quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Um balanço da Champions

Portugal, 22 de Dezembro de 2011

Como alguns se recordarão, antes do jogo com o Manchester tive o “atrevimento” de fazer uma previsão sobre algumas variáveis de jogo. Previsão? Isso mesmo, fi-la antes do jogo se realizar, com base na estatística das duas equipas até então, fazendo um certo tipo de correcção ao Manchester por jogar em casa, e ao Benfica por jogar fora. Após o jogo verificou-se o seguinte:

MU:
Previsão de posse de bola entre 58% e 63%. No jogo: 63%! Previsão de faltas cometidas entre 8 e 11. No jogo: 13! Previsão de remates à baliza entre 11 e 15. No jogo: 13! Remates enquadrados com a baliza entre 5 a 8. No jogo: 7! Previsão de cantos contra nós, entre 3 e 5. No jogo: 6!

Benfica:
Previsão de posse de bola entre 37% e 42%. No jogo: 37%! Previsão de faltas cometidas entre 14 e 18. No jogo: 18! Previsão de remates à baliza entre 7 e 10. No jogo: 10! Remates enquadrados com a baliza entre 3 a 6. No jogo: 4! Previsão de cantos a favor, entre 1 e 4. No jogo: 2!

O prazer que me deu verificar que é possível antever o rendimento de duas equipas, com base no seu desempenho anterior, é justificado porque assim vi recompensada a minha maneira de ver o futebol, mais baseada nos números do que nas emoções ou sentimentos.

Cumulativamente o Benfica empatou a 2 e conseguiu logo aí, a qualificação para a fase seguinte, um dos objectivos da época. A minha satisfação foi pois dupla.

Recuperando os números do Benfica nesta fase da Champions, temos que fizemos 101 faltas e recebemos 74, fizemos 66 remates, 29 (44%) dos quais enquadrados com a baliza, tivemos em média 47,2% de posse de bola, tivemos 37 cantos a favor e 19 contra, fomos apanhados 9 vezes em fora de jogo contra 31 dos nossos adversários, recebemos 14 cartões amarelos, tantos quantos os adversários, e 1 vermelho contra nenhum dos adversários. Marcamos 8 golos e sofremos 4.

Os números têm várias leituras, nenhuma delas definitiva, mas a que me interessa mais é a comparação com os números do FCP, o nosso concorrente nacional. Assim eles fizeram as mesmas 101 faltas contra 93 dos adversários, fizeram 96 remates, 44 (46%) dos quais enquadrados com a baliza, tiveram em média 52% de posse de bola, tiveram 42 cantos a favor e 29 contra, foram apanhados 3 vezes em fora de jogo contra 32 dos adversários, receberam 19 cartões amarelos contra 17 dos adversários, e 1 vermelho contra 2 dos adversários. Marcaram 7 golos e sofreram outros 7.

Há alguns números que merecem reflexão porque se cruzam com o “sistema” que está implantado em Portugal, para os favorecer em termos de campeonato, com base no que já várias vezes referi, “manual” de erros de arbitragem. Repare-se que apesar do estatuto de 1º cabeça de série, ou seja, jogando contra 3 equipas de menor valia estatística, o FCP teve mais cartões amarelos, os mesmos cartões vermelhos, fizeram o mesmo número de faltas, marcaram menos golos e sofreram mais do que o Benfica, 2º cabeça de série, que jogou contra equipas estatisticamente mais difíceis!

Se compararmos com as primeiras 10 jornadas dos últimos 5 anos do campeonato nacional, estatísticas oficiais da Liga, o FCP marcou os mesmos golos do que o Benfica, 104, sofreu 30 (menos 14 do que o Benfica!), tiveram 102 cartões amarelos (125 o Benfica), e entre duplos amarelos e vermelhos tiveram 3 expulsões contra 6 do Benfica! 

Há pois uma clara diferença de certas variáveis de jogo entre a Champions e a Liga Portuguesa, as quais dependem – não só mas também – dos critérios de arbitragem! Dizer-se que o Benfica não ganha tantos campeonatos porque é uma equipa indisciplinada ou sofre golos que não devia, como se vê é desmentido nas provas da UEFA. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O pós jogo.

Portugal, 19 de Dezembro de 2011

No futebol há uma “lei” que diz que não há 2 jogos iguais. Os jogos com o Marítimo provaram isso mesmo, pois perdemos um para a Taça de Portugal, e ganhamos outro para o Campeonato.

Estas “leis” básicas de futebol, tal como outras “leis” apriorísticas no mundo do futebol, nem sempre são consideradas por quem tem responsabilidades de fazer opinião. Vem isto a propósito do Pós-Jogo, programa que é transmitido na Benfica TV, onde um conjunto variável de 3 convidados dá as suas opiniões sobre o jogo que terminou. Neste caso, foi o Marítimo - Benfica. Também é aberto à participação de espectadores através de uma linha telefónica, que quando tento, está sempre ocupada.

Ora depois do jogo, de um conjunto de 6 telespectadores, 4 optaram por sublinhar com mais ou menos intensidade, o jogo menos conseguido do Benfica, o defesa esquerdo que os preocupa e a entrada tardia do Nolito. Todos manifestaram claramente preocupações com o “mau” jogo do Benfica e com a falta de qualidade de Emerson. 2 dos quatro reforçaram que o Nolito tinha entrado tarde.

Confesso que fiquei algo estupefacto porque supunha que devíamos estar contentes por termos ganho num campo difícil (4º classificado). Mas ainda pior, foi ter percebido que a velha glória José Augusto também ajudava à “festa”... De facto após uma intervenção em que também manifestou alguma preocupação pelo jogo menos conseguido (?!?!) do Benfica, numa segunda intervenção acabou por dizer que é “adepto do Benfica jogar com 2 extremos colados à linha”.

“Destrocando” isto, temos que (1) José Augusto é adepto do 4-4-2 que nos anos 60 permitiu ao Benfica dar “cartas”, cá e lá fora, (2) não surpreende que ao longo dos anos vários treinadores do Benfica tenham adoptado este modelo, sem ganhar títulos (Koeman e Quique com 4-4-2 clássico, F. Santos com 4-4-2 em losango), percebendo-se agora que a opção é ditada pelas opiniões de ex-glórias e outros ex-dirigentes do Benfica, (3) José Augusto, bem como outras velhas glórias e outros ex-dirigentes pararam no tempo e não percebem as dinâmicas actuais de jogo (o Real Madrid joga em 4-2-3-1, o Barca em 4-3-3 versão Guardiola) que inutilizam com facilidade os modelos 4-4-2, (4) após a Benfica SAD se ter endividado em 160 milhões de euros apenas para o futebol, José Augusto tem o desplante de sugerir que a equipa não está a jogar “bem”.

Este é o Benfica de que não nos conseguimos livrar, por mais estádios que se construam, mais profissionalismo que a estrutura directiva promova, por mais saltos que se dêem a pensar no futuro, porque o problema é de mentalidade, é de cultura desportiva. Ou de falta dela.

Quando se ganha, joga-se sempre “bem”. Porque o objectivo primeiro do jogo é ganhar e somar 3 pontos! O segundo objectivo poderá ser a nota artística, mas nunca o factor essencial de um jogo. Não perceber isto é não perceber porque razão o Dortmund tem quase 70 mil espectadores por jogo em sua casa. E quando o próprio José Augusto não percebe, ele que foi dos melhores jogadores do seu tempo, então estamos muito mal!

Bom, no dia seguinte o Sr.º António Tadeia, comentador da RTP (jornalista no JOGO e adepto do SCP), disse que o Nolito tardou a entrar no jogo, e fiquei a perceber porque razão 4 dos 6 adeptos também acharam isso. Até porque Tadeia comenta na TSF por vezes (não sei se foi o caso, mas como eles pensam todos por igual ...). A influência da comunicação social uma vez mais evidente, porque não lembraram que no jogo anterior da Taça, Nolito foi titular e o Benfica perdeu ...

Concluindo, o Marítimo com uma equipa “remendada” devido aos 3 jogadores do meio campo que habilmente o árbitro Jorge Sousa “eliminou” do jogo com o FCP (José Augusto esta parte parece não ter percebido), acabou por resistir 80 mn em casa do FCP, mesmo a jogar com 10 desde os 42 mn. Apenas menos 5 mn do que no jogo com o Benfica. Que dizem ter jogado “mal”...

Ah, e o RECORD fez hoje uma noticia sobre o jogo difícil que o SCP tem para a Taça ... com o Marítimo!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma Taça de Desilusões I

Portugal, 5 de Dezembro de 2011

A eliminação da Taça de Portugal volta a colocar na ordem do dia o debate sobre o verdadeiro objectivo da SAD do Benfica, que parece estar (ou é “obrigada” a estar) mais voltada para a vertente económica do que para a vertente futebolística.

