Portugal, 28
de Agosto de 2012
Queira-se ou não, Jorge Jesus já deixou uma marca
incontornável no Benfica e no futebol nacional, através dos anos que tem
servido o Benfica, e dos pequenos - grandes títulos que conseguiu conquistar,
contra tudo e contra todos, incluindo a
mesquinhez ignorante de gentes do próprio Benfica.
De facto na nossa
história recente, julgo que só Otto Glória serviu o Benfica mais anos do que
Jesus, embora em dois períodos distintos e intercalados com, julgo, Bella
Guttman. Não consigo encontrar outro
treinador com 4 épocas iniciadas, nem no Benfica, nem no FCP ou SCP, esperando
que em breve Alberto Miguéns possa satisfazer a nossa curiosidade sobre este
aspecto.
Jorge Jesus chega ao Benfica após um mini
ciclo descendente do nosso futebol, resultado da incapacidade da Direcção em segurar Koeman (levou-nos
aos quartos de final da Champions), deixando depois Fernando Santos ao abandono
para o despedir após a 1ª jornada da 2ª época, indo depois recuperar um amigo,
Camacho, que contudo nunca conseguiu gerir Rui Costa na equipa e acabou por
sair, dizendo com toda a sinceridade que “não sabia que fazer mais”. Veio
Quique, depressa conotado com opção de Rui Costa no seu primeiro ano de
dirigente. As guerras intestinas no clube fizeram o resto e mais uma vez
trucidaram um treinador que a seguir foi recuperar o Atlético de Madrid das
posições de descida de divisão, guindando-o à vitória na Liga Europa e na
Supertaça Europeia.
Jesus surge neste contexto como escolha de
Vieira e como mostra de fragilidade de Rui Costa a quem foram assacadas as responsabilidades
pelo “fracasso” de Quique Flores.
Adepto confesso do futebol de ataque, Jorge Jesus implementou uma versão do 4-4-2
em losango (sistema tentado várias vezes por Fernando Santos, com outros intérpretes),
com Di Maria no lado esquerdo, Ramires médio interior a descair para o lado
direito (fez apenas 1 assistência, mas marcou vários golos na posição de ponta
de lança), Javi Garcia como pêndulo de ligação defesa-ataque, dois pontas de
lança que combinaram de forma contundente, Saviola e Cardozo, defesas centrais
seguríssimos, Luisão e David Luís, o defesa lateral direito que já na altura
não tinha alternativa, mas ninguém falava porque não vinha nos jornais, Maxi
Pereira e um defesa esquerdo que não me lembro quem era e mais tarde passou a
ser Coentrão.
Sorte, mérito,
muito trabalho ou cansaço de títulos que o “sistema” tinha dado ao FCP, 4
consecutivos, o que é certo é que o
Benfica fez uma época espectacular a todos os níveis, algo de irrepetível nos
tempos mais próximos, pois obtivemos 84% de pontos, tantos quantos Mourinho
no 1º ano que foi campeão pelo FCP (com boas arbitragens e um bom plantel, vencedor
da Taça UEFA).
Os anos
continuaram, os jogadores mudaram e Jesus
continuou fiel à táctica do 4-4-2 em losango, desvalorizando as lições das
derrotas em Anfield Road por 4-1 e em casa do FCP com Proença a arbitrar, por
5-0. Como resultado fomos eliminados da Champions por Shalke04 e Lyon, sem marcar 1 único golo fora de casa. Mas
atacamos bastante, como os adeptos gostam.
Na época passada finalmente chegou um sinal de inteligência
e reflexão, e vimos o Benfica jogar na Champions e em alguns jogos mais
difíceis em 4-2-3-1, o que seguramente teve a ver com a chegada aos quartos de
final da Champions e uma receita arrecadada de 20 milhões de euros só em
prémios da UEFA.
Apesar dos bons
resultados obtidos por este modelo de jogo, inédito no Benfica dos últimos anos (para não dizer desde sempre),
ouviram-se e leram-se algumas criticas, quer de fora, quer de dentro. As de “fora”, sabemos que têm uma intenção:
ajudar os adeptos a pensar mal. As de dentro confesso que não entendo e só as
posso associar à tal burrice pelintra e ignorante que faz escola entre certos
adeptos, mais ou menos ilustres do nosso Benfica.
Como nós sabemos
que temos uma Direcção que não pensa
futebol, negoceia-o à custa de mais e mais empréstimos bancários, esta
época temos outra vez o 4-4-2 em losango. O tal modelo de ataque, o tal futebol que é o ADN do Benfica.
Jesus limita-se a ir de encontro à história
táctica do Benfica.
Transformou o 4-4-2 clássico dos anos 60 e 70, no 4-4-2 losango apesar de tudo,
um pouco mais consistente nos contra ataques dos adversários. Criticar os modelos de jogo de Jesus é ao
fim e ao cabo, criticar os modelos de jogo do Benfica ao longo dos anos, é
criticar o tal ADN do futebol de ataque.
Se algo está mal ou carece de reflexão entre
sócios, adeptos e analistas que se interessam por estes pormenores, então temos
de por o ADN do Benfica no cerne do debate. Não o treinador que está a fazer
história no Benfica...
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