 90% num deles. Mesmo na derrota de “Lolpetegui” conseguiram 80% de pontos justos!
Se recuarmos ao tetra do FCP, Co Adrianse mais Jesualdo Ferreira (2005/06 a 2008/09), constatamos que todos esses títulos foram ganhos abaixo dos 80% de pontos!
A marca dos 80% é um valor de referência porque foi com 80% que Mourinho ganhou o 2º título de campeão no FCP, com uma equipa que, com ajudas de arbitragem ou não, com sorte no sorteio ou não, ganhou a Champions League ao Mónaco. Ora se Mourinho com uma boa equipa fez “apenas” 80% fácil é concluir que, se actuais equipas do FCP não são treinadas por treinadores acima da média, nem por jogadores que deixam marca, então a subida de pontuação das equipas do FCP deve-se apenas a um factor: maior domínio da arbitragem.
Então como é que o Benfica ganhou 3 campeonatos em 6 possíveis, se o FCP aumentou o domínio da arbitragem por ineficácia, incompetência ou desleixo da nossa “estrutura”? Exactamente porque o treinador era muito bom. Não porque a “estrutura” do Benfica justificasse essa melhoria de perfomances no futebol, mas sim porque o treinador, um “achado” nos dias que correm, era bom. Talvez bom demais para a estratégia dos poderes do futebol, que Vieira representa de forma exemplar. A extraordinária capacidade para dizer hoje uma coisa, e amanhã justificar o seu oposto, não está ao alcance de qualquer um. Só pessoas com elevado potencial e/ou máquina de propaganda mediática (paga, obviamente), podem alcançar o nível que o Sr.º Vieira já alcançou em 14 épocas em que prometeu muito e alcançou pouco.
A “estrutura” é pois uma figura de estilo sustentada não em factos mas em opiniões, vindas quase sempre de gente beneficiária do actual modelo de gestão “empresarial” do Benfica, seja o administrador da SAD (onde é que ganhava 250 mil por ano?), sejam os opinadores de serviço (milhares de euros mensais), sejam outros avençados espalhado em blogues e outros espaços online. A “estrutura” pretendeu reter os méritos de Jesus, ou partilhá-los, para suavizar a sua saída e não porque os mereça de facto.
Daqui a um ano, a “estrutura” irá ser julgada pelas opções que fez, comparadas com as da época que agora termina. Se tudo isto contribuir para esvaziar o estado de graça de Vieira, valeu a pena. Pelo Benfica!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Os meus destaques do 34



