sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Lucky, Me? ( I )


Portugal, 16 de Novembro de 2012

A recente apresentação do Dr.º Vale e Azevedo (JVA) às autoridades britânicas e posterior extradição para Portugal, 3 anos depois do Correio da Manhã a ter anunciado como estando “eminente”, veio mais uma vez dividir a opinião que os adeptos do Benfica têm do ex-Presidente mais polémico da sua centenária história.

Para perceber boa parte do que tem sido a vida do Dr.º Vale e Azevedo depois de ter perdido as eleições no Benfica e ter passado a sua posição na SAD para os vencedores, com galhardia e elevação, temos de recuperar parte da mini biografia de Joaquim Oliveira, publicada no Expresso em 25 de Março de 2005:

Por falta de fôlego financeiro, em dado momento desta guerra contra a dupla Emídio Rangel/Vale e Azevedo, Joaquim esteve à beira de atirar a toalha ao chão. Encarou mesmo vender o grupo, então avaliado no intervalo entre os 12 e os 15 milhões de contos, a Francisco Balsemão. Mas Ricardo Salgado deu-lhe a mão, comprando-lhe o tempo necessário para ganhar a guerra. Foi o início de uma bela amizade com o banqueiro. Mais tarde, o BES e a PT desaguaram no mundo do futebol - até então muito ligado ao BPI, que montara as SAD do Sporting, FC Porto e Boavista - pela mão de Joaquim, patrocinando os três grandes e a Selecção. Durante a guerra foi cuidadoso. O alvo dos processos judiciais foi sempre Vale e Azevedo, nunca o Benfica. Na hora da vitória, com o inimigo atirado para a cadeia, soube ser magnânimo, ao converter em 20% do capital da Benfica Multimédia os 2,1 milhões de contos que o clube encarnado teria de lhe devolver.”

Como facilmente se percebe, sou dos que pensa que há algo mais do que conduta imprópria ou eventualmente ilícita, a justificar todo o aparato judiciário, judicial, mediático contra o Dr.º João Vale e Azevedo. E para que se perceba um pouco melhor a minha posição, posso revelar que em 1994 apoiei Manuel Damásio, em 1997 apoiei Luís Tadeu e em 2000 apoiei Vale e Azevedo, que aliás foi o único que conseguiu que eu fizesse 900 km, ida e volta, para votar nas eleições em que ele saiu derrotado. Penso, pois, ter a credibilidade necessária para abordar o tema.

Em minha opinião os problemas de JVA não começaram quando perdeu as eleições, em 2000, mas sim quando Manuel Damásio se demitiu em directo nas televisões, balbuciando um conjunto de ideias e lamentos, de que ressaltou o (para mim) famoso: “não tenho mais formas de inventar dinheiro”. Foi aí que JVA decidiu recandidatar-se, foi aí que deu o primeiro passo atrás na sua vida. O segundo passo atrás foi quando decidiu – por razões justificadas – declarar nulos os contratos com a Olivedesportos.

Ganhando as eleições ao “romântico” Tadeu, JVA viu-se desde logo confrontado com um clube sem receitas televisivas (já recebidas por Damásio por conta de um contrato que só começaria em 1999), sem liquidez na tesouraria, com compromissos assumidos pela Direcção de Damásio das quais se destacam a contratações de vários jogadores, como Gamarra que foi adquirido contra o pagamento de 36 letras! Ou seja, a situação era muito pior do que ele esperava.

A ruptura com a Olivedesportos foi pois um acto simultaneamente englobado numa estratégia de fazer face ao “polvo” que comandava o futebol, mas também por necessidade de encaixar dinheiro. Para isso precisou de se aliar a outro operador televisivo, desconhecendo eu quais as razões que o levaram para a SIC. Não será também difícil adivinhar porquê: com José Eduardo Moniz (o das quotas por pagar) na TVI, com a influência de Joaquim Oliveira na RTP através dos seus contactos com os membros do governo, nomeadamente o Secretário de Estado, o benfiquista Arons de Carvalho, a JVA só restava a SIC.

Esta parceria ajudou o Benfica a sobreviver financeira e desportivamente. Mas pôs em causa os milhões de euros que os tais interesses, que ficaram de fora do Benfica – BES, PT e Joaquim Oliveira, tinham como expectativa ganhar, caso Luís Tadeu tivesse sido eleito.

Esta hipótese nunca antes colocada por nenhum analista, ou seja, Tadeu ser o candidato dos mesmos interesses que 3 anos mais tarde viriam a colocar Manuel Vilarinho na presidência do Benfica, é a hipótese mais credível e razoável para explicar porque razão Luís Tadeu e tantos outros que o apoiaram, sabendo a situação em que Manuel Damásio tinha deixado o Benfica, optaram sempre por criticar e atacar quem estava a tentar resolver o problema, e não quem o tinha criado!

Neste contexto não posso deixar de lembrar a entrevista que Tadeu deu ao JN onde defendeu que “o Benfica devia perder (no futebol) porque se não nunca mais conseguiam tirar de lá Vale e Azevedo”. Pela primeira vez na vida, não percebi o que era, o ser benfiquista. (cont.)

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