Em 11 participações na Taça, deste “projecto” desportivo de Vilarinho/Vieira, falhamos a final por 9 vezes (!) o que é um registo pobre para a equipa com maior número de vitórias nesta competição. O registo de eliminações apresenta algumas curiosidades. Assim, fomos eliminados 2 vezes por FCP, Guimarães e Marítimo, 1 vez por SCP e Leixões (nas grandes penalidades) e 1 vez pelo Gondomar da 2ª B. Das 8 eliminações na prova a um só jogo, cedemos 2 vezes (FCP e Marítimo) depois de jogarmos primeiro em casa. O Guimarães neste período foi a única equipa a eliminar-nos 2 vezes em nossa casa. E foi em nossa casa que sofremos a maior humilhação da nossa história na prova, ao sermos eliminados pelo Gondomar da 2ª divisão B.

Na questão casa e fora, nestas 8 eliminações jogamos 6 vezes em casa, o que diz bem do que significa o actual Inferno da Luz para os nossos adversários: zero! Mas bom, temos um estádio novo (por pagar), cadeirinhas estofadas (para outros incendiarem), lojas de comida em todos os pisos, cobertura em todo o estádio (ao contrário dos “pobres” do Barcelona que só tem cobertura em menos de num terço do mesmo), etc. E todos nos elogiam ...

Para o Sr.º Vieira está tudo bem, “temos outras provas para ganhar”. Ou seja, a Liga dos Campeões, o Campeonato e a Taça que ninguém Liga, e por isso mesmo os árbitros parecem ter autorização para, de vez em quando, errar a nosso favor de forma grosseira.

Convenhamos que o Sr.º Vieira e a equipa que lhes escreve os discursos, sabem contornar o desânimo dos adeptos, de cada vez que perdemos uma competição. Porque há que alimentar a ilusão, a chama, o apego à equipa, pois há bilhetes e muito merchindising para vender, a Sporttv factura menos quando andamos cabisbaixos, etc, etc. E se não vendermos, o Benfica fica nas mãos dos Bancos a quem devemos mais de 240 milhões de euros de empréstimos.

É este o Benfica da refundação que falava há dias, o Dr.º Domingos Soares de Oliveira (que não mente pouco) em entrevista ao jornal do Benfica.

Sem querer ser mauzinho, o Benfica perdeu este jogo porque foi buscar um guarda-redes para agradar à comunicação social e a todos os que dentro do Benfica, acharam um erro tremendo gastar 8 milhões no Roberto quando tinham ali 60% do português Eduardo por 4 milhões. Se a estupidez futebolística fosse música, o Benfica tinha a melhor orquestra do campeonato, por larga margem!

Eduardo estava condenado a ser um fracasso no clube do seu coração. Porque a pressão de ganhar é superior à de Braga e Génova, e porque trazia de Itália (onde há maior cultura defensiva) uma média de golos sofridos de 1,4 golos por jogo! Roberto sofreu 0,92 e foi o que se sabe. Mas no Benfica ninguém pensa, porque quem paga os prejuízos é o dinheiro dos sócios ...

Claro que podíamos falar de arbitragens. Apesar de termos sido prendados com 1 penalty duvidoso (só pela televisão, porque no campo qualquer um marcava), voltamos a ser penalizados em 2 foras de jogo inexistentes (mn 31 e 59) e o adversário voltou a beneficiar do critério disciplinar “largo” aos mn 22 e 29, não levando 2 cartões amarelos! O truque de sempre que ajuda a aumentar os níveis de confiança do adversário. Quem ainda não sabe porque razão os nossos adversários metem mais o pé contra o Benfica do que contra o SCP e o FCP, depois de se gastarem 160 milhões de empréstimos bancários nas contratações de 10 épocas, ou é burro ou continua a brincar com o dinheiro dos sócios ....

Se estendermos a análise das questões de arbitragem às outras 9 eliminações, iríamos concluir que em pelo menos 5 (!) houve erros de arbitragem com influência directa no resultado: FCP (Carlos Xistra, 2ª mão, 2010/2011), Guimarães (Elmano Santos, 2009/2010), Leixões (Olegário Benquerença, 2008/2009), SCP (Jorge Sousa, 2007/2008) e novamente Guimarães (Jorge Sousa, 2005/2006)...

sábado, 26 de novembro de 2011

O derby da caixa

Portugal, 26 de Novembro de 2011

Vai começar dentro de minutos o jogo Benfica - SCP, que após alguns anos de interregno, ficou marcado pela polémica criada em conjunto por certos sectores da comunicação social e por ex e dirigentes do SCP, relativamente à implementação de uma caixa de segurança para adeptos dos dois lados.

Um jornal avançou há cerca de 15 dias com a ideia que o Benfica ia montar uma “jaula” para os adeptos do SCP, e a partir daí sucederam-se as atitudes tacanhas da envolvente sportinguista. A comunicação social, que nos últimos anos parece caminhar para uma tez esverdeada em Lisboa, não se limitou a escutar as opiniões dos actuais dirigentes do SCP, como foi escutar as opiniões de ex dirigentes, como Miguel Salema (BOLA) e Dias da Cunha (CM).

Estrategicamente, esta comunicação social deixou a PSP para o fim e aí percebeu-se que, uma vez mais, a “montanha” sportinguista tinha parido um rato: a caixa está prevista na lei e a PSP aprova-a. Qual o drama então?
Ficaremos sem saber que outras razões teve o SCP para faltar ao almoço de Direcções, mas aposto que quando visitarmos Alvalade, lá teremos a caixa de segurança do SCP para os adeptos do Benfica. Adiante.

Sobre o jogo, muita análise foi feita, muita conjectura se plasmou em comentários e opiniões, escritas e faladas. Creio haver espaço para mais uma.

Da parte do Benfica, penso, ao contrário do que muitos disseram, que o jogo a meio da semana com o Manchester, teve mais pontos positivos do que negativos. Porque manteve a equipa em competição a alto nível, beneficiando de acréscimo de ritmo competitivo, e porque o bom resultado – histórico – de lá trazido, funciona como injecção de moral e motivação para os jogadores que jogaram, e os que não alinharam mas sentem que fazem parte de um grupo forte, em que não é fácil entrar. Pena a lesão de Luisão, mas Jardel ou Miguel Vítor darão conta do recado. Já o SCP não pode dizer o mesmo, e o facto de ter tido uma semana para preparar este jogo do ponto de vista físico não creio que lhe traga muitas vantagens, porque o Benfica teve 4 dias para descansar o que é superior ao mínimo que se considera adequado para a recuperação muscular (72 horas).

Sobre o SCP, penso que o facto de ter bastantes jogadores jovens, em idade e no clube, poderá ser negativo quanto à capacidade para reagirem a um ambiente adverso e em clima de grande rivalidade. Neste aspecto o Benfica tem vantagem, porque tem menos jogadores nessas condições. E os que temos já passaram pelo campo do FCP, pelo que já adquiriam alguma experiência.

Relativamente às consequências do jogo, parece-me que o SCP tem mais a perder do que o Benfica, pelo que deverá entrar mais pressionado. Embora durante toda esta semana, a comunicação social tenha dado uma ideia diferente, como que se o jogo fosse decisivo apenas para o Benfica ...
É evidente que ninguém quer perder e que uma vitória será sempre positiva para a equipa que a alcançar, e para os seus jogadores. Mas numa perspectiva puramente matemática, o Benfica se ganhar deixa o SCP a 4 pontos e com um calendário final nesta 1ª volta, de dificuldade superior ao nosso. Se acontecer o contrário, ficamos a 2 pontos do SCP e eventualmente 3 do FCP. Que também tem um calendário um pouco mais difícil que o nosso. Digamos que um eventual mau resultado terá consequências mais negativas para o SCP do que para o Benfica.

Quanto ao jogo em si, que neste momento que concluo este texto já decorre, ainda com 0-0, para mim há ainda o interesse de saber como reage o SCP ao defrontar o adversário mais difícil da época, fora de casa (a Lázio jogou em casa do SCP), assim como tenho interesse em saber se o nosso Benfica, neste 2º jogo mais difícil da época em nossa casa, conseguirá fazer melhor do que com o Manchester e Basileia. O árbitro é português, adepto do FCP (apesar de lisboeta), e isso também acrescenta algumas nuances ao jogo. Que ganhe o Benfica.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Champions e o jogo de Manchester

Portugal, 16 de Novembro de 2011

Após o empate com o Basileia voltaram as carpideiras do costume, manifestando-se por tudo quanto era sitio, fosse na Internet (os adeptos), fosse na comunicação social (os jornalistas, analistas e notáveis do clube). Li um desabafo num blogue, de alguém que esteve lá e chorou (!?) por não termos conseguido ganhar e apurarmo-nos para a fase seguinte, logo seguido de um apelo à coragem que “vamos conseguir”. Noutros lados li sobre as dúvidas e incertezas que se instalaram nas cabeças e corações dos adeptos e percebi que 10 anos depois, apesar do tal projecto empresarial “ganhador”, tudo continua igual na descrença e tudo continua igual na falta de fair-play de sócios e adeptos.

