terça-feira, 26 de agosto de 2014

Rola a bola....

Portugal 26 de Agosto de 2014

Duas jornadas, 6 pontos, a primeira vez que JJ começa o campeonato com 2 vitórias consecutivas, mas sem querer parecer aquela imprensa que só vê o futebol do Benfica como um copo meio cheio, isto não me tranquiliza minimamente.
É evidente que é melhor ter 6 do que 4 pontos, como no ano do título de 2010, ou 3 como no titulo da época passada. Mas se percebermos que apenas melhoramos nos processos defensivos – zero golos – e temos um ataque quase miserável com 3 golos, dois deles marcados por defesas, acho que não é para estarmos tranquilos.
Contudo este cenário já era por mim projectado quando escrevi o texto “Fim de uma era” referindo-me à venda ao desbarato de Cardozo, o melhor avançado estrangeiro que alguma vez actuou pelo Benfica. Era previsível que sem a muleta de Cardozo, Lima se revelasse o jogador mediano que sempre foi. E posto isto, sem um avançado que marque golos, é muito mais difícil ser campeão.
Não é preciso ler muito sobre este tipo de assuntos, basta fazer comparações. Com Cardozo (1822 mn, 17 golos) Lima (2397 mn) marcou 20 golos na época 2012/13. Com Rodrigo, Lima (2428 mn) marcou 14 (Rodrigo com 1857 mn marcou 11, Cardozo jogou 731 mn e marcou 7 golos) na época 2013/14! Não ver isto e andar de fato e gravata a fazer de conta que se está a pensar uma equipa cada vez mais forte, é pura farsa...
Os números nunca podem ser ignorados no planeamento futebolístico. Porque os números comparam-se e as opiniões não. Ora no Benfica prevalecia a ideia que Cardozo era lento, não se mexia, não corria, etc, seguindo um padrão de apreciação que faz escola no nosso clube, sem que ninguém com responsabilidades a contrarie. Neste padrão de apreciação dominante, o que interessa é a velocidade, característica que se vê mas que nem sempre se percebe. Enquanto os que não actuam de acordo com esse padrão da velocidade, são mal considerados e até assobiados (!?).
Não há dúvidas: mesmo com uma época sofrível (7 golos), Cardozo marcou metade dos golos de Lima, que jogou mais do triplo dos minutos....
Para perceber o futebol de jogadores como Cardozo, teremos de deixar os preconceitos de lado e observar que a sua movimentação era essencialmente baseada no melhor posicionamento. O seu jogo era um jogo de inteligência e não de corrida. Talvez por isso fosse difícil de apreender pela esmagadora maioria dos adeptos.
Como escrevi, virou-se uma página e agora voltamos aos tempos do “quase marcávamos” e das “oportunidades desperdiçadas”.
Sem querer pôr-me em bicos de pés, penso que Jesus não está a perceber bem o problema que tem, com um ataque baseado em avançados móveis. Se eles precisam de correr para tirarem partido da sua velocidade e técnica, a melhor solução de jogo passa por contrair a história do Benfica, do “vamos para cima deles logo desde o inicio” como os fundamentalistas defendem. Porque indo para cima deles, aumenta-se a densidade de jogadores no último terço do terreno adversário e os avançados não têm linhas de passe para poderem correr atrás da bola. E como não são jogadores posicionais, ou são medianos a trocar a bola em baixas velocidades, não tiramos partido deles. Para eles terem linhas de passe que possam aproveitar, precisamos de puxar o nosso jogo atrás, descomprimindo o último terço do campo adversário. Para isso precisamos de um 6 dito “puro”, como Fejsa por exemplo. Ou um adaptado, quando, como é o caso, Fejsa está lesionado.
Mas como disse, isto seria contrariar a tradição do Benfica, E assim continuamos a fazer como as galinhas que perante uma vedação andam de um lado para o outro e não a sabem contornar.
Paços de Ferreira e Boavista são exemplos de como o nosso sistema de jogo com tantas “experiências” e goleadas sofridas durante a pré temporada, é um equívoco que contraria as leis da física e os princípios da optimização dos recursos.
Dizem que o futebol é paixão. Será, será. Mas nada impede que se procure pensá-lo racionalmente, mesmo que com isso se tirem conclusões que vão contra o futebol visto pelo lado da paixão e da tradição.