Portugal 4 de Junho de 2015

Parece que já foi há 1 mês que nos sagramos campeões, bicampeões, e foi apenas há dias. Mas tantas notícias contraditórias têm sido publicadas, com concordância ou não dos nossos “altos” responsáveis, que diria que hoje em dia interessa mais é saber se JJ fica com o mesmo salário, se vai para o SCP ou se aceita uma das propostas tentadoras que lhe têm sido colocadas pelo seu empresário, ficando nós sem saber porque razão o Benfica ainda não fez qualquer proposta “tentadora” (mantenho este parágrafo, porque quero exprimir – com toda a pureza - o que pensei ontem sobre isto. A seu tempo escreverei sobre a saída de JJ).
O 34º campeonato foi uma prova difícil, ganha com mérito, raça, querer e ambição de muita gente. Quero aqui deixar os meus sublinhados, não esquecendo nunca, e em primeiro lugar, o apoio dos adeptos espalhados pelo país fora, que nos momentos menos bons conseguiram ser o 12º jogador, empurrando para cima o que os adversários e árbitros tentavam empurrar para baixo. Para além dos adeptos, queria registar mais o seguinte:
Artur Moraes - apesar de ter vindo a perder importância na equipa, em particular depois da lesão em Olhão na época passada, quando surgiu um super Oblak que veio mostrar ser um dos melhores guarda-redes da Europa, dizia eu que Artur Moraes foi determinante na conquista da Supertaça, defendendo duas grandes penalidades, num jogo em que não conseguimos marcar um golo ao Rio Ave, mas também, e em particular, defendendo o penalty contra o Paços de Ferreira, aos 15 mn da 1ª jornada. Dado o fraco nível técnico que a equipa apresentava, depois de uma péssima pré temporada, se o Paços tem feito golo não sei se teríamos ganho o jogo, e com isso marcado 3 pontos que também nos permitiram ganhar o campeonato! Uma derrota ou um empate nesse jogo teria sido terrível para os nossos principais objectivos. Artur Moraes não deixou.
Eliseu – Na fase inicial da época, foi com dois grandes golos de Eliseu que nos mantivemos nos lugares de cima da classificação. Ao Boavista, onde vencemos com o seu golo, e depois frente ao Moreirense, onde com o seu golo empatamos um jogo que estávamos a perder. E que depois ganhamos marcando mais 3 pontos.
Luisão e Jardel – desfeita a dupla Luisão + Garay por critérios que poucos entenderam, Jardel foi o escolhido para jogar ao lado do “professor” Luisão. E os resultados não deixam margem para dúvidas: 16 golos sofridos, 2 de grande penalidade. Luisão primou pela sobriedade defensiva, Jardel marcou 1 golo determinante, já na 2ª volta, aos 94 mn em Alvalade, ajudando assim a tirar o SCP das contas do título, e ajudando a cimentar a entrada directa na Liga dos Campeões.
Talisca – ainda na fase inicial da prova, digamos, o primeiro terço (11 jogos), o jovem de 20 anos Talisca acabou por ser uma grande alavanca no lançar de bases para a conquista do título. Com um Lima em crise (sem Cardozo ao lado, isso não me surpreendeu), foram também os golos de Talisca que nos ajudaram a facturar muitos 3 pontos. Setúbal (hat-trick), Estoril e Rio Ave (ganhamos 1-0) são 3 jogos que até à jornada 9 evidenciam a importância de Talisca. Sem o seu contributo tenho dúvidas que existisse este 34.
Júlio César – contratado com o “comboio” em movimento, foi com algum sentimento de injustiça que o vi ocupar o lugar de Artur Moraes, em particular porque este tinha começado bem a época, dando-nos a Supertaça e ajudando a ganhar ao Paços na 1ª jornada. Ironia das ironias, Artur esteve mais de 200 mn sem sofrer golos, e Júlio César apenas 17 mn! Contudo com o passar dos jogos, Júlio César foi ganhando confiança e ajudou, de que maneira, a manter a baliza inviolada nos dois jogos com o FCP. E isso também foi determinante para a conquista do título.
Lima – jogador muito adorado pelos adeptos, ou não fosse um jogador também bem visto pela comunicação social, Lima foi na fase inicial da época um autêntico flop. Se a “estrutura” do Benfica apostava nele para segurar as pontas da equipa, os poucos golos e assistências, confirmaram o que era previsível da leitura das suas estatísticas: marcou 20 golos quando jogou ao lado de Cardozo, e apenas 14 ao lado de Rodrigo. Não foi por acaso. Contudo tem de ser feita justiça, pois foi determinante num único jogo: no Porto com os dois golos que marcou, que nos deram a vitória e nos permitiram acreditar que afinal, contra tudo e todos, era possível ficar à frente do FCP.
Jonas – Veio à 7ª jornada, mais uma prova da má gestão que a “estrutura” do Benfica fez e faz. Podia ter sido trucidado caso a situação na tabela classificativa fosse má. Não foi assim, a equipa estava bem, e Jonas teve condições mentais, psicológicas e técnicas para mostrar o que é: o melhor jogador da Liga Portuguesa para a UEFA. Os seus golos estão associados à conquista do campeonato. Sem Jonas o título teria sido impossível!
Jorge Jesus – A inveja é tramada e ainda se vê e escuta muita gente a criticar o seu ordenado, ou a desvalorizar o seu mérito no futebol actual do Benfica, com alegadas condições que outros não tiveram. Uma falácia completa de gente mesquinha que não vale os “tomates de um gato”. Ao longo de 6 anos, e comparando apenas as épocas 2009/10 a 12/13 (os únicos dados que recolhi de um artigo qualquer), o FCP investiu 29,7+43+41,6+10 = 124,3 milhões. O Benfica investiu 34,3+36,1+29,7+22 = 122,1 milhões. Em ambas as situações não estão incluídas as vendas de jogadores do plantel principal, o que poderia dar uma medida do empobrecimento ou não, do valor desportivo de cada equipa. Mas com algum bom senso, também concluímos que não ganhamos os campeonatos de 11/12 e 12/13 por razões extra desportivas, e não por erros de Jesus ou porque o FCP investiu ligeiramente mais do que nós.
Jesus foi o “cimento” aglutinador da equipa. Aquele que com a sua sabedoria de anos de bola, impôs a sua liderança com naturalidade. Aquele que veio de baixo e teve de lutar para ser melhor, que teve a capacidade para coleccionar conhecimentos e competências, aquele que utilizou bem toda essa experiência adquirida em prol das equipas que treinou e treina, e que no Benfica resultou em 3 campeonatos limpinhos, em 6 possíveis. Só quem não sabe como a arbitragem é e continuará a ser responsável pela atribuição dos títulos, e que para o Benfica reduz a pontuação, só quem não conhece a importância da pressão mediática e a sua influência nos adeptos do Benfica e por consequência nos jogadores e treinadores da equipa, é que poderá desvalorizar os feitos de Jesus. Ou, também pode ser isso, por má fé e tacanhez de vistas, algo que me custa a aceitar num clube que se diz grande. Mas de grandeza, e isso é uma constatação, apenas tem os seus sócios e adeptos, e o seu passado glorioso. No presente somos um clube de gente muito pequena e perigosa.
Uma palavra naturalmente para todos os outros jogadores, cuja entrega, raça e ambição ajudaram a ser bem sucedidos. E também para o Lopetegui que errou o suficiente em dois ou três jogos, como o FCP - Benfica e com isso, ajudou-nos a chegar aos 83% de pontos e à vitória no campeonato.

Portugal 5 de Junho de 2015