Posso parecer um benfiquista “anormal” porque não sinto o Benfica da maneira que a maioria sente, mas isso não quer dizer que não me importe ou que não queira ganhar mais. Este tipo de sentimento nada tem que ver com a minha antipatia pelos actuais “donos” do clube e SAD, porque já era assim antes. Lembro-me de ir a Espanha no dia seguinte aos 7-0 (não podemos esquecer) de Vigo e levar um boné do Benfica pendurado no lado de dentro do vidro do carro. Tal como nos dias seguintes, pois não o tirei. Podemos escorregar, mas nunca caímos. É assim que penso, mesmo que durma mal após cada resultado menos bom.

O caso do empate com o Basileia nem é nada disso, pois é um resultado positivo. Por resultado positivo entendo todo o que contribui para a obtenção do objectivo final, que neste caso, é passar à fase seguinte. Ora se empatamos, tiramos 2 pontos ao nosso concorrente directo e ficamos com vantagem no goal-average. Podia ter sido melhor? Claro que sim, mas o Manchester não terá pensado o mesmo quando empataram 3-3?

No futebol há que saber ganhar, saber perder e saber empatar. Nós no Benfica, queremos ganhar sempre e parece que não percebemos que às vezes isso pode não acontecer, porque os outros também estão ali para jogar. O Basileia tem menos “nome” que o Benfica? Sem sombra de dúvida. Mas não são os nomes que ganham jogos, mas sim as equipas. E o Basileia terá seguramente um bom orçamento, ou não viesse de um país desenvolvido. Ora com bons orçamentos contratam-se bons jogadores, e com bons jogadores é mais fácil ganhar jogos.

Virando o disco para a estatística, com base nos dados da UEFA podemos avaliar a carreira do Benfica nesta Champions de forma mais cerebral, tentando prever os próximos jogos. Assim estamos com uma média de 47% de posse de bola (só em 1 dos 4 jogos, temos mais que o adversário), fazemos 16 faltas e sofremos 11 faltas por jogo, rematamos 12 vezes por jogo (5,5 enquadrados com a baliza), permitimos 8 remates dos adversários por jogo (3 enquadrados com a baliza), obtemos 7,5 cantos e concedemos 3 por jogo, somos apanhados em fora de jogo 2 vezes por jogo contra 5 do adversário. Na disciplina temos 10 cartões amarelos, tantos como os adversários, e 1 vermelho contra 0 dos adversários.

Os números valem o que valem, mas o jogo que tivemos menos posse de bola (39%), em casa com Manchester, foi o que rematamos mais (14). No jogo que fizemos menos remates (7), ganhamos 2-0 ao Basileia, que também foi o jogo em que concedemos mais remates ao adversário (13) e o que fizemos mais faltas (19). No jogo com mais posse de bola (61%), no Otelul, fizemos 13 remates e 14 faltas. O pior desempenho no capítulo dos remates foi em casa com o Basileia, sendo que dos 13 remates, apenas 3 foram enquadrados com a baliza.

Posso salientar que o Basileia em Manchester rematou 13 vezes, tantas como o MU, sendo que 5 remates foram enquadrados com a baliza, contra 7 do MU. A posse de bola e os cantos foram iguais para cada equipa! Nada mau para os suíços.

Dito isto, que Benfica se pode esperar em Manchester? Desde logo um Benfica vencedor, acreditando no potencial da equipa e na sua capacidade de inventar jogo perante circunstâncias adversas que podemos estimar com base nos dados do Manchester. Assim prevejo um MU com muita posse de bola, entre 58% e 63%, com poucas faltas cometidas, entre 8 e 11, obrigando-nos a fazer mais faltas que eles (o que tem sido hábito), entre as 14 e as 18, com muitos remates à baliza, entre 11 e 15 (nós deveremos obter entre 7 e 10), sendo enquadrados com a baliza 5 a 8 (nós 3 a 6), entre 3 a 5 cantos contra nós, 1 a 4 a nosso favor.

Uma vitória em Manchester significa o 1º lugar e o coroar da melhor Champions que já fizemos no actual modelo de prova. Assim o espero.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

As contas? Um prodígio!

Portugal, 14 de Novembro de 2011

“A Benfica SAD apresentou as contas consolidadas da época 2010/2011. Com todo o respeito e sem qualquer laivo de subserviência, são um prodígio”. Pragal Colaço, jornal O BENFICA de 4 de Novembro.

As contas do Benfica, como as contas do País, como as contas do que nos é querido, interessam-nos de sobremaneira. No Benfica acresce um interesse redobrado porque a criação do Grupo Empresarial Benfica abriu profundas “brechas” na democracia do clube, com a rejeição (por via de providência cautelar somada às eleições do trunfo Jardel e abraço do Eusébio), da votação do modelo de SAD aprovado na maior Assembleia-geral de que há registo num clube de futebol, em Fevereiro de 2000. E porque o novo Grupo Empresarial foi promovido como a solução mais correcta e adequada à exploração da marca Benfica.

Como alguns devem estar lembrados, nessa Assembleia-geral de, creio, 21 de Fevereiro de 2001, os protagonistas não foram a Direcção do Clube, mas sim os representantes do BES, Banco Espírito Santo. Começava aí a dependência do Clube aos interesses exteriores, e começava aí uma antipatia natural que tenho com o BES e que hoje ainda dura, pois nunca investi um cêntimo nas suas campanhas disto e daquilo.

Mais difícil será lembrarem-se que a equipa de futebol, já sob comando de Toni, fez uma série de 6 vitórias consecutivas, situando-se nessa data em 2º lugar a 2 pontos do Boavista. Aprovado o Grupo Empresarial num sábado, o Benfica empatou 0-0 com o Boavista no domingo e daí até ao fim, foi sempre a cair. Nas jornadas em falta passamos de um 2º lugar a 2 pontos do 1º para 6º lugar a mais de 20 pontos do 1º lugar. As coincidências do nosso futebol...

Ora a problemática das contas do Benfica é por todas estas razões, demasiado importante para lermos o que pessoas “não subservientes” têm para nos dizer. Até porque também sabemos ler e analisar alguns aspectos das Contas do Clube.

Pegando nos quadros que o Dr.º Colaço entendeu dar destaque, verifica-se o seguinte nos últimos 3 exercícios: os resultados líquidos, os que de facto interessam, foram de –34,856 milhões, -18,998 milhões e –7,663 milhões! Ou seja, as virtudes deste Grupo Empresarial estão aqui bem expressas: ao fim de 10 anos, obtivemos um conjunto de 3 resultados negativos que no total somam mais 61 milhões de euros! Imagine-se que era a gestão do Dr.º Vale e Azevedo a registar estes prejuízos assustadores e seguramente que, sem qualquer laivo de subserviência, o Dr.º Pragal Colaço tiraria outras conclusões. Não no jornal O BENFICA, mas talvez no jornal O JOGO.

Haverá alguma probabilidade do próximo exercício ser positivo? Não tenho muitos conhecimentos de contabilidade, mas afigura-se-me que não. E porquê? Porque as receitas operacionais estão estabilizadas e só podem crescer com uma “super época” do Benfica na Champions, os critérios de natureza contabilística se mantém e os custos financeiros que foram de 11 milhões no exercício anterior (antes da inclusão da Benfica Estádio), também. Note-se que apenas estou a analisar a questão da SAD (só futebol) e não a do Consolidado da SAD (que inclui entre outras, a Benfica Estádio). O que quer dizer que no próximo exercício, se o futebol não chegar às meias-finais da Champions, mais milhão menos milhão, o Benfica SAD vai voltar a ter resultados líquidos negativos.

O único prodígio que vejo nisto tudo, é a mediocridade prodigiosa que reina no nosso clube, e a facilidade como se criam cenários de engano para sócios e adeptos, com o clube a afundar-se a todos os níveis: mais endividamento bancário, menos títulos desportivos.

A esta irracional e errática fuga para a frente, quer da Direcção quer dos analistas seus apoiantes, os Bancos fecharam a “torneira”. E finalmente o Sr.º Vieira, forçado pelas circunstâncias, já fala (pudera) em ter mais jogadores portugueses na equipa principal. 10 anos depois, com apenas 2 títulos de campeões nacionais de futebol e uma divida bancária, que só na SAD atinge os 157 milhões de euros, estamos prestes a regressar ao ponto de origem. Só que com menos património, e mais instituições e firmas (Bancos e Olivedesportos) a lucrarem com o dinheiro que os sócios e adeptos metem no clube.

