Portugal 22
de Maio de 2014
Numa época
desportiva inolvidável, parece-me mais
útil tentar perceber como aconteceu o que gloriosamente aconteceu, do que
propriamente estar a especular sobre a marca da pastilha elástica do treinador,
se deve sair ou se deve ficar, que jogadores vão sair, que jogadores vão ficar,
etc., debates estéreis que não levam a nada. Porque nada disso depende de nós,
mas sim do “mercado”, ou seja, da lei da
oferta e da procura com muito bluff pelo meio.
Entre a
última gloriosa conquista, Taça de Portugal, e o primeiro jogo onde senti que
esta época tinha um elán especial, Gil Vicente, 2ª jornada, podemos constatar
que JJ utilizou os mesmos jogadores (!) com excepção de 3: Artur saiu para dar
lugar a Oblak, Matic foi vendido e deu lugar a Ruben Amorim (e André Gomes às
vezes), e Cortez dispensado deu lugar a André Almeida (ou Siqueira). Ou seja, constata-se que JJ para esta época
acreditou piamente num conjunto limitado de jogadores e no 4-4-2 em losango,
com 2 pontas de lança móveis (Rodrigo e Lima), um médio box-to-box que joga a 8
mas também a 6 (Enzo Peres), um médio box-to-box que joga a 6 mas também a 8
(Matic primeiro, Ruben ou André Gomes depois) e dois médios alas que misturam
criatividade com velocidade (Gaitan e Sálvio, primeiras opções, Sulejmani e
Markovic segundas opções).
Por coisas que no futebol não se explicam mas que
se registam, o Gaitan que marcou o golo da vitória sobre o Rio Ave foi o
mesmo que contra o Gil Vicente mandou uma bola ao poste na marcação de um livre
directo, também na 1ª parte. Quando estava 0-0. A diferença que ambos os lances fizeram! Um deu vitória, o outro
acentuou o nervosismo e falta de ideias da equipa, talvez condicionada pela má
pré-época e turbulência em volta do treinador, e de que veio depois a resultar
1 golo do Gil Vicente após erro de (Super) Maxi Pereira.
O jogo com o
Gil foi ganho em condições verdadeiramente incríveis, com 2 golos nas
compensações, e já depois de JJ ter efectuado uma alteração táctica invulgar
(que não me recordo de ter repetido) trocando Rodrigo por Djuricic (Gaitan e
Sálvio deram lugar a Markovic e Suljmani). Com isso desceu ligeiramente as linhas atacantes do Benfica. Impensável nos
tempos que correm, pois com o Benfica a perder por 1-0 os “entendidos” dizem
que se deve colocar mais avançados.
O primeiro golo que salvou JJ e quiçá a gloriosa
época do Benfica foi marcado por Markovic (que logo aí mostrou que gosta
de flectir para o meio) com assistência de Djuricic na posição 8! O segundo
golo foi marcado por Lima, à ponta de lança (qual mobilidade, qual carapuça)
com ajuda preciosa de Luisão que ao seu lado chamou a si um dos defesas
centrais, o que permitiu a caprichosa execução de Lima, que como sabemos não
marca muitos golos de cabeça.
Raça, querer, ambição, competência e alguma
sorte, e eis o Benfica desta época bem espelhado no que foram as incidências
desse jogo com o Gil. O Benfica jogou a pensar na velocidade de Rodrigo
e Lima, e o que teve foi o oposto: 2 avançados manietados na sobre povoação do
ultimo terço do campo gilista. O Benfica quis pensar o jogo com qualidade e
jogadores acima de qualquer dúvida, mas foi
na raça das alternativas que conseguiu marcar. Ou seja, JJ fez um plano de jogo, saiu outro e
ganhamos na mesma!
Veio o jogo
com o SCP e lá esteve novamente o mesmo
4-4-2 em losango, e os mesmos 11 jogadores. A diferença foi que Cardozo já
tinha sido integrado porque toda a gente da Direcção percebeu que os 2
avançados móveis, Lima e Rodrigo, não
estavam a marcar. Desde a pré-época! Nem podiam, mas isso sou eu a dizer,
eu que não percebo nada disto. O SCP, animado por uma boa pré-época e 9 golos
marcados em 2 jogos, era favorito ante um Benfica psicologicamente debilitado e
sem opções produtivas no 4-4-2 losango. E marcou cedo o 1-0. Mas ficou-se por
aí, pois o Benfica soube manter alguma serenidade defensiva, fruto da
experiência de uns quantos jogadores com anos de casa e habituados a estas
rivalidades com o SCP. Um dos momentos do jogo foi a entrada de Cardozo aos 60
mn. JJ teve de redesenhar o seu 4-4-2, colocando Rodrigo ou Lima nas alas
(tinham saído Gaitan e Sálvio, ambos por lesão), e Cardozo como pivot atacante.
O suficiente para abrir uma pequena
brecha para Markovic (entrou para uma das alas) fazer o empate, o seu 2º
golo como suplente utilizado! Note-se que por lesão de Enzo Peres, o nosso meio
campo ficou com Matic e Ruben Amorim, dois jogadores que fazem as posições 6 e
8 (tornando o Benfica mais pressionante na defesa adversária), e se revezam!
Ficaram apreensivos os sportinguistas, ficamos
nós expectantes. Afinal era possível discutir o jogo com equipas mais
moralizadas, com mais golos marcados, com mais pontos, com tradição ganhadora,
mesmo estando nós a passar um mau bocado... (continua)
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