Portugal 10
de Julho de 2014
O cabaz de golos que o Brasil
levou da Alemanha fez-me alterar o plano de não voltar a comentar sobre jogos
do Mundial. Esse jogo foi uma efeméride e merece umas linhas de reflexão, mais
não seja porque vi o jogo de forma diferente dos tais “analistas” de resultados
que a comunicação social e os adeptos confundem com “especialistas” de futebol.
Mas antes de mais quero salientar
que tem de se concluir que há muito
burro no Benfica a escrever sobre Benfica, no que diz respeito à equipa de
futebol. Esta goleada sofrida pelo Brasil é um exemplo claro que não se pode afirmar com a jactância e
pedantismo que se vê em certos blogues, que “com estes jogadores qualquer um é campeão no Benfica”, numa
critica explicita ao trabalho de Jorge Jesus. Não! Errado! Há que trabalhar
muito e em muitas variáveis para que uma equipa não perca jogos, quanto mais,
para que não seja humilhada, de modo a chegar ao final das provas em condições
de as ganhar. E para isto é preciso muita competência, muito trabalho em campo
e fora dele na vertente mentalização, muita componente técnica e muita
capacidade de a interpretar satisfatoriamente. E Jesus faz isso há 5 anos, quase repetidamente, o que valoriza
mais o seu trabalho.
Como se viu com duas equipas com
11 contra 11, com os melhores executantes do mundo, dos melhores treinadores do
mundo, o resultado foi um cataclismo de
tal ordem que não há explicação lógica ou científica para justificar o que
aconteceu. Há sim explicações plausíveis ou exequíveis, que não deixam de
ter a sua componente opinativa e como tal, serão sempre sujeitas a critica e
discordância.
Não podendo buscar uma explicação
para tal descalabro na superioridade numérica de uma equipa sobre a outra, na
táctica suicida ou na escolha de maus jogadores, mesmo que se possa discordar
de alguns nomes que foram seleccionados em detrimento de outros (como Fred ou
Hulk), teremos de nos apoiar na envolvente do jogo e das Selecções em questão.
Como bem diz Van Gaal, perder 7-1
ou perder por grandes penalidades é a mesma coisa. De certa forma sim, porque sendo o objectivo a passagem à fase
seguinte num só jogo, o que interessa é passar seja de que forma for. Ora
um jogo a eliminar acarreta “nuances” competitivas que um jogo em fase de
grupos não acarreta. Neste os jogadores sabem que há outros jogos para compensar
um resultado menos bom, enquanto na fase de eliminação directa isso não é
possível. Para ser bem sucedido na fase a eliminar é necessário (não só, mas também) que os jogadores tenham uma boa
mentalidade, uma mentalidade que os mantenha competitivos mesmo que o
adversário marque o primeiro golo.
Ora comparando Brasil com
Alemanha, o que temos? De um lado uma Selecção muito pressionada por jogar em casa, por ser a que mais títulos tem
na história do campeonato do mundo, por querer deitar para trás o famoso
“maracanazo”, por querer dar alegrias ao povo brasileiro que é dos mais ligados
ao futebol do seu país. Do outro lado temos uma Selecção onde o racionalismo é levado aos extremos, o
sentimento passa ao lado das diversas componentes do jogo, onde o
profissionalismo é levado a sério e só conta uma coisa: meter a bola na baliza.
Assim temos o Brasil com os seus
treinos abertos ao povo porque o futebol da Selecção passa muito para além das
4 linhas, enquanto temos uma Alemanha com os treinos fechados ao público porque
o futebol tem apenas uma função desportiva e como tal, quanto mais concentração
existir, melhor. Temos um Brasil de
samba e forró, e uma Alemanha de concentração e forte determinação.
Foi no cruzamento destes factores
que aconteceu a catástrofe brasileira, convicção que reforço depois de ver o
Argentina – Holanda. O azar do Brasil foi ter apanhado a Alemanha, naquele jogo
da meia-final, naquelas condições psicológo-mentais, com uma equipa forçada a
inovar no centro da defesa e com um público ansioso pela vitória. Se tivesse
apanhado a Holanda ou a Argentina, nada disso teria acontecido, porque após o
1º golo, estas Selecções controlam mais o jogo, com menos balanceamento
ofensivo e esperando pelos erros dos adversários. A Alemanha não é assim! É uma autêntica “predadora”: querem mais e
mais golos.... Arriscam, atacam atrevem-se porque é a sua forma de ver o
futebol... E foram premiados...
Contudo, essa goleada pode ter um
efeito perverso. A Argentina gosta de
jogar em contenção e transições rápidas, o que vai prejudicar o futebol alemão,
agora favorito e como tal, com necessidade de maior balanceamento ofensivo.
Ora quando uma equipa tem esse balanceamento ofensivo e do outro lado está uma
equipa que gosta de jogar na contenção e no baixo risco, podemos ter algo que
pode surpreender quem não percebe o futebol. Não me surpreenderia que a
Argentina vencesse a final, com alguma facilidade embora por margem mínima ou
quase. Em termos de dificuldade de jogo, a Alemanha pode vir a sofrer na pele,
o que o Brasil sofreu no jogo com a Alemanha, embora por resultado de desnível
aceitável.
Porque perco tempo a falar deste
futebol mundial? Porque, embora noutra escala, o futebol que o Benfica joga e
contra quem joga, não foge muito destes
padrões. OS executantes podem ser diferentes, a temperatura e humidade
também, mas os princípios do jogo são os
mesmos. Não há milagres. Se não respeitarmos o jogo, nunca seremos grandes
porque continuaremos a ganhar pouco.
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