Valha-nos que já esgotaram a cassete “Vale e Azevedo”. Agora a cassete é a “crise mundial”.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Estamos no bom caminho

Portugal, 9 de Novembro de 2011

O futebol é como um pão com manteiga, só que nem sempre a manteiga está do lado que pensamos.

Empatamos em Braga e lembrei-me de uma frase muitas vezes repetida pelo Presidente do Benfica, “estamos no bom caminho”. Esta frase consubstancia uma ideia positiva para o clube e sua principal empresa, a SAD do futebol. Mas será que estamos no bom caminho? Depende onde quisermos por a manteiga ...

Se quisermos ir pelo lado da ironia, teremos de concluir que pelo 3º ano consecutivo, a equipa do Benfica (não o Sr.º Vieira) foi maltratada em Braga. Esgotadas as bolas de golfe do 2º ano, que agora dão penalização grave, desta vez optaram pela interrupção da energia eléctrica e avaria na caldeira de aquecimento da água apenas no balneário da equipa visitante. Estamos no bom caminho.

Vários jogadores voltaram a ser provocados em campo, outros foram agredidos sem correspondente sanção disciplinar: pés juntos de João Pereira contra Di Maria na grande área, no 1º ano, cotovelada de Alan em Javi no 2º ano, bofetão de Djalma em Gaitan no 3º ano. Estamos no bom caminho.

Continuaram a existir erros técnicos grosseiros de arbitragem contra a nossa equipa, com possível interferência no resultado final: golo de Luisão mal invalidado e penalty não assinalado por corte de bola com braço de frente para a bola, no 1º ano, falta a favor do Benfica por agressão/empurrão a Javi transformada em falta a favor do Braga com expulsão de Javi, de que resulta o 1º golo do Braga, e falta a favor do Benfica transformada num lançamento de linha lateral a favor do Braga de onde resulta o 2º golo do Braga, no 2º ano, penalty não assinalado sobre Luisão, penalty assinalado contra o Benfica por bola no braço (sem intencionalidade), no 3º ano. Estamos no bom caminho.

Humilhados e roubados pela arbitragem, pelo 3º ano consecutivo, valeu que desta vez não perdemos. Estamos no bom caminho.

Também podemos ver as coisas de outra forma. De facto o Benfica conseguiu pela primeira vez, em 4 jogos na era Jesus, trazer um ponto de Braga. O que quer dizer que lhes tiramos 2, mantendo-os a 5 pontos de distância. Estamos no bom caminho.

A equipa do Benfica jogou sem 2 avançados de área, como nos jogos anteriores, onde alinharam sempre Saviola e Cardozo no tal 4-4-2 em losango. Apostamos num flanqueador nato, Gaitan, e num adaptado, Maxi, cobrimos a retaguarda deste com Ruben Amorin, Aimar no papel de n.º 10, Witsel e Javi no papel de filtrar o jogo adversário, dizem que jogamos mal, eu concluo que trouxemos 1 ponto. Estamos no bom caminho.

A equipa do Benfica fez o 19º jogo sem derrotas nesta época apesar dos jornais salientarem o falhanço da liderança. Na derrota do SCP com o Vaslui optaram por destacar a lesão do Rinaudo em vez do falhanço da 11ª vitória consecutiva ou do 11º jogo consecutivo sem derrotas. Estamos no bom caminho.

Perdemos 6 pontos ao fim de 10 jogos, o que poderá indicar que se projecta perder no máximo, 18 pontos em todo o campeonato. Se isto acontecer alcançaremos a bonita percentagem de 80%, igual à que deu o 2º título de campeão a Mourinho no FCP, com os tais “grandes” jogadores e ajudas de arbitragem. Ficaremos ainda assim abaixo dos 84% de JJ no 1º título (tal como o 1º título de Mourinho no FCP). Estamos no bom caminho.

Pomos a “manteiga” em que lado?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Em terra de cegos...

Portugal, 2 de Novembro de 2011

O Benfica joga mais logo uma cartada importante no apuramento para os oitavos de final da Champions, um dos objectivos da época, mas não é sobre esse jogo que tenho motivação para escrever. Pode parecer estranho, mas para mim é apenas um jogo, que ganhe-se ou perca-se não tem influência na essência do nosso clube. É algo que se esgota pouco depois e a seguir já estamos a pensar no próximo. Há outras coisas que sim, têm influência porque produzem efeitos que vão para além da data em que são praticados e que podem por em causa a essência do nosso clube e a liberdade para escolhermos o nosso caminho.

Vem isto a propósito da campanha que já se está a desenvolver na comunicação social a favor da reeleição do Sr.º Luís Filipe Vieira como presidente do SLBenfica. O jornal A BOLA, também referenciado por “Pravda” pelo Sr.º Pinto da Costa, publicou em 31/10 uma peça sobre os 8 anos de mandato do Sr.º Vieira e os “mais que se podem seguir”. A mensagem é clara e objectiva, sem qualquer tipo de subterfúgios linguísticos ou outros.

Nos textos que aqui publiquei versando a mini biografia do Sr.º Joaquim Oliveira, publicada no Expresso em Março de 2005, creio que ficou claro que a comunicação social é algo de extremamente poderoso e ao dispor dos patrões dos negócios do futebol, com o Sr.º Joaquim (através da Sportinvest), o BES e a PT como vectores principais deste poder económico que se prolonga para o meio desportivo.

Todos os órgãos de comunicação social escrita, falada ou televisionada, estão dependentes de uma forma ou de outra, destas três instituições, do poder que elas representam, da teia de interesses que controlam pela via da publicidade que pagam, dos financiamentos que disponibilizam, do acesso ao poder político e outros mais obscuros da nossa sociedade. A BOLA faz parte deste grupo.

Ao longo dos últimos 10 anos, lemos, ouvimos e vimos muita gente ligada à comunicação social, criticarem o desempenho dos nossos treinadores, dos nossos jogadores, mas nunca dos árbitros. Nem do Sr.º Filipe Vieira. Os 10 anos de insucessos desportivos são como se nada tivessem a ver com ele. Mas sim com a sorte, o azar, a incompetência de treinadores e jogadores, etc.

O actual mandato do Sr.º Vieira iniciou-se com umas eleições “polémicas” pela antecipação em face da data estatutariamente prevista, o que a mim sinceramente não incomodou, porque as alternativas não mereciam outro tratamento. Mas guardei a orientação principal da sua campanha: resolvidas as principais questões económicas, este (que estamos) seria o mandato desportivo.

Foram agora publicadas as contas da SAD relativas ao exercício 2010/2011. Dos vários itens que podemos analisar, e no que toca apenas à SAD (só futebol) e não ao consolidado da SAD (Estádio, Clínica, Viagens, Benfica TV), verificamos que os custos financeiros foram de cerca de 18,455 milhões de euros (!?) tendo aumentado só neste exercício em cerca de 8 milhões (!?). Houve um aumento de empréstimos obtidos (correntes e não correntes) de mais 21 milhões de euros que no exercício anterior, que são (e só para a SAD) de 157,5 milhões de euros! Para o Consolidado temos empréstimos no valor de 233 milhões de euros, mais 17 milhões que no exercício anterior!

Ou seja, sem querer tirar grandes conclusões constato que o Sr.º Vieira neste mandato voltou a agravar os indicadores económicos, ao contrário do que a sua propaganda oficial (comunicação social) e outros apoiantes cegos e burros, mais notáveis ou menos, fizeram crer. Desportivamente o mandato tem 2 épocas decorridas e não sendo correcto tirar conclusões, pode-se sublinhar que a estratégia voltou a andar ao sabor do acaso e de decisões mal pensadas e pior defendidas (como a contratação de Roberto).

Perante a evidência do fracasso económico e reticências ao mandato desportivo, o Sr.º Vieira, bem assessorado pelos tentáculos do BES e do Sr.º Joaquim, já encontrou uma fuga que poderá vir a utilizar caso as coisas piorem desportivamente: quer mais jogadores portugueses no plantel! E mais uma vez disto isto como se não tivesse nada a ver com a situação que implicitamente, criticou: foi ele que assinou contratos com todos os jogadores estrangeiros!

Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Que Benfica é o nosso?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

233 milhões

A análise superficial às contas do Clube e da SAD do Benfica, põe a nu a mentira em que temos vivido e de como se tem manipulado os sócios para passar a estratégia que mais interessa aos actuais parceiros desta Direcção, o Sr.º Joaquim e o B ES.

É possível fazer algumas comparações entre a actualidade e a época 99/2000, a última sob liderança do Dr.º Vale e Azevedo. E volto a sublinhar que não me interessa defender o Dr.º Vale e Azevedo mas apenas encontrar a verdade que norteia o meu benfiquismo.