Outra conclusão se pode tirar. A venda de Garay e Cardozo, por “opção própria” da Direcção, quando se tornou público que se ofereceu 7 milhões por 55% do passe de Hernandez (tínhamos dificuldades financeiras, dizia-se), enquadra-se numa teoria mais escabrosa que é o deliberado enfraquecimento da equipa, para aumentar as possibilidades dos rivais ganharem o campeonato. E assim, mais uma vez o Sr.º Vieira capitalizará as boas graças do “sistema”. E mais uma vez ajuda os amigos e não aqueles que está a “parasitar” a partir de off-shores.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Muita parra...



Portugal 22 de Agosto de 2014

A semana tem sido fértil em acontecimentos, dentro e fora das 4 linhas, salientando-se a entrevista do que para uns é o Presidente do Benfica, que para mim é uma espécie de “faz-que-é-Presidente” e para outros que escrevem nos onlines de BOLA e RECORD, é o PresiMente.
A entrevista que, tal como antecipei no texto “Bem-vindo Mr. Chance”, seria uma espécie de “one man show”, dado que o entrevistador é alguém que na BTV recebe um salário pago por Vieira como presidente da SAD que por sua vez é dona da BTV. É este o conceito de transparência implementado pela actual estrutura/projecto do Benfica, que muitos aplaudem.
A entrevista ficou manchada pela confirmação de que Vieira faz jus ao posto de PresiMente, quando referiu a propósito de Oblak, que o jogador já tinha sido oferecido novamente ao Benfica e que ele, qual super-herói do povo benfiquista, recusou liminarmente pelo comportamento que o atleta tinha tido.
Quando estava a ver a entrevista fiquei logo com a ideia que se estava a “enterrar”, o que foi confirmado nos dias seguintes com o desmentido formal do Atlético. No fundo, Vieira mente tanto que já perdeu a noção dos limites da sua mentira. E como tal, por vezes excede-se. Como agora.
Já tinha mentido quando afirmou que Siqueira não ficava na equipa por questões salariais, no que foi desmentido pelo jogador dias depois, e que agora se confirma com a contratação do guarda redes Júlio César, o tal que no ano passado não veio por questões... salariais.
A política salarial do Benfica, que o Sr.º Vieira gosta de usar para justificar algumas opções, é apenas mais uma das muitas mentiras que fazem o dia a dia deste nobre e centenário Clube. Soube-se agora que Garay custava 3,5 milhões por ano, fruto do salário que tinha no Real, e da necessidade que Vieira teve em vender Fábio Coentrão. Ora este salário ao pé dos 1,2 milhões do goleador Cardozo ou dos pouco mais de 1,5 milhões de Luisão, é natural que provocasse aquelas reacções de pré temporada que conhecíamos, de cada um reivindicar melhorias aos contratos. Não era afinal por ganância dos jogadores, mas pela política salarial mentirosa e de conveniência, que o “faz-que-é-Presidente” implementou.
Mas os adeptos (na sua maioria) gostam do estilo de Vieira, o tal empresário de origens humildes que está muito mais rico desde que veio para o Benfica, quase na mesma proporção (passe a ironia) que o Benfica está mais atolado em dívidas e compromissos financeiros.
E por gostarem do que se vai passando é que não percebo este Benfica. Ou melhor, cada vez mais percebo o que é o Benfica. O Benfica “melhor clube do mundo” é algo que não existe, com excepção do passado glorioso (que ninguém nos pode tirar) e da maior massa associativa do Mundo. O resto (ética, valores, princípios, etc.) é para esquecer, estando ao nível de um pequeno Clube de uma qualquer freguesia de Lisboa. Ou de Alverca.
Continuando, Vieira, responsável máximo do Clube/SAD do Benfica afirmou, por oposição a todas as outras vendas onde prevaleceu o critério da cláusula de rescisão, que por opção própria, o clube desinvestiu em Cardozo e Garay. Então é só isto? É com isto que a nação benfiquistas fica esclarecida? Dispensa quase de borla dois jogadores fundamentais no plano desportivo, com fundamento numa “opção própria” e já está? Que consequências teremos no plano desportivo, fruto dessa opção, e quem as vai assumir? O presidente? O treinador? Que implicações esta “opção própria” terá no plano económico uma vez que foram feitas aquisições para a defesa e perspectiva-se nova contratação para o ataque?
Que faz o entrevistador perante este evidente ponto fraco da argumentação? Confronta o Sr.º Vieira ou pensa no cheque ao fim do mês? Pergunta de resposta fácil, como aliás em quase tudo que é comunicação do Clube...
Resumindo, o presiMente afirma que desinvestiu em dois activos desportivos de relevo, por “opção própria”, é desmentido na cedência do Oblak e no dia seguinte não se passa nada! Os que antes, com Vale e Azevedo, se penduravam nas páginas de jornais e tempos de antena em rádio e televisão, agora não vieram questionar estas opções da Direcção, nem defender a honorabilidade do Clube.
É este o actual Benfica. De muita parra e pouca uva....

