quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O clássico de dia 13 (parte II)



Portugal 17 de Janeiro de 2013

Como referi antes, os ditos clássicos com o FCP normalmente dividem-se em 3 partes distintas: 1) antes do jogo, 2) o jogo propriamente dito, 3) o pós jogo...
Abordando agora a 2ª parte temos então o jogo, que mais do que um “choque” de duas equipas, é o “choque” de duas culturas de jogo e dois modelos tácticos distintos: o “proactivo” 4-4-2 do Benfica contra o “reactivo” 4-3-3 do FCP. Uma equipa a fazer tudo para ganhar, outra a fazer tudo para não perder. Benfica vs FCP é sempre assim, pelo menos desde que Pedroto treinou o FCP.
No final de cada jogo com o FCP, no estádio da Luz, fica sempre a ideia que o Benfica não atacou bem, com qualidade e acutilância, como costuma fazer com outros adversários. Vai daí, parte-se para a conclusão que o FCP fez melhor exibição do que nós. Há muitos anos defendo que esta perspectiva está errada. Nem o Benfica joga assim tão mal, nem o FCP joga assim tão bem.
Se repararmos bem nos últimos encontros, em particular nos jogos desta Direcção da “credibilidade” (não esquecer que as equipas do pouco “credível” Vale e Azevedo ganharam 2 e empataram 1 jogo em casa com o FCP), o FCP não precisa de se esforçar muito para manietar o Benfica. E regra geral há sempre um herói do lado deles, e um vilão do nosso lado. Foi assim com McCarthy, foi assim quando Deco marcou o golo que nos derrotou e Ricardo Rocha “fez-se” expulsar, foi assim quando Quaresma fez um “nó” ao Léo e partiu para o golo que nos derrotou, foi assim com Roberto e Hulk num ano, Hulk e Emerson no outro. E assim será enquanto não percebermos de onde vem o problema.
O problema vem precisamente da estrutura física do 4-4-2 e do 4-3-3. Dê-se as voltas que se derem, o Benfica colocando mais unidades de vocação ofensiva, os 2 jogadores de área (mais móveis, mais fixos ou um de cada tipo), tem sempre, mas mesmo sempre, menos jogadores no meio campo. A versão clássica do 4-4-2 ainda agrava mais a coesão da equipa, pois empurra dois médios para as alas, deixando os dois médios interiores “abandonados” à sua sorte, talento e capacidade física. A distância entre os jogadores é pois maior neste modelo.
Já o 4-3-3 é um falso modelo de ataque, pois ao prever um único ponta de lança, a equipa tem mais uma unidade no meio campo, pelo que até os médios que jogam nas alas, ou “asas” como em determinada altura os portistas gostavam de falar, esses médios estão mais próximos uns dos outros. E estando mais próximos, as tarefas de recuperação de bola são mais eficazes porque há menos linhas de passe favoráveis ao adversário. E há mais espaço nas costas da linha da bola, ou seja, o risco do contra ataque ser eficaz, é maior.
É pois tudo uma questão de densidade natural de jogadores no segundo terço do terreno: o 4-4-2 (clássico ou em losango) tem menos do que o 4-3-3 (com qualquer das suas variantes). Daí a vantagem de quem joga em 4-3-3, apresenta em jogos contra o Benfica. E se como é o caso, se trata de uma equipa com bons jogadores, com historial, com pretensões ao título, tudo se complica para nós.
Se não percebem desta maneira, dou outro exemplo. Temos uma planta com 100 m2 de área. Se utilizarmos 5 pilares para a suportar, temos uma área de influência de 20 m2 para cada um. Se na mesma área utilizarmos 6 pilares, a área de influência diminui para 16,7 m2. Ou seja, cada pilar está menos carregado...
O futebol, independentemente dos actores (treinador, jogador, etc.), tem uma componente científica que raras vezes é considerada. Os “papagaios” que têm explicação para tudo, em particular depois do jogo terminar, nunca conseguem ligar os seus pensamentos desportivos às questões mecânicas do movimento de jogadores e da sua interacção com um bloco oponente. Porque dá trabalho...
Em face desta componente esquecida na análise desportiva, atrevo-me a dizer que o FCP (reforçado pela actuação da arbitragem) jogando no seu modelo preferido, contra o Benfica, no seu modelo habitual, em 10 jogos ganha 4, empata 5 e perde 1. Seja qual seja o treinador e os jogadores do Benfica, e do FCP. Porque o modelo de jogo os favorece do ponto de vista mecânico, com mais compacidade própria, menos linhas de passe oferecidas ao adversário, mais reactividade ao erro adversário, mais facilidade de contra atacar o adversário de pendor ofensivo, etc.
As estatísticas não enganam: nos últimos 13 jogos na Luz para o campeonato (onde a componente “arbitragem” acentua os defeitos do nosso modelo e maximiza as virtudes do deles), o FCP ganhou 5 vezes, perdeu 3 e empatou 5 ... Eles tiveram 6 treinadores distintos, nós 8 ... Perante estas evidências, só um imbecil ou um brincalhão pode acusar o treinador (Jesus, neste caso, como antes os outros sete) de ser casmurro, de não saber escalar a equipa, de não saber fazer substituições, etc. Porque o próximo vai jogar no mesmo modelo táctico e vai ter os mesmos resultados, pelo menos contra o FCP que é o adversário interno mais forte a jogar em 4-3-3.

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