Hoje a SAD, como realidade empresarial individual, tem dividas a Bancos no valor de 170 milhões de euros. Com o Consolidado, incluindo a Benfica TV, a Clínica Benfica, as Viagens Benfica e a Benfica Estádio, a SAD tem dívidas de 233 milhões a Bancos! Os custos bancários foram de 18 milhões de euros (!?) (mais do que ganha Messi).

Pode-se fazer uma comparação com os dados da SAD como realidade empresarial individual em Novembro de 2000, publicadas no prospecto de aumento de capital da SAD em Abril de 2001. As dívidas aos bancos na altura, era inferior a 6,5 milhões de euros e os custos bancários associados foram de 350 mil euros!

Como não havia Consolidado, não se pode comparar esta variável.

Quanto ao Clube, também é relevante concluir que se, na actualidade temos de facto Zero de dividas a instituições bancárias, contra 2,45 milhões de euros nos resultados da época 1999/2000, o que significa um avanço, em contrapartida as dividas ao Estado e outros credores eram de 16,5 milhões em 99/2000 contra os actuais 23,5 milhões!

O que quero daqui retirar, com alguma ligeireza é certo, mas alguma aproximação à realidade, é que andamos a ser enganados há 10 anos sobre os méritos e virtudes do actual Grupo Empresarial e sobre o caminho que foi seguido depois do “linchamento” desportivo do Dr.º Vale e Azevedo. Estamos hoje pior do que na altura, porque temos mais dividas a particulares, Estado ou Banca, em matéria patrimonial está quase tudo hipotecado à Banca e perdemos 10 anos, onde o FCP nos retirou a supremacia no futebol.

Ando há 10 anos a defender outro Benfica e apraz-me registar que as minhas dúvidas estavam correctas. Este Benfica é do BES, do Sr.º Joaquim e da PT. Nosso é que não é ... fdp!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

8 anos!

Portugal, 25 de Outubro de 2011

A notícia do dia é o oitavo aniversário da inauguração do novo estádio do Benfica. Este acontecimento suscita-me algumas reflexões, tanto mais que a propaganda do Clube já se encarregou de passar a habitual mensagem de “honra e glória” a quem decidiu, construiu e geriu todo o processo, ou seja, à Direcção!

Algo deve ser acrescentado a esta propaganda para que se perceba melhor em que contexto foi construído o novo estádio.

A decisão da construção pelos vistos não foi de Mário Dias, como o Sr.º Vieira afirmou na última inauguração da Casa do Benfica da Marinha Grande, mas sim do Sr.º Vítor Santos (“Bibi”) que em entrevista à Maxim’s afirmou que, no dia seguinte à tomada de posse entrou no gabinete do Manuel Vilarinho e pôs-lhe em cima da mesa, a construção de um estádio novo!

Mário Dias? Vítor Santos? Confusos? Não, o Benfica deixou-se de trapalhadas com a saída de Vale e Azevedo.

A construção do novo estádio não foi nunca um assunto só, esteve sempre ligada ao financiamento da construção, onde desempenhava parte importante a venda dos terrenos ocupados pelo antigo estádio! Nessa altura o Sr.º Vítor Santos afiançava que pagava 100 contos por metro quadrado, os terrenos que Vale e Azevedo tinha vendido na base de 50 contos por metro quadrado. De que resultava um encaixe garantido de 8 milhões de contos para 80 mil metros quadrados vendidos. Tese defendida posteriormente quando Vítor Santos foi “corrido” do negócio com a entrada de Filipe Vieira na gestão do futebol.

O que eles não disseram foi que os 8 milhões de contos pressupunham um aumento de volumetria muito superior à permitida pelo PDM de Lisboa. Ou seja, eles conseguiam os 8 milhões de contos para uma volumetria de 160 mil metros quadrados construídos, e não para os 80 mil permitidos! Como é que faziam o milagre dos “pães”? Simples: João Soares era presidente da Câmara e candidato à re-eleição e o Benfica ajudava na propaganda da sua candidatura! Como fez quando Mário Dias e os jogadores Simão Sabrosa e Pedro Mantorras participaram numa acção de campanha difundida pelas televisões!

O raciocínio era simples: João Soares ganhava as eleições, alteravam-se os planos de ordenamento, o Benfica vendia por 8 milhões de contos, 160 mil metros quadrados em vez dos 80 mil, (ou seja, a 50 contos o metro quadrado!) e o Vale e Azevedo é que era o vigarista porque só tinha vendido a 50 contos os terrenos da Urbanização Sul!

João Soares perdeu as eleições (o futebol não ajudou os políticos) e Santana Lopes foi claro quando afirmou que a proposta apresentada pelo Benfica, violava o PDM. Logo os 8 milhões não estavam garantidos, porque só podendo construir metade, só estavam garantidos 4 milhões de contos. O estádio vacilou!

Dado o avançado da questão em termos de opinião pública e Euro2004, Santana Lopes deu um empurrão ao adquirir por cerca de 6 milhões de contos os tais 80 mil metros quadrados, oferecendo ao clube como compensação por terrenos anteriormente expropriados e nunca indemnizados, um terreno noutra zona de Lisboa onde seriam construídas habitações para jovens! Terrenos avaliados em cerca de 1,2 milhões de contos e que o Benfica logo vendeu também à EPUL!

Portanto dizer que o novo estádio foi um equipamento pensado para ajudar o Benfica num determinado projecto económico e desportivo, é uma falácia igual a tantas outras que nos têm sido vendidas nestes últimos 10 anos. O novo estádio do Benfica nasceu de um conjunto de equívocos, interesses e negociatas falhadas!

E hoje aí está. Pode ser lindo, pode ser moderno, pode ser funcional. Nada a dizer!

Apenas contesto o facto de que, se Vilarinho na campanha eleitoral incluísse a destruição da antiga catedral, perdia as eleições! E perdendo, Mourinho não era despedido, não ia dar títulos europeus ao FCP, o Benfica não teria permitido a ultrapassagem desportiva do FCP no plano europeu e o investimento que agora é canalizado para o novo estádio, seria canalizado para a equipa de futebol, aumentando as probabilidades de êxito desportivo!

O novo estádio é algo que alimenta o ego benfiquista mas que hipotecou o sucesso futebolístico! Em dia de festa, não devemos esquecer!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O Sr.º Joaquim - parte IV

(os comentários entre parêntesis e itálico, são da minha autoria e não visam desvirtuar o conteúdo do texto escrito por Jorge Fiel e publicado no Expresso em 25 de Março de 2005)


A verticalização é o fio condutor da estratégia urdida por Joaquim e que tem sido rigorosamente seguida nas duas últimas décadas. Começou com a concessão de publicidade estática. Evoluiu para a intermediação dos direitos de transmissão televisiva. Continuou para montante, tomando posição no capital dos clubes, e para jusante, passando a ter um pé na emissão, ao participar na fundação da Sporttv. E como já se sabe, não ficou por aqui (hoje manda em todo o futebol influenciando decisões, apadrinhando figuras do FCP nos lugares chave da FPF e Liga, etc., e ganhando muito dinheiro nas transmissões em monopólio).


Em 1999, a Olivedesportos pagou 95 mil contos à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pelos direitos relativos à final da Taça de Portugal. Depois revendeu à RTP os direitos de transmissão televisiva por 90 mil contos. À primeira vista perdeu dinheiro. Na realidade ganhou – e muito – já que os 95 mil oferecidos à FPF incluíam a concessão da publicidade no Estádio Nacional. Publicidade e transmissão televisiva de jogos são negócios complementares. Todas as semanas, uma equipa da Olivedesportos visiona cuidadosamente todos os desafios televisionados anotando cada vez que um anúncio, disposto ao longo da linha lateral ou atrás da baliza, passa na TV. A factura segue depois pelo correio (nos 3 anos de Vale e Azevedo não seguiu factura nenhuma porque a publicidade estática era do Benfica).


A beleza deste negócio vertical reside na sua complementaridade em cadeia, no facto de cada um dos seus segmentos potenciar os lucros do anterior e do seguinte. Dito por outras palavras, Joaquim é um intermediário completo (e um adversário poderoso para quem quiser disputar os seus terrenos). Numa ponta estão os clubes, a Liga e a FPF. Na outra, os anunciantes, os telespectadores e os canais de televisão (pelo meio estão os Bancos que financiam e ganham com os ganhos do Sr.º Joaquim, ganhos que Vale e Azevedo pôs em causa). Ele une as pontas, preenchendo o espaço entre elas. Tem a concessão da publicidade nos estádios, cujo preço muito naturalmente aumenta em proporção à quantidade de gente que vê o anúncio. Adquire os direitos de transmissão televisiva, que fazem crescer os preços da publicidade. Ganha ao revencer estes direitos aos canais de televisão. E ao fundar a Sporttv subiu nesta cadeia de valor, passando a lucrar a dois carrinhos – como fornecer e como accionista.