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Bem vindo Mister Chance...



Portugal 13 de Agosto de 2014

No início dos anos 80 vi um filme que em Portugal recebeu o título de “Benvindo Mr. Chance”, filme lançado em 1979 e que contou com uma interpretação soberba desse grande nome da 7ª arte, o já desaparecido Peter Sellers.
O filme gira em torno de um cinquentenário jardineiro muito humilde e muito simples, Mr. Chance, que depois de ser posto fora da mansão do patrão, por falecimento deste, contactou casualmente com um empresário que acabou por fazer dele um grande personagem dos Estados Unidos da América, conseguindo inclusivamente que fosse eleito Presidente.
O que mais me marcou desse filme é que o tal jardineiro apenas abria a boca para dizer frases curtas e muito simples, pois era um homem sem cultura e sem experiência de vida (pois tinha sido sempre jardineiro e vivido na mansão do patrão). E contudo, as pessoas que passaram a privar com ele, fruto do conhecimento com o tal empresário, achavam que ele era um génio de potencial incrível e acabaram por levá-lo a Presidente dos Estados Unidos.
Este foi um filme de sucesso razoável, baseado na ironia e na sátira à sociedade americana, do qual para mim, o aspecto que retive foi que as pessoas liam nos lábios de Mr. Chance não o que ele de facto dizia, mas aquilo que elas achavam que ele era capaz ou tinha potencial para dizer.
Vem isto a propósito da gestão que o Sr.º Vieira tem feito no Benfica desde 2003, onde vejo muitas semelhanças com Mr. Chance, sendo frequente debater o actual Benfica com outros adeptos e sócios, não pelo que somos de facto mas por aquilo que ainda podemos vir a ser, pois Vieira está a trabalhar para isso (segundo eles).
Nem os 13 anos de desempenho que já leva à frente do Cube/SAD, primeiro como gestor depois como Presidente os consegue convencer que há demasiadas coisas que não batem certo com o “guião” que, como um bom aluno de representação teatral, interpreta com grande concentração e devoção, evocando não raras vezes o seu passado de pessoa pobre, que veio do nada e fez “fortuna a partir do zero” (as palavras são dele).
Também aqui as pessoas (sócios e adeptos) vêem o que querem ver e não aquilo que de facto é. A diferença é que o Sr.º Vieira é muitíssimo mais inteligente do que Mr. Chance, e sabe aproveitar o momento com grande eficácia, ou não tivesse muita gente a trabalhar com ele e para ele, neste suposto projecto.
Como por exemplo, a entrevista que vai dar à “BêTêVê” (muito cuidado com o significado que tem a alteração de Benfica TV para BTV, com todos os jornalistas da mesma a cumprirem o que lhes foi indicado) onde será entrevistado por um jornalista a quem paga o ordenado!
Esta é a forma como Vieira e seu staff fazem a avaliação da transparência do Clube/SAD numa fase delicada do “projecto” saído da eleição de Manuel Vilarinho (que funcionou como um autêntico Cavalo de Tróia de onde saíram Filipe Vieira e todos os interesses que passaram a comandar o Benfica), onde seria imperioso que os benfiquistas e desportistas em geral fossem esclarecidos sobre o que se está a passar.
O desmembramento da equipa campeão abaixo da cláusula de rescisão confere legitimidade às interrogações sobre os reais interesses de um “projecto” com 14 anos! E faz recuperar” outras questões que ninguém percebeu bem, como por exemplo, o que ele queria dizer quando falou do “milagre económico” ou do “sabemos para onde vamos, é difícil mas iremos lá chegar”, já para não recuar no tempo e perceber o que e queria dizer com “Mantorras vale 18 milhões de contos” e em 2003 “daqui a dois anos estaremos a dar cartas na Europa do futebol”.


