terça-feira, 7 de junho de 2011

A matemática do futebol

Portugal, 7 de Junho de 2011

Há dias dei por mim a conversar sobre futebol com um cliente e amigo, pessoa de nível académico superior, empresário, aviador nas horas livres, enfim, uma pessoa com posição e supostamente “conhecimentos” destas coisas da bola. E benfiquista.

Sabendo como penso, começou por me colocar a questão clássica: “mas não acha que o FCP mereceu ganhar os títulos que ganhou?”. Respondi-lhe que não podia dizer que sim, nem podia dizer que não. Ficou um pouco atónito e contrapôs: “então não acha que os 21 pontos de avanço no campeonato, mesmo que aqui e ali possam ter sido ajudados, não lhe garantiam o campeonato?”. E acrescentou: “e nas competições europeias, os árbitros são estrangeiros e eles também ganharam”.

Tive então de lhe dar uma explicação, um pouco longa. Comecei pela invariável referência “pois é, você lê muitos jornais e vê muita televisão e depois não pensa no futebol, mas sim como eles querem que você pense”. E expliquei porquê.

Sobre o campeonato “nem vale a pena falar porque o Benfica foi afastado do título nas primeiras 4 jornadas. Se o Cosme Machado marcasse os penaltys que existiram contra a Académica, 4, se o Paulo Batista não marcasse o penalty fantasma que deu a vitória do FCP na Naval por 1-0, e com um bocado de jeito assinalasse o penalty que Álvaro Pereira provocou aos 22 mn, com cartão amarelo que com algum rigor seria vermelho, aí não era o Benfica que começava com Zero pontos, mas se calhar o FCP. Mas mesmo que o FCP empatasse, era o Benfica que colocava pressão neles logo na 1ª jornada, por ter ganho, e não o contrário. Depois na jornada seguinte se o Sr.º Proença não inventasse faltas contra o Benfica, como a que deu o 1º golo do Nacional (que a comunicação social branqueou ao referir que Roberto ficou mal na fotografia) e tivesse visto o Coentrão ser “tesourado” pouco depois, por 2 defesas dentro da área, se calhar não era o Benfica que perdia 2-1 mas sim até podia ter ganho. Mas mesmo que empatasse, e o FCP ganhasse ao Beira Mar sem casos (o 2º golo nasceu de uma simulação de Bellushi que o árbitro entendeu ser merecedora de falta defensiva), acabaríamos a 2ª jornada com 4 pontos, tal como eles, e portanto a confiança que logo se instalou na equipa do FCP, porque à 2ª jornada tinham 6 (!) pontos de avanço sobre o Benfica, essa confiança nunca existiria. E se não existisse essa confiança, “acha que o FCP jogava igual na 3ª jornada quando foi ao Rio Ave, ainda para mais, novamente ajudado?”. Que “aconteceria se eles tivessem ido lá com os mesmos pontos do Benfica e o árbitro do CA Porto Jorge Sousa, tivesse visto a falta de Falcao sobre o Milhazes, no lance que precede o 1º golo, tal como viu no ano passado em Braga uma falta de Cardozo sobre Leone em Braga, quando o Luisão fez o empate que não valeu? E se o árbitro depois tivesse visto o Álvaro Pereira fazer 2 penaltys na mesma jogada e ainda ter ganho 1 cartão amarelo para um dos avançados que derrubou? Quanto acha que vale, naquele momento, um cartão amarelo perdoado ao Álvaro Pereira, o respectivo penalty e possibilidade de golo, e em vez disso ser o avançado que leva amarelo e fica condicionado? Será que o FCP ganhava esse jogo? Dificilmente ganharia, e mesmo que empatasse, como nós ganhamos ao Setúbal com 10 jogadores, ficávamos 2 pontos à frente.

Posto isto perguntei-lhe: acha que o Benfica em 1º lugar à 3ª jornada suscitava a especulação mediática em torno das qualidades do guarda-redes? Das opções do treinador? Da qualidade dos novos reforços? De todos aqueles temas que a comunicação social habilmente sabe colocar para por os benfiquistas a falarem de tudo menos dos erros dos árbitros? Claro que não!
Na Liga Europa? Olhe, se o Sapunaru fosse expulso quando agarrou o Saviola no jogo da Taça, num dos raros momentos em que ele conseguiu fintar os 4 defesas do FCP e o árbitro assistente que estava sempre a levantar a bandeirola para o Cardozo, se o FCP ficasse com 10 com 0-0, algum dia nos eliminavam? Claro que não! E se o Benfica eliminasse o FCP da Taça teria havido o terramoto emocional que rompeu a relação de proximidade entre os adeptos e a equipa, que provocou uma enorme crise de confiança nas suas qualidades, na generalidade dos jogadores do Benfica, que desgastou ainda mais a imagem do treinador perante adeptos e comunicação social? Claro que não! Era o FCP que levava um 2º murro, depois da Taça da Liga, eram eles que ficavam com dúvidas sobre as suas qualidades e sobre o valor da equipa, éramos nós que embalávamos para uma ponta final pacífica, confiante, consensual entre adeptos e comunicação social porque os resultados desportivos eram bons e próximos dos títulos.

Assim, por causa de um simples cartão amarelo que não foi exibido como mandam as regras do “manual da arbitragem”, acabamos nós com falta de confiança, com critica desmesurada, com intranquilidade, com fraqueza de jogo colectivo (porque este é um somatório das capacidades individuais, entre outros) e assim lá se foi a Liga Europa. Noutras condições, com árbitro estrangeiro, o Braga era goleado na Luz e depois em Braga era só para cumprir calendário...

E sabe que mais: “se para o ano os truques de arbitragem forem os mesmos, como vão ser, acha que podemos ganhar alguma coisa?”. Olhou para mim, virou os olhos para baixo e suspirou ...

Tinha acabado de concordar comigo. O futebol tem uma matemática diferente da que nos “vendem” através da comunicação social (sistema).

2 comentários:

  1. É exactamente isso que tenho explicado, já para não falar na pressao que o vilas boas sofria por ter perdido ou empatado no primeiro jogo, uma aposta do bimbo que iria sair furada, etc...

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  2. Tudo é sequencial Gilão. O futebol é uma soma de momentos, de jornadas, de resultados. Tudo alinhado sequencialmente, uns influenciam os seguintes. É esta parte da análise que o pessoal se esquece de fazer.

    Ninguém pode fazer futurologia nestas coisas, mas é legitimo questionar-mos "e se os árbitros errassem contra o FCP como erram para o Benfica, será que eles ganhavam o que ganharam"?

    A minha convicção é: óbviamente que não ...

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