Na guerra (o termo é do jornalista, toda a gente sabia menos os adeptos) de meados dos anos 90 contra Vale Azevedo e a SIC, Joaquim sentiu a necessidade de no negócio da televisão estar presente não apenas na venda de conteúdos mas também na sua emissão. Por isso mal se recompôs logo tratou de cerzir alianças com a PT e o BES que ainda este ano (2005) se revelaram úteis no concurso de venda da Lusomundo, onde derrotou adversários poderosos como a Cofina (donos do RECORD e CM) e os espanhóis da Prisa (ou seja, mais uma vez a táctica de uma mão lava a outra e as duas lavam a cara, esta trilogia PT. BES e Joaquim ganham sempre à custa do futebol e do Benfica).


A compra da Lusomundo por 300,4 milhões de euros (o que o futebol dá a ganhar a este individuo), é mais um ponto de partida do que de chegada. Com um só lance, Joaquim consolidou laços com dois aliados poderosos (PT e BES) e aumentou exponencialmente a sua influência na vida politica, económica e desportiva portuguesa. Tem por isso reunidas as condições para um novo salto qualitativo (quem tem a comunicação social influencia e é respeitado, porque todos o querem. Joaquim chegou a este patamar muito á custa do Benfica e da vitória de Vilarinho, apoiada pelo seu grupo de comunicação, mais apoio do BES).


Mas se for bem sucedido na digestão da Lusomundo, não vai resistir à tentação de acrescentar as duas jóias que faltam à sua coroa – uma parceria estratégica e duradoura com o Benfica (não será por acaso que se fala tanto da refundação do Benfica, do novo estádio como ponto de partida, etc) e uma posição importante num canal de televisão generalista. Sonhos que até nem serão muito difíceis de concretizar, tanto mais que ele sabe esperar. 


Mais cedo ou mais tarde o Benfica terá de abrir o seu capital (em breve o Sr.º Vieira poderá vir dizer que não controla o passivo – brutalmente aumentado pela sua ruinosa gestão – e defenderá a abertura do capital da SAD a outros investidores, perdendo-se a maioria que tanta polémica levantou com Vale e Azevedo). E ninguém abrirá a boca de espanto se Miguel Pais do Amaral resolver pôr à venda a sua posição na TVI (por acaso vendeu e voltou a comprar á Prisa, dizendo-se que tem planos para um canal desportivo pay-per-view). Ah, e no que toca a amizades, Joaquim Oliveira e José Eduardo Moniz dão-se tão bem como Deus com os anjos ... (Vale e Azevedo que o diga, na forma como a TVI o tratou durante os 3 anos de mandato, tendo inclusivamente sido condenada a pagar-lhe uma indemnização por danos morais por noticias falsas transmitidas em Novembro de 1997).

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Sr.º Joaquim - parte III

(os comentários entre parêntesis e itálico, são da minha autoria e não visam desvirtuar o conteúdo do texto escrito por Jorge Fiel e publicado no Expresso em 25 de Março de 2005)


A batalha ia ser dura. Demorou anos e desenrolou-se em diversos “tabuleiros”. Nos tribunais, mas também nas páginas dos jornais e nos ecrãs de televisão (quem ainda não percebeu porque razão Vale e Azevedo andava sempre nos jornais, televisões e rádios, por isso e por aquilo, tem aqui a explicação que faltava). 


Para não lhe faltar a voz durante os tempos de difíceis combates que se avizinhavam (numa guerra não se limpam armas, e como se vê, valeu mesmo tudo com papel de destaque para a comunicação social), Joaquim adquiriu em 1994, por um preço simbólico (50 mil contos, 250 mil euros), o jornal desportivo “O Jogo”, que a Lusomundo se preparava para encerrar, insatisfeita com os escassos sete mil exemplares de circulação do diário - número que em dez anos foi multiplicado por sete, na sequência de um investimento acumulado que rondou os 15 milhões de euros.


Por falta de fôlego financeiro, em dado momento desta guerra contra a dupla Rangel/Vale e Azevedo, Joaquim esteve à beira de atirar a toalha ao chão (daí compreender-se a ferocidade dos ataques contra Vale e Azevedo, alguns como se sabe, saem da esfera desportiva). Encarou mesmo vender o grupo, então avaliado no intervalo entre os 12 e os 15 milhões de contos (60 a 75 milhões de euros) a Francisco Balsemão. 


Mas Ricardo Salgado deu-lhe a mão, comprando-lhe o tempo necessário para ganhar a guerra (com a ajuda da comunicação social e dos árbitros que não deixavam o Benfica ganhar, tal como hoje, mas hoje o Benfica está em constante reconstrução e a reerguer-se das cinzas como os apaniguados de Vieira gostam de lembrar)). Foi o inicio de uma bela amizade com o banqueiro. Mais tarde, o BES e a PT desaguaram no mundo do futebol – até então muito ligado ao BPI, que montara as SAD do Sporting, FC Porto e Boavista – patrocinando os três grandes e a Selecção.


Durante a guerra foi cuidadoso. O alvo dos processos judiciais foi sempre Vale e Azevedo, nunca o Benfica (sem comentários, para os que sempre acharam que tudo isto era coincidência. Afinal era estratégico...). Na hora da vitória, com o inimigo atirado para a cadeia, soube ser magnânimo, ao converter em 20% (a Sportinvest tem 49,1% da Benfica Multimédia) do capital da Benfica Multimédia os 2,1 milhões de contos que o clube encarnado teria de devolver (e que forma recebidos por Manuel Damásio o qual nunca foi processado por gestão danosa).


Em 1994, afirmou ao EXPRESSO que o segredo para a posição dominante que alcançou no negócio das transmissões televisivas reside no facto de «pagar mais e melhor que os outros» (graças ao monopólio que os amigos da Liga na altura lhe proporcionaram, Pinto da Costa primeiro, Manuel Damásio depois). «O segredo talvez esteja em considerar os meus parceiros de negócios como pessoas inteligentes e de boa fé», acrescentou. Mas esta é apenas uma parte do segredo. A outra parte consiste em ter uma estratégia certa, alicerçada numa formidável rede de relações, amizades e cumplicidades (incluir-se-ão nestas, os Juízes do CSJ e dos Tribunais?) que vai tecendo ao longo dos anos. 


Os clubes de futebol são a base do negócio. Por isso, quer eles, quer os seus dirigentes, são sempre muito bem tratados (por isso Vieira nunca é criticado na comunicação social...). Dar dinheiro a ganhar aos clubes que lhe vendem as concessões de publicidade e os direitos televisivos é um ponto de honra para Joaquim. Por isso, está sempre disponível para substituir-se aos bancos, financiando os clubes nas horas de aperto, em troca do dilatar do prazo de vigência dos contratos ... (quem ainda não sabe como é que o Farense, Salgueiros e Boavista faliram, tem aqui uma explicação ...)


E além de lhes acudir quando estão com dificuldades de tesouraria, Joaquim também soube estabelecer parcerias e laços que duram para além dos mandatos dos dirigentes com que ele cultiva frutuosas amizades. A dimensão desta teia de cumplicidades salta à vista quando se olha para a carteira de participações da Olivedesportos, onde convivem 19,4% do Sporting, 11% do FC Porto, 23,3% do Boavista, 20% da Benfica Multimédia e ainda posições no Belenenses, Braga e Alverca (como já disse mais vezes, o Sr.º Joaquim era accionista de referência da SAD do Alverca, quando esta faliu). A legislação portuguesa não impede esta acumulação desde que os direitos accionistas de voto sejam usados apenas numa sociedade - e ele faz questão de não exercer em nenhuma. (continua)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Inequivocamente II

Portugal, 13 de Outubro de 2011

Através de uma declaração formal na inauguração de uma Casa do Benfica, o Sr.º Vieira anunciou ao mundo benfiquista que “o Benfica apoia inequivocamente o Dr.º Fernando Gomes à Presidência da FPF”. Esta declaração gerou uma onda de comentários desfavoráveis, em particular na blogosfera, pela incompreensão da estratégia que lhe está subjacente.

Como referi no texto anterior, tudo isto só pode surpreender quem acreditou que as eleições de 2000 vinham colocar o Benfica no trilho do sucesso, fosse desportivo, fosse económico. Quem analisou essa campanha eleitoral ao pormenor, percebeu desde logo que a alternativa que desafiou, com sucesso, a recandidatura de Vale e Azevedo, era uma mão cheia de incertezas. Porque a maior parte dos vectores principais da campanha eram incongruentes com as acusação que se fizeram a quem durante 3 anos, tentou fazer o melhor que pôde, depois dos desastrosos e ruinosos 4 anos e meio da gestão de Manuel Damásio.

Adiante. Ao fim de 5 meses o Dr.º Manuel Vilarinho, o tal que ia “ensinar futebol” a Vale e Azevedo, admitia a derrota e convidava o Sr.º Filipe Vieira para gestor do Futebol. O descalabro desportivo tinha vindo para ficar ...