Obviamente que não iremos ser esclarecidos e que a dita entrevista apenas servirá para branquear a ruinosa gestão que tem sido levada a cabo desde Novembro de 2000 (desculpem lá, mas o passado não se apaga). Não será uma entrevista para o Presidente ser confrontado com os sucessivos erros de gestão desportiva e financeira, ou vice-versa, será uma entrevista que o Presidente irá aproveitar para explicar porque fez o que fez, mesmo que esteja a mentir, como quando explicou que o ordenado do Siqueira inviabilizava a sua contratação, desmentido pouco tempo depois pelo próprio Siqueira que assumiu nem se ter falado disso.
Será uma entrevista do “one-man-show” tão ao jeito dos fervorosos adeptos que vão às AG’s e vêem nele, não a razão do que se está a passar (completa subalternidade futebolística para o FCP e esbanjamento de centenas de milhões de euros em juros de empréstimos que ao Benfica servem pouco) mas aquilo que eles acham que ainda pode vir a acontecer de bom.
Para mim Vieira continuará a ser o homem que faliu quase todas as empresas onde esteve como sócio ou accionista, excepto as que detêm em parceria com os filhos. E só este facto, conhecido desde sempre, seria motivo para não lhe terem dado todo o poder, como deram. Com consequências imprevisíveis....

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O inicio de uma era...



Portugal 11 de Agosto de 2014

Vencemos a Supertaça, a 5ª do nosso historial e um troféu – que apesar da reduzida importância - nos tem dado a noção de como o FCP comanda a arbitragem nacional, já que sempre que jogamos contra eles, ora por erros de arbitragem mais ou menos escandalosos, ora porque se apresentam melhor preparados, ganham-nos quase sempre.
Uma vitória suada que aconteceu apenas no desempate por marcação de grandes penalidades e que veio confirmar o que escrevera no texto anterior: há um antes de Cardozo e um depois de Cardozo. Para não ofender os mais sensíveis, também sei que houve grandes jogadores que marcaram a história futebolística do Benfica, e que também existiu um antes e um depois deles. O mais longe que a minha memória consegue ir é ao Rogério “Pipi”, depois temos Eusébio, Humberto Coelho, Chalana, etc por aí em diante. E seguramente teremos que sobreviver e continuar sem Cardozo.
Mas para já fica evidente uma conclusão que tinha tirado e que escrevi: Lima marca mais golos ao lado de Cardozo, do que ao lado de Rodrigo ou ao lado de Derlei, ou sozinho como ponta de lança fixo, ou táctico, que ele não é. Aliás houve no jogo de ontem esse equívoco que resulta da política de contratações e vendas sem orientação útil para o lado desportivo da equipa, e que se resume a ver Lima jogando como avançado táctico (que não é, mas também não temos mais ninguém), na 1ª parte por acaso aquela onde acabamos por ter mais situações de golo.
Depois Jesus meteu Derlei e tirou Talisca, ou seja, meteu um avançado e tirou um médio, redesenhando o esquema táctico para uma espécie de 4-4-2 em losango, e como se viu, o jogo ficou mais partido e menos dominado pelo Benfica. Até ao fim do jogo, o nosso modelo oscilou por aí e como se viu, o Rio Ave equilibrou e podia ter ganho (com alguma sorte) na última jogada do prolongamento.
O que não deixa de ser curioso porque o Rio Ave jogara na 5ª feira para a Liga Europa e seria “lógico” esperar uma quebra de rendimento na 2ª parte. Mas isso não aconteceu porque o nosso 4-4-2 sem jogadores de qualidade elevada, como tivemos nos últimos anos, é um modelo deficiente (como tenho várias vezes comentado) e como tal permite que um adversário cansado e de menor valia possa controlar o nosso jogo e explorar os nossos erros (todos os jogadores de todas as equipas cometem erros como seja perda de bolas) em particular na 1ª fase da criação das jogadas de ataque, ao nível do meio campo.
Já tínhamos visto isso no golo do SCP, no 2º golo do Marselha e nos 3 golos do Valência, sempre com 4-4-2 em losango e em ambos os casos, com erros na gestão da posse de bola na zona do nosso meio campo, que originaram rápidos contra ataques e golos adversários.
Enfim, o futebol é muito pouco linear mas vejo erros e erros que provocam graves situações na nossa defensiva, e vejo muito pouca gente a ligar esses erros ao modelo de jogo do 4-4-2 losango, uma evolução do 4-4-2 clássico que tanta “barracada” deu quer com Koeman quer com Quique Flores (em particular na Liga Europa).
Do jogo de ontem salientaria (1) a diferença que é jogar com os jogadores que sobraram da época passada e que não jogaram na pré temporada como Enzo Péres, Luisão e até Jardel, (2) a diferença para melhor que foi a 1ª parte jogada apenas com um avançado, (3) a falta que já se nota de Cardozo e do seu futebol lento mas tacticamente útil a outros jogadores da equipa, o que permite concluir que temos de acabar com a ideia que avançados que correm muito é que “são bons”, (4) a arbitragem de Duarte Gomes que começou por tirar 1 penalty claríssimo ao Benfica, aos 2 mn, num lance que contudo o “Pravda” rotulou de “beneficio da dúvida ao árbitro” e (5) o público benfiquista que mais uma vez arrasou na presença e apoio à equipa de futebol. Um público de gente com mais ou menos idade, mas todos com muito sentimento e emoção pelo Benfica. Gente que merece ser respeitada por quem toma as decisões no clube/SAD e que manifestamente não tem sido.
Por último, este resultado não altera a preocupação que os adeptos mais atentos têm, no que poderá vir a ser a prestação desportiva do Benfica. Até porque faltam 20 dias até ao fecho das inscrições em Espanha, e há muita coisa por deciri. Ou melhor: os que têm decidido a gestão do Benfica, do lado de fora (Jorge Mendes e Peter Lim) ainda não tomaram todas as decisões que podem tomar. E isso a mim preocupa-me.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O fim de uma era...

Portugal 6 de Agosto de 2014

Com a venda de Cardozo ao desbarato termina uma era no Benfica. Uma era desportiva de muitos golos! Nos próximos anos o rendimento desportivo da equipa será muito inferior ao que se verificava com Cardozo, e a época transacta, apesar de bem sucedida em termos de conquistas, evidenciou uma certeza: com Cardozo, o Benfica marcou sempre muito mais.
Assim, é verdade que fomos campeões mas marcamos menos 19 golos no campeonato. Pensar repetir a dose duas vezes, é romântico e ilusório. A saída de Cardozo irá passar factura...
Poderia Cardozo ficar? Poderia Cardozo jogar até aos 100 anos? Obviamente que sim, podia ficar e não, não jogará até aos 100 anos.
Quanto à venda ao desbarato, e apesar de ser anti-Vieira desde 1999 quando vi esse cavalheiro aplaudir os golos do FCP ao Benfica, nas antigas Antas (derrota por 2-0 e acabamos com 10 por expulsão de Rojas), devo referir que me parece que esta venda pode estar associada ao previsível desmantelamento do Benfica Star Funds (BSF), ao qual o Benfica tinha vendido em 2010, 20% dos direitos económicos por 4 milhões de euros.
Com a venda de Cardozo neste momento, e admitindo (quem sabe?) que o BSF vai ser dissolvido a expensas (mais uma vez) do Benfica, podemos dizer que o valor a gastar com a dissolução do BSF se reduziu em 4 milhões de euros. Se como disse o Sr.º Vieira em entrevista, para liquidar o BSF, o Benfica iria precisar de cerca de 30 milhões, digamos que agora só precisa de 26 milhões.
Fica sem se perceber se Cardozo saiu por questões de idade, se por questões de rendimento associado ao seu salário (custo/beneficio), se por questões da gestão financeira da SAD (BSF e outras questões), enfim, ficamos sem saber nada o que não deixa de ser caricato neste Benfica que se dizia “dos sócios” (por oposição ao modelo de SAD de Vale e Azevedo, em que - dizia Vilarinho - ele ficava com tudo e depois vendia a SAD a um investidor e ficava rico).
O que ficamos a saber é que Cardozo pensava em terminar a carreira no Benfica, e eu sinceramente também pensei, porque 4 milhões, que na prática são 8, se contarmos o dinheiro recebido do BSF, é muito pouco para um avançado goleador, que marcou muitos golos e que, apesar da época passada, continuava a ter um jogo táctico importante para abrir linhas de passe para outros colegas rematarem e tentarem fazer golos. Lima, com Cardozo marcou quase o dobro de golos, do que na época passada em que jogou exclusivamente com Rodrigo.
Sem Cardozo iremos voltar aos tempos do Nuno Gomes e do Mantorras, jogadores com boa comunicação social, que primavam mais pela imagem do que pela substância do seu jogo, entenda-se, golos. Se compararmos a única época em que Mantorras jogou com disponibilidade física total, a primeira época, ficamos pelos 9/10 golos! Nuno Gomes, nas quase 10 épocas que esteve no Benfica na sua 2ª passagem, no que diz respeito ao campeonato só por 2 vezes marcou 2 dígitos em número de golos. O número médio era de 7/8 golos! Mas há muita gente que prefere gritar “óoo” e “ahhh, foi por pouco” do que valorizar este “estameiro” que se mexia pouco, mas jogava muito.
O povo benfiquista viveu feliz nesses tempos de Mantorras e Nuno Gomes. A comunicação social “empurrava” uma boa imagem dos dois jogadores para cima dos adeptos do Benfica, ora eram os cabelos ao vento do Nuno Gomes, ora eram os dribles fantásticos do Mantorras, e pronto, no final não ganhávamos porque o treinador é que não sabia.
Vivemos na penumbra de um grande clube, na penumbra do que é uma grande equipa. Há muita gente a governar-se parasitando os interesses do Benfica, mas que de futebol pouco ou nada percebe. Percebem é de ligar a rede de rega e apagar as luzes quando a sua incompetência brutal nos dá amargos de boca, e fazer comunicados idiotas quando ganhamos qualquer coisa no basquetebol em casa do principal rival. Mas da competição, de valores, de ética, percebe zero!

Tacuara saiu. Virou-se uma página gloriosa. Curioso é existirem tantas semelhanças com a forma como Eusébio foi dispensado do Benfica nos anos 70...

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Fl(op) Emirates...



Portugal 4 de Agosto de 2014

Terminada a participação na Emirates Cup, com mais duas derrotas, 8 golos sofridos e apenas 2 marcados, constato que os receios que transcrevi na parte final do último texto intitulado “amadorismo” tinham plena razão de ser. O Benfica é gerido na base de um amadorismo confrangedor seja na componente técnica, seja na componente planeamento e quando assim é, ganhar 3 campeonatos em 14 possíveis não é obra do acaso e de facto, não é só por erros de arbitragem. Até porque a própria postura do Benfica face aos sucessivos e sistemáticos erros grosseiros de arbitragem nestes 14 anos, ou indica amadorismo ou autismo ou estratégia de subjugação ao “sistema”. Qualquer das opções é má porque custa milhões de euros na tentativa do Benfica reparar esses erros a partir da qualidade interna da equipa.
Vamos por partes.
Como referi no texto anterior, estando o Benfica a reformular a equipa principal com novos jogadores, que por acaso não oferecem garantias de suceder com sucesso aos que estão a ser vendidos, uns ao desbarato outros com base nas cláusulas (diz-se na comunicação social, mas nós já tivemos um Roberto), não se compreende que o nosso treinador continue a apostar no 4-4-2 em losango, um modelo de jogo de propensão ofensiva que intrinsecamente provoca situações de risco defensivo, já que ao criar uma dinâmica de ataque planeado, permite contra ataques perigosos quando se perde a bola, porque a nossa equipa balanceada no ataque, tem poucos jogadores na zona defensiva da equipa. Ontem com o Valência, todos os 3 golos foram obtidos quase a papel químico e resultaram de perdas de bola na intermediária, que o Valência aproveitou para transformar em boas jogadas de ataque, uma vez que tinha espaço com fartura.
Será fácil bater no defesa direito Luis Felipe, ou até no Artur Moraes, que mais uma vez mostrou ser psicologicamente frágil e deu um frango monumental no 3º golo para além de ter sido mal batido no 1º golo, o sempre importante golo do empate. Mas não devemos ir por aí, pois já o fizemos com Roberto, com Emerson, etc., e o que acontece é que mudamos de jogadores, mantemos o modelo de jogo, e continuamos a perder jogos.
Não se percebe pois como JJ aposta sempre, e da mesma forma, num modelo de jogo de qualidade e para o qual não tem jogadores. Será só uma questão de “fezadas”, como o Paulo Bento com o Postiga? Ou será que alguém de dentro impõe esse modelo de jogo, a partir das supostas tradições do Benfica dos anos 60 e dos 15 m à Benfica?
Parece que JJ está sozinho nestas matérias e que ninguém da estrutura do futebol o ajuda a perceber o que acontece quando jogamos desta maneira, numa fase tão particular da época. E estando sozinho, tem de se desculpar com a treta que na pré temporada é que se fazem experiências e outros blá-blás do género.
Mas não é assim porque o Benfica quando vai para torneios distintos, é para ganhar. Seja a Eusébio Cup, seja o Emirates. O Benfica tem um prestígio a defender e se tiver de fazer experiências, tem de as fazer de forma limitada como fazem as outras equipas. É inconcebível que uma equipa com a nossa exposição mediática, uma equipa com a paixão que desperta entre sócios e adeptos, em particular no estrangeiro, vá para esses jogos com uma organização amadora, sem rotinas de jogo e com jogadores que não farão parte do grupo que irá ficar para o resto da época. Como alguns portugueses.
Se a isto somarmos os jogos diários, então a catástrofe desportiva torna-se previsível. E aqui a culpa vai inteirinha para a Direcção que ao contrário do que o tal “milagre económico” que a máquina de propaganda de Vieira deixava antever, precisa de facturar os prémios de presença nestes jogos. Só assim se compreendem estes jogos em catadupa, porque de outra maneira teríamos de guindar a opinião para o campo da burrice.
Esta foi possivelmente a pior pré temporada de sempre, uma das que teve mais jogos contra equipas a sério e que teve maior percentagem de derrotas: 75%! Nem Souness e os ingleses conseguiram fazer perto disso, bem pelo contrário. Mas Manuel José em 1997, com administração de Damásio e António Figueiredo, grandes apoiantes de Vieira, estiveram lá perto.
Dir-me-ão que “o que conta não é como se começa, mas sim como se acaba”. Direi que isso é filosofia de pacotilha de quem não percebe como é importante que antes do campeonato começar, os jogadores apresentem níveis de auto confiança elevados que lhes permitam resistir às dificuldades próprias da competição. Em particular os jogadores que acabaram de chegar e já estão associados à pior pré temporada do Benfica, o que lhes fará pensar se vieram melhorar ou piorar o Benfica, se estão à altura do desafio ou não...
Com todo este amadorismo, o Benfica hipotecou boa parte do prestígio que tinha granjeado em anos recentes, em Inglaterra. E hipotecou um bom arranque do campeonato e hipotecou a adaptação de alguns jogadores. A somar aos jogadores vendidos pelo tal “faz-que-é” Presidente do Benfica e que propagandeia a história do “milagre económico” e do “sabemos para onde vamos”, a somar ás lesões dos poucos que sobraram da última época, mais a venda de Enzo Peres que se adivinha para depois da Supertaça, ou seja, somando o azar com a intencionalidade, a próxima época que se avizinha corre o risco de se transformar num flop de proporções gigantescas.