Portugal 30 de Outubro
de 2015
Perdemos o derby
por um resultado bastante pesado, tendo em conta o que estávamos habituados com
o anterior treinador. A última derrota caseira por 3-0 aconteceu com a
Académica, era Camacho o treinador e antes disso, e que me lembre nos anos mais
próximos, tínhamos perdido com o Boavista 3-0 com Souness (estive no estádio a
ver o jogo).
Por uma questão de
racionalidade abrangente e transversal aos vários períodos de liderança do
Benfica, podia falar aqui da comparação das equipas de tostões de Vale e
Azevedo, com as equipas de milhões de Vieira, mas o que importa mais sublinhar é que estas derrotas desniveladas tiveram
sempre um sabor amargo e doloroso.
Todas tiveram as suas próprias explicações, sem
que com isso se possa dizer que podiam ser evitadas. Porque, e ao contrário
do que os pensadores mais notáveis do futebol português defendem, aqueles
pensadores que depois do jogo sabem tudo mas nunca treinaram uma equipa de
futebol (e se o fizeram, nunca ou quase nunca foram bem sucedidos), um jogo de futebol precisa de 3 equipas,
e há uma que sendo a mais pequena, pode comandar os ritmos do jogo, a favor de
um lado contra o outro, pode condicionar os instantes das alterações tácticas
por parte dos treinadores por interferência com decisões que originam ou
impedem golos, podem marcar os instantes das substituições, etc., e tudo com base na forma como interpretam e
aplicam as leis de jogo.
Nesta perspectiva, não se pode ser campeão sem arbitragens
competentes, isentas, onde o erro se resuma ao limite natural da capacidade
humana. E assim seja para todas as equipas. Só com erro tendencialmente nulo,
podemos apreciar e avaliar o que vale uma equipa de futebol, o seu treinador,
os seus jogadores.
Como se sabe, a comunicação
social com a omissão (o silêncio que Vieira tanto gosta) do Benfica tem criado ou
sugerido a ideia que somos beneficiados ou que andamos embrulhados com esquemas
menos próprios com os árbitros, quando
na realidade é o contrário que se passa. Não há inocentes nestas matérias,
mas numa escala de
interferência/condicionalismo dos árbitros, FCP e SCP vão uns anos à nossa
frente.
Dito isto, eu resumiria o dérbi em 3 períodos distintos:
1) até ao golo do SCP, 2) entre o 1º golo do SCP e o intervalo, 3) toda a 2ª
parte. São períodos com características muito próprias e como tal devem ser
analisados.
No 1º período não
existiu uma tendência de jogo definida, embora o Benfica tivesse mais ataques
do que o SCP que já se postava com uma táctica reactiva de esperar pelo erro,
mais do que o provocar.
No 2º período o domínio
táctico e mental dos jogadores do SCP foi total, e a equipa do Benfica andou um
pouco perdida em campo, raramente sabendo fugir à enorme pressão que 2, 3 e até
4 jogadores adversários faziam sobre o nosso homem que tinha a bola, e o espaço
envolvente, impedindo assim as nossas linhas de passe.
No 3º período o
Benfica tentou, o SCP defendeu (há quem lhe chame “gestão”) os 3 golos de
avanço, e espreitou erros do Benfica, mais do que os provocar. Sublinho isto
porque abona em favor da generosidade táctica do Benfica que continuou a
procurar jogar o jogo pelo jogo, tentando marcar golos, objectivo principal de
qualquer partida.
O “bom” jogo do SCP
deveu-se a terem um golo de avanço, que
lhes permitiu pressionar o nosso jogo, mais do que construir o seu jogo.
Pressionar para procurar o erro, para depois contra atacar aproveitando o
adiantamento do Benfica (a perder, ninguém coloca os jogadores na sua grande
área).
Esta perspectiva do
jogo parece-me pacifica e conclui assim: se Xistra assinalasse o penálti sobre
Luisão, e se este fosse convertido), o
panorama táctico e mental seria completamente diverso. Eram os jogadores do
Benfica que teriam a folga de um golo do seu lado, eram os jogadores do SCP que
tinham de ir atrás do prejuízo. Eram os jogadores do Benfica que podiam
pressionar mais, eram os jogadores do SCP que tinham de construir mais (o que
leva a pressionar menos, pois os jogadores ou estão num lado, ou estão no
outro).
A influência do árbitro foi pois determinante. Não só nesse
instante do jogo, fase inicial da partida, como pelo tempo fora. Terminou com 2
penáltis tirados ao Benfica, com a suprema habilidade de mostrar amarelo a
Mitroglou por simulação (o penálti sobre Gaitan tinha sido 1 mn antes). Ora
Mitroglou ficava isolado se não fosse derrubado com a anca do jogador do SCP,
pelo que não se percebe porque quis simular o derrube que na realidade foi.
Poderão dizer-me
que Xistra poderia ter expulsado Samaris com 0-3, pois fez duas faltas
passíveis de cartão amarelo (agarrou o adversário). Mas o cenário corria-lhe de
feição, o Benfica perdia 0-3 e ele sabia que tinha tirado 1 penálti ao Benfica,
pelo que não valia a pena por em risco a imagem da sua arbitragem. Foi uma
decisão de auto-defesa controlada. E sabe, com toda a gente, que depois disso pode
entrar na lógica das compensações, para favorecer o adversário do Benfica. E
foi o que aconteceu quando não expulsou Slimani por ter pontapeado Gaitan, ou
quando não amarelou João Mário por ter pontapeado as “bolas” de Jimenez. Até na
disciplina o SCP ficou a ganhar.
Por último, vi aí
um trabalho de grande complexidade publicado no Ser Benfiquista, onde são
divulgados vídeos com os supostos erros
de posicionamento dos jogadores do Benfica. Os erros são definidos pela escala dos conhecimentos do autor (sempre
subjectivos). O trabalho assenta contudo em dois erros de avaliação (pouco subjectivos): (1) ignora a qualidade competitiva do SCP (diferente do Estoril ou Belenenses
por exemplo) e parte do princípio que os jogadores do Benfica teriam sempre de
saber ultrapassar essa qualidade (a velha história da equipa que pode ganhar sempre,
se for perfeita), (2) desvaloriza as implicações tácticas nas duas
equipas, do 1º golo que naquele caso pendeu para o nosso adversário. É um trabalho interessante mas que nada
acrescenta excepto criticar o
desempenho dos nossos jogadores, os quais pelo contrário deveriam ser defendidos.
Como por exemplo, invocando os erros grosseiros de arbitragem, como fazem Mourinho, FCP e SCP nas mesmas situações.
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