A minha dúvida sobre esta fase da vida do SL Benfica resume-se a isto: será que o Sr.º Vieira já estaria destinado a ser presidente do Benfica, quando Manuel Vilarinho se candidatou, ou se o Sr.º Vieira foi candidato a Presidente porque foi escolhido, ao acaso, Gestor do Futebol? Dadas as ligações que posteriormente se vieram a conhecer, do Sr.º Vieira ao BES (através da sua empresa de construção) e ao Sr.º Joaquim Oliveira (através da SAD do Alverca), começo a pensar que o Sr.º Vieira já estava destinado a ser Presidente do Benfica do BES, da PT e da Olivedesportos. Ou seja, nesta hipótese o Dr.º Manuel Vilarinho foi um cavalo de Tróia que trouxe no seu interior, tudo aquilo que hoje domina e condiciona a liberdade económica e desportiva do Benfica!

Foi assim que o ex - Presidente do Alverca e ex-sócio de FCP e SCP, chegou à Presidência do Benfica: com apoio de muita gente de dentro e de fora do Benfica, sendo que os de dentro fazem parte daquele grupo de românticos que continuam a pensar que é possível regressar ao élan dos anos 60, e os de fora que habilidosamente alimentam o ego dos românticos, a troco do controlo dos interesses económicos e rumo desportivo do Benfica. O Sr.º Vieira é a figura que aglutina todas estas vontades! Todos estes interesses!

Poderia o Sr.º Vieira conquistar a confiança dos benfiquistas mais dados a pensar no futuro do Clube e menos dados a ir na onda do marketing e propaganda que acompanhou a sua chegada? Acho que sim, se os actos de gestão demonstrassem sagacidade, visão, humildade, pureza e amor ao clube!

Mas aconteceu o que eu esperava. O oportunismo instalou-se, a estratégia desapareceu ou era ininteligível, o clube rendeu-se aos preconceitos instalados na comunicação social e o 6º lugar já vinha a caminho.

Primeiro erro de Vieira: associar a equipa de futebol do Benfica a uma equipa de Vale e Azevedo. Isto foi premeditado e abriu portas para fazer desaparecer muitos jogadores de qualidade que foram ter sucesso noutras paragens. A que preço fosse!

Van Hooijdonk foi vendido por 240 mil contos, meses depois de ter custado 1,2 milhões de contos! Marchena dizem-me que foi vendido por 1 milhão de contos. Maniche, Poborsky, Ronaldo, Kandaurov, Calado, tudo saiu de borla. João Tomás vendido por, dizem, 800 mil contos. Convenhamos que na situação difícil que o Benfica se encontrava, foi preciso muita falta de amor ao clube para optar pelo caminho da total renovação do plantel, vendendo ao desbarato para eliminar Vale e Azevedo dos tais sucessos que acreditavam que iam ser alcançados.

Os jogadores em questão vieram a brilhar noutros clubes: Van Hooijdonk foi campeão da Taça UEFA pelo Feynoord, taça nunca ganha pelo Benfica! Marchena foi campeão espanhol, da Taça UEFA e Supertaça Europeia, finalista derrotado na Champions, onde o Benfica ainda nunca esteve no actual modelo. Ronaldo foi campeão pelo Fenerbahce. Maniche ganhou tudo no FCP. Poborsky jogou ao mais alto nível mais uma meia dúzia de anos.

O tempo encarrega-se de colocar as coisas no seu sítio. Inequivocamente! (cont)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Sr.º Joaquim - parte II

(os comentários entre parêntesis e itálico, são da minha autoria e não visam desvirtuar o conteúdo do texto escrito por Jorge Fiel em 25 de Março de 2005)


Em 1984, deitou para trás das costas o cheiro a fritos e assados, passando a dedicar-se à exploração da publicidade nos estádios. Nascia a Olivedesportos, com o capital dividido em partes iguais pelos dois irmãos de Penafiel, a empresa que organizou, profissionalizou e ajudou a revolucionar os negócios do futebol no nosso país (com os empresários de Lisboa a “dormir”, temos de saudar o lado positivo desta revolução “made in” Porto: um aumento de receitas para os clubes, obtida de forma organizada, através da negociação dos direitos televisivos. O pior veio a seguir...).


Antes dos Oliveiras, a publicidade à volta dos campos era uma actividade amadora. Como a soma das receitas conseguidas com a bilheteira e as quotas dos sócios nunca chegavam para fazer face às despesas, os dirigentes dos clubes pediam ajuda aos empresários da terra, oferecendo-lhes em troca espaço nos painéis publicitários.


A Olivedesportos arrancou com as concessões do Chaves (por isso a SIC foi impedida de filmar os resumos que legalmente tinha direito, com a conivência do Major Valentim Loureiro, Persidente da Liga na altura) e do Sporting (como se vê, o SCP pertence ao grupo desde o seu inicio) mas rapidamente cresceu. Dez anos depois já controlava a publicidade estática de 14 dos 18 clubes da primeira divisão (por essa altura aconteceu algo “insólito”. Desceram de divisão Leiria, Tirsense e Estoril, os únicos 3 clubes que ainda não tinham contratos com a Olivedesportos. Não foi coincidência). No início, dedicou-se à compra e venda de jogadores, actividade em que se estreou em 1984 importando os paraguaios Alonso e Cabral para o Rio Ave. Chegou a criar uma sociedade para este negócio, a Futinvest, que tinha como director-executivo José Veiga, antigo presidente da Casa do FC Porto no Luxemburgo, que à época vivia nas boas graças de Pinto da Costa. Posteriormente abandonou esta área de negócio, passando a empresa a Veiga.


A opção era clara. Tratava-se de focalizar a actividade do grupo na exploração da publicidade estática e das transmissões televisivas, negócios que implicavam estar de bem com os clubes a quem compravam os direitos. E as compras e vendas de jogadores podiam introduzir um ruído desnecessário num negócio que deslizava sobre rodas.


Em 1985, intermediou a sua primeira transmissão televisiva de um jogo de futebol (Checoslováquia - Portugal). No ano seguinte, foi visto em Saltillo a carregar painéis de publicidade e a dirigir a sua colocação à volta dos campos em que a selecção portuguesa disputou os três jogos no Mundial do México. Com a sua facilidade em fazer amigos e influenciar as pessoas, o negócio prosperava até ser sacudido pelo sobressalto do nascimento da televisão privada.


O aparecimento da SIC e a vitória de Vale e Azevedo nas eleições do Benfica ameaçaram seriamente o equilíbrio ecológico em que medrava o negócio dos irmãos Oliveira (nessas eleições obviamente terá apoiado a lista do Prof.º Tadeu, continuidade da gestão de Manuel Damásio). O novo canal privado escolheu o futebol para levar os portugueses a sintonizarem o canal 3 nos seus aparelhos, o que agitou o doce e reservado mundo das transmissões, até aqui reserva de caça exclusiva da Olivedesportos.


A SIC abriu as hostilidades, quebrando o monopólio ao pagar 400 mil contos (a preços de 1997, imagine-se quanto ganhava a Olivedesportos) por três jogos (Porto-Benfica, Sporting-Benfica e Sporting-Porto). Seguiu-se o ataque de Vale e Azevedo que mal chegou à presidência do Benfica rasgou os contratos (isto já foi explicado vezes sem conta: declarou nulos os contratos, rasgar foi o que fez Vilarinho com a SIC em 2001) que o seu antecessor Manuel Damásio tinha assinado com a Olivedesportos, e negociou com a SIC direitos de transmissão televisiva pelos quais o seu clube já recebera (é correcto: o Sr.º Manuel Damásio tinha recebido 2 milhões de contos de avanço por um contrato que só se iniciava em 1999. Quando JVA chegou à Presidência do Benfica, não havia dinheiro nas contas. Por conta desse adiantamento, a Olivedesportos entrou na Benfica Multimédia através da Sportinvest, com 49% do capital).


No entretanto o “Record” dirigido pela dupla Cartaxana/Marcelino era a ponta de lança da campanha contra uma Olivedesportos acusada de, em coligação com o FC Porto, controlar o futebol com recurso a meios duvidosos (na altura já era assim, agora é pior desde que esta Direcção do Benfica foi eleita!)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Sr.º Joaquim - parte I


Uma das minhas intenções principais aqui no blogue, é perceber como é que o Benfica evoluiu nos últimos 14 anos, quais os amigos e os inimigos do clube, e como estes foram mudando de campo ou condicionaram o poder democrático dos sócios do Benfica e por tabela, como condicionaram a gestão do clube que ainda hoje se repercute na perda do domínio futebolístico. A publicação da seguinte colecção de textos, visa tentar perceber alguma coisa desta problemática vasta e complexa. Os comentários que apareçam entre parêntesis e itálico, são da minha autoria e não pretendem desvirtuar o texto original.
O texto que se segue tem como objectivo ajudar a perceber como é que um modesto fiel de armazém de Penafiel se transformou num dos homens mais poderosos do nosso país. (Jorge Fiel, Expresso, 25 de Março de 2005).
Joaquim Oliveira começou a vida a cozinhar, lavar pratos e a servir à mesa na Pensão Roseirinha, em Penafiel. Foi a fazer amigos e influenciar as pessoas que se transformou num magnata do futebol e da Comunicação Social.
Nasceu em Penafiel, a 12 de Fevereiro de 1947, filho de Dona Lucinda, proprietária da Pensão Roseirinha, desprovido de qualquer jeito para o futebol - ao invés do que aconteceria com o seu irmão mais novo, António, que se revelou um predestinado. A prenda dele era outra. Trazia como equipamento de origem aquele sexto sentido que lhe permite adivinhar de que lado do pão está a manteiga.
No restaurante da mãe, cozinhava, servia à mesa e lavava pratos. Foi fiel de armazém antes de a tropa o levar para o Norte de Angola. Gostou dos ares da antiga colónia, onde regressou depois de regressar à vida civil. Tinha 23 anos e já era um popular comerciante de Luanda, dono de uma cervejaria e sapatarias, cómoda situação que teve de abandonar, num apressado retorno à metrópole, quando os três movimentos de libertação de Angola se envolveram numa sangrenta e prolongada guerra civil.
De volta ao Porto, o irmão deu-lhe uma mão, ajuda que ele mais tarde retribuiria, com juros, dando-lhe as duas. Vagabundeou por vários comércios – geriu um bar de “strip-tease” no Porto e uma charcutaria em Lisboa - até se instalar em definitivo na capital e deitar âncora nos negócios do futebol, fundando a Olivedesportos em 1984, a meias com o irmão.
Vinte anos depois é rico (os clubes e SAD’s não), poderoso e tem os vícios correspondentes. Fuma dois ou três charutos cubanos por dia e bebe uísque Old Parr. Habita com a mulher, Irene, uma moradia em Bicesse, que tem as paredes decoradas com uma selecção ecléctica de nomes seguros da arte contemporânea portuguesa (Vieira da Silva, Medina e Pomar). O irmão, António, é obcecado por pintura, sendo o maior coleccionador privado de obras de Júlio Resende. Ele prefere os relógios, de todos os feitios, caros e baratos. É coleccionador compulsivo - tem-nos às centenas.
A não ser que tenha um pequeno-almoço madrugador marcado para as sete da manhã, no Tivoli, com o amigo e banqueiro Ricardo Salgado (presidente do BES) prefere deixar passar a hora de ponta na A5 antes de se aventurar em guiar para o escritório nas Laranjeiras, junto à Loja do Cidadão.
A sua maior especialidade é fazer amigos e cultivar relações, artes em que é um verdadeiro mestre, como se prova pelo facto de ter reunido Santana Lopes e José Sócrates em sua casa, quando fez 57 anos. Mal reparou que o golfe era um desporto magnífico para cultivar relações, não hesitou um segundo em comprar lições e encomendar um saco.
A relação estreita de amizade que mantém com o actual (isto foi escrito em 2005) primeiro-ministro remonta ao tempo em que Sócrates foi encarregado por Guterres da campanha para trazer o Euro 2004 para Portugal. Joaquim, cuja rede de influências no domínio do futebol não conhece fronteiras (o que também explica parcialmente o sucesso do FCP lá fora), deu uma preciosa ajuda nos bastidores, abrindo uma porta aqui, desbloqueando um apoio acolá, numa acção decisiva para a vitória final (os apoios pagam-se e neste caso o Sr.º Joaquim apareceu como “financiador” privado do processo. Não foi por acaso que estava ao lado de Madaíl quando a UEFA tornou pública a decisão de escolher Portugal para organizar o Euro2004 e que a decisão de comprar o grupo Lusomundo foi aprovada sem grandes polémicas, apesar da concentração de meios de comunicação social num só grupo económico). Sócrates não esquecerá nunca esses favores. (continua)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Inequivocamente I

Portugal, 6 de Outubro de 2011

Através de uma declaração formal na inauguração de mais uma Casa do Benfica, o Sr.º Filipe Vieira anunciou ao mundo benfiquista que “o Benfica apoia inequivocamente o Dr.º Fernando Gomes à Presidência da FPF”.

Se a muitos apanhou de surpresa, a mim não! E para prová-lo, junto comentário publicado no online de ABOLA, no passado sábado 1 de Outubro, na notícia em que Vieira dá um “ralhete” público a Jorge Jesus, ao mesmo tempo que enaltece o ex-treinador do Santa Clara: http://www.abola.pt/nnh/comentarios.aspx?id=290454
eagle01
01-10-2011 - 15:34
4) compreende-se a "lateralização" de assuntos, quando o passivo da SAD do Benfica está cada vez mais próximo dos 500 milhões e Vieira não explica quando é que afinal vai começar a descer, pois a "cassete" que estamos no bom caminho já cansa, 5) Vieira irá defender mais um voto em Fernando Gomes....

Como diz o povo, só é enganado quem se deixa enganar. Ando desde 2004 (no extinto sitio www.basta2002.com) a defender que o Sr.º Vieira é uma produção do “sistema” que manda no futebol em Portugal, com FCP na charneira desportiva, Olivedesportos e PT na charneira mediática, BES na charneira do financiamento.

Vieira é inequivocamente um Presidente do “sistema”! Como chegou cá?

Quem esteve atento à campanha eleitoral mais mentirosa de que há memória na história do clube, percebeu que nada do que disse Vilarinho batia certo: 1) era o clube que estava na bancarrota mas a seguir queria contratar o Jardel que tinha uma cláusula de rescisão de 7 milhões de contos (35 milhões de euros) no Galatasaray, 2) era o Vale e Azevedo que se queria apropriar da SAD mas a seguir dizia que ele e alguns amigos empresários (que mencionou) tinham prontos 13 milhões de contos (65 milhões de euros) para avançar para as “primeiras necessidades” do clube, ou seja, no aumento de capital da SAD de Vale e Azevedo podiam comprar a maioria das acções e corriam de lá com ele (se de facto tivessem o tal dinheiro), 3) era o Vale e Azevedo que não percebia nada de futebol e ele, Vilarinho, ia-lhe ensinar como se ganha (ele que aceitou o despedimento de Toni campeão e a contratação de Artur Jorge), 4) era o modelo de SAD de Vale e Azevedo que prejudicava o Benfica, e o dele recolhia mais capital e ainda mantinha o clube com a maioria do capital da SAD, etc., etc.

Na campanha eleitoral, o elemento que discutia as questões do grupo empresarial que Vilarinho queria implementar, era o Dr.º Tinoco Faria que por mera coincidência, foi quem representou a RTP na assinatura dos contratos de cedência dos direitos televisivos do Benfica à RTP, através da Olivedesportos, no mandato do Sr.º Manuel Damásio! 

As pessoas acreditaram na campanha mediática contra Vale e Azevedo, muito bem orquestrada pelos poderes do futebol, com a ajuda da Olivedesportos e seus contactos nesse mundo de falsidade e poder. À última da hora foi lançado o maior “trunfo” de todos, o abraço de Eusébio a Vilarinho bem destacado na 1ª página do jornal A BOLA do dia seguinte. E assim Vilarinho ganhou as eleições, quando as sondagens lhe davam derrota 2 dias antes. Ah, Eusébio ganhava 1,7 mil contos por mês com JVA (8 500 euros), depois passou a ganhar cerca de 5 mil contos (25 mil euros) ...

Nunca acreditei que todo o mérito da eleição de Manuel Vilarinho fosse exclusivamente da qualidade das suas ideias para o Benfica, ou da sua equipa. Manuel Vilarinho ganhou as eleições porque a sua lista, em conluio com a comunicação social, criou o “demónio” João Vale e Azevedo. Ora quando temos qualidade não precisamos de achincalhar os outros. E concluí que mais tarde ou mais cedo, iríamos conhecer o VERDADEIRO Manuel Vilarinho: quando tivesse de tomar decisões!

Sinceramente, nunca pensei que logo em Março já estivesse a pedir ajuda a Filipe Vieira, Presidente de um Alverca que lutava para não descer de divisão. Ou seja, o homem que ia ensinar futebol a Vale e Azevedo, ao fim de 5 meses estava derrotado, com o Benfica a lutar pelos lugares da UEFA, acabando por ficar em 6º lugar a pior classificação dos últimos 60 anos, e a melhor ajuda que arranjou foi a do Sr.º Filipe Vieira, Presidente que lutava para não descer de divisão!

A mentira tem perna curta. E o preço a pagar costuma ser caro. Inequivocamente